BRASÍLIA – Na visão do sócio-diretor da startup Elev, Ricardo David, o Brasil não deve transformar a corrida pela eletrificação em um cenário no qual apenas exportará commodities.
Em entrevista à agência epbr, o executivo afirmou que o país precisa de “políticas bem definidas” para assumir o protagonismo desse mercado.
“Não podemos fazer da eletrificação mais um cenário onde vamos exportar commodity. A gente precisa se desenvolver e ter políticas governamentais bem definidas para sermos protagonistas nisso”, defende David.
Entrando, na eletrificação, o país registrou um crescimento de mais de 20 mil emplacamentos de veículos eletrificados (totalmente elétricos, híbridos convencionais e híbridos plug-in) apenas no primeiro semestre de 2023.
A expectativa da startup brasileira de eletromobilidade é que a produção de veículos elétricos seja impulsionada pela chegada da montadora chinesa BYD ao Brasil.
A chinesa vai investir mais de R$ 3 bilhões em um complexo fabril, na Bahia, para a fabricação de eletrificados e processamento de minerais críticos para o mercado externo, com previsão de operação para 2024.
Para o sócio da Elev, o país está ingressando tarde na corrida pela transição das frotas, com a possibilidade de perder o protagonismo dessa cadeia.
“Estamos entrando tarde no ecossistema automobilístico do mundo. Se o Brasil não se apresentar como um país que tem condições de fazer parte dessa cadeia, ele pode ficar de fora”, afirma.
“Nós temos todos os componentes que formam a bateria de um carro elétrico. Temos tudo aqui dentro, não dependemos de importação”, completa.
Híbridos na rota para transição
Com a maior parte das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) provenientes do setor de transportes, a hibridização das frotas é vista, no Brasil, como a principal alternativa para a transição rumo à eletrificação.
Segundo o sócio-diretor da Elev, é preciso que o país estabeleça uma política que fomente, ao mesmo tempo, o uso de elétricos puros e híbridos movidos a etanol, sem descartar nenhuma rota tecnológica.
“Temos que usar o elétrico e o etanol. Nós não podemos prescindir de um e de outro […] É importante ter uma política governamental com a combinação dos dois”, defende.
Para ele, os híbridos também podem trazer vantagens em relação à disponibilidade de recursos para o abastecimento.
“Hoje no Brasil, um híbrido a etanol é um excelente agente de transição […] O consumidor vai exigir a infraestrutura de carregamento, no caso do plug-in, mas ele não vai ter medo de não ter onde carregar, porque ele vai no posto, abastece a álcool e pode andar tranquilamente”.
Infraestrutura precisa avançar
Quanto à infraestrutura de recarga, o Brasil possui cerca de três mil eletropostos públicos e semipúblicos instalados, com expectativa de aumento para 80 mil até 2030.
Os números são relevantes para o mercado de mobilidade elétrica no país, já que a ampliação dos pontos de carregamento pode reforçar a confiança dos consumidores na tecnologia, avalia Ricardo David.
“A infraestrutura no Brasil precisa crescer muito para dar confiança para tirar esse medo da conversão aos motoristas. O carro elétrico traz essa nova situação que precisa ser resolvida e que também tem solução”, diz o executivo.
Criada em 2021, a Elev é uma empresa brasileira de soluções para eletromobilidade. A startup oferece desde um aplicativo que identifica pontos de recarga pelo país até a instalação, planejamento e gerenciamento de eletropostos.
Contribuição social
Embora a adoção em larga escala de carros elétricos seja mais difícil de alcançar, a substituição de frotas, principalmente em transportes coletivos, tem o potencial de melhorar a qualidade de vida da população.
David explica que, em algumas cidades da América Latina, a troca de veículos a combustão para elétricos está reduzindo os preços das tarifas de locomoção.
“Algumas cidades estão experimentando uma notável transformação. Quem vai pegar ônibus nas cidades são as pessoas de baixa renda. Então, para quem precisa pagar pela tarifa, a eletrificação pode ajudar nesse aspecto”.
Ele cita como exemplo, Bogotá, na Colômbia, que já tem um planejamento de substituição integral de todos os veículos para elétricos. “Eles estão na frente nessa transição na América Latina, seguidos por Santiago, no Chile”.