A Transocean decidiu sucatear a sonda Ocean Rig Paros (a antiga Schahin Cerrado), encerrando o ciclo de vida da unidade construída em 2011 e que operou no Brasil, em campanhas da Petrobras no pré-sal. A unidade saiu de operação em meio ao processo de recuperação judicial da Schahin e foi retirada do país deixando para trás decisões judiciais, auditores da Receita Federal e a força-tarefa da Lava Jato.
A decisão da Transocean de sucatear a sonda chama a atenção pelo fato de a unidade ter sido comprada em 2016, por US$ 65 milhões. A Ocean Rig Paros é um navio-sonda de 6ª geração equipado para perfurar poços em águas profundas. No Brasil, foi utilizada para perfuração de sete poços, incluindo o início da campanha de delimitação de Libra (Mero), operado pela Petrobras.
Comprou para sucatear?
Por mais que chame a atenção o curto período entre a compra da Cerrado pela Ocean Rig em 2016, a posterior transferência do ativo para a Transocean, no ano passado, e a decisão de sucatear a unidade, é preciso lembrar que a partir da derrocada dos preço do petróleo, que começou em 2014, despencou também a demanda no mercado global de equipamentos de perfuração.
++ Transocean salva Ocean Rig de um lento descarrilamento, por David Carter Shinn
Com a aquisição da Ocean Rig, a Transocean não apenas reforçou sua frota de operação em águas profundas para o período de recuperação de atividades de perfuração, como tirou da jogada um player concorrente com uma frota quase toda desocupada de mais de dez sondas, aumentando o controle sobre a sobre oferta de equipamentos.
Analistas também apontam que o sucateamento da Paros/Cerrado significa uma baixa contábil de menor impacto no balanço da Transocean em comparação com unidades mais antigas, mas que foram compradas ou construídas por valores mais altos que os US$ 65 milhões pagos pela Ocean Rig.
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A Ocean Rig Paros (Schahin Cerrado) e sua unidade irmã, a Schahin Sertão, foram retiradas do Brasil, de surpresa, em 2015. Com a recuperação judicial da Schahin, credores da companhia, as empresas offshore Airosaru Drilling e a Dleif Drilling, conseguiram decisões judiciais favoráveis para assumir o controle das unidades.
Posteriormente, as decisões foram revertidas, mas a reintegração de posse temporária foi suficiente para que os sistemas automáticos de identificação (AIS) das unidades fossem desligados, na Bacia de Campos, e as sondas, navegassem para fora do país.
À época, o auditor da Receita Federal Roberto Lima, integrante da força-tarefa da operação Lava Jato afirmou que a retirada das unidades do país foi possível graças a uma “medida judicial engendrada” pelas empresas credoras. Com o “sumiço das sondas”, o bloqueio de bens pretendido pela Lava Jato perdeu o sentido – a Schahin era investigada por pagamento de propinas e, em 2017, Milton Schahin, sócio do grupo fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
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O tal sumiço, como o caso chegou a ser tratado na época, foi só das águas brasileiras. Logo após deixar o país, o sistema de localização foi religado e foi possível acompanhar a última viagem da Cerrado, que aportou em Aruba, depois foi transferida para Las Palmas e, arrematada pela Ocean Rig, terminou ancorada na Grécia.
Rebatizada para Paros, a Cerrado acabou na frota da Transocean, após a compra da Ocean Rig, em 2018. A Schahin Sertão, por sua vez, foi transferida para o Reino Unido, onde permaneceu, ao menos, até março do ano passado, quando foi feito o registro mais recente da sua localização. De acordo com dados da Bassoe Analytcs, a unidade ainda está ancorada no Reino Unido.
Às desventuras da Schahin, soma-se o cancelamento antecipado do contratos das duas unidades pela Petrobras, cujo faturamento era apontado como solução para o plano de recuperação da Schahin. A rescisão ocorreu em maio de 2015 e as chances de reversão na Justiça zarparam junto com as sondas poucos meses depois.
Em 2017, a Schahin tentou se reposicionar no mercado mudando seu nome para Base Engenharia. Foi na mesma época que uma decisão da Justiça Federal considerou nulo o acordo de arrendamento da sonda Vitória 10.000 da Petrobras para a Schahin, que operava a unidade de volta para a petroleira. A Petrobras retomou a sonda, última fonte de receita da Schahin, que teve sua falência decretada em março de 2018.
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