Nos últimos anos, as empresas brasileiras vêm enfrentando uma dificuldade crescente: o aumento contínuo das tarifas de energia elétrica. O que antes era um custo operacional relativamente previsível, agora se tornou uma das principais preocupações de gestores e empresários de diversos setores.
E não é para menos. A energia, que deveria ser um insumo estratégico para o crescimento, acabou se transformando em um dos principais gargalos para a sustentabilidade e competitividade dos negócios.
Para muitos de nós, que atuamos à frente de empresas, a questão vai além de simples números. Trata-se de encontrar soluções viáveis para continuar crescendo e atendendo bem nossos clientes em um cenário onde os custos energéticos são cada vez mais voláteis. Como manter a rentabilidade sem repassar esses aumentos para os consumidores? Como investir e expandir diante de tantas incertezas?
Essa realidade afeta negócios de todos os tamanhos e setores, e precisamos discutir de forma clara as alternativas e estratégias que podem nos ajudar a enfrentar esse desafio.
O impacto do aumento das tarifas de energia elétrica nas empresas é devastador. No setor industrial, principalmente na manufatura, que depende fortemente de energia elétrica, o custo pode representar até 40% das despesas operacionais, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Isso significa que qualquer reajuste significativo na conta de luz pode afetar diretamente a lucratividade e a capacidade de reinvestimento dessas empresas. Indústrias como a metalurgia e a fabricação de materiais de construção são exemplos claros de segmentos que vêm sofrendo bastante com esse cenário.
No comércio e no setor de serviços, o cenário não é muito diferente. Empresas de pequeno e médio porte, que muitas vezes operam com margens já apertadas, encontram dificuldades em absorver esses custos.
O resultado? A necessidade de repassar o aumento para os clientes, o que impacta na competitividade e, em muitos casos, leva à redução nas vendas. De acordo com uma pesquisa do Sebrae , 65% dos pequenos e médios empreendedores em 2023 consideraram o alto custo da energia como um dos principais obstáculos para o crescimento de seus negócios.
Além dos custos diretos, a imprevisibilidade desse gasto complica ainda mais o planejamento financeiro. Crises hídricas, como a que enfrentamos este ano, e a dependência de fontes de energia tradicionais (como as termelétricas, que são mais caras) tornam o cenário incerto e de difícil previsão. Empresas que não diversificam sua matriz energética, ou que não investem em eficiência, ficam ainda mais vulneráveis.
Se há uma palavra que define o cenário atual das tarifas de energia no Brasil, essa palavra é “imprevisibilidade”. Muitos de nós, que estamos à frente das decisões estratégicas das empresas, sabemos o quão essencial é a previsibilidade para o planejamento de longo prazo. Mas, no caso da energia, isso tem se tornado cada vez mais difícil.
A crise hídrica que vivemos este ano é um ótimo exemplo de como eventos inesperados podem agravar a situação. Com a falta de chuvas e o consequente acionamento de usinas termelétricas, os custos de energia dispararam. As bandeiras tarifárias, como a de escassez hídrica, adicionaram 6,78% aos custos das empresas, pressionando ainda mais as finanças.
Essa instabilidade é resultado, em parte, da nossa dependência de fontes de energia tradicionais e da falta de investimentos adequados em soluções inovadoras como armazenamento de energia e usinas reversíveis.
Se continuarmos nessa trajetória, é difícil enxergar como as empresas conseguirão manter a competitividade e, ao mesmo tempo, garantir um crescimento sustentável.
Diante desse cenário desafiador, o que podemos fazer para mitigar os impactos dos altos custos de energia? Algumas alternativas têm se mostrado eficazes e merecem nossa atenção.
Uma das opções que vem ganhando destaque é a migração para o mercado livre de energia. Nesse modelo, as empresas podem negociar diretamente com os fornecedores de energia, o que permite maior controle sobre os preços e previsibilidade nos contratos.
Muitas empresas que fizeram essa migração já relataram reduções significativas nas despesas energéticas, além de maior flexibilidade para gerenciar esses custos.
Apesar dos benefícios, a migração para o mercado livre ainda enfrenta algumas barreiras, especialmente para pequenas e médias empresas, que nem sempre têm o conhecimento técnico ou os recursos necessários para essa transição. No entanto, vale a pena explorar essa opção com mais atenção, sobretudo para quem deseja maior controle sobre seus custos operacionais.
Outra solução que deve ser considerada é o investimento em fontes de energia renováveis, como a solar ou eólica. Embora esse tipo de investimento exija um custo inicial mais elevado, os retornos de longo prazo são promissores.
A geração de energia própria, seja por meio de painéis solares ou mini usinas, pode reduzir drasticamente a dependência do sistema elétrico nacional e dos seus constantes reajustes.
Além de ser uma solução econômica, a energia renovável também agrega valor à marca da empresa, que passa a ser vista como uma organização comprometida com a sustentabilidade e com práticas ambientalmente responsáveis.
Por fim, não podemos deixar de falar da eficiência energética. Muitas vezes, pequenas mudanças nos processos internos podem gerar economias significativas. Investimentos em equipamentos mais eficientes, automação e revisão de processos podem reduzir o consumo de energia sem a necessidade de grandes aportes financeiros.
A adoção de práticas de eficiência energética é uma estratégia que pode ser aplicada por empresas de qualquer porte, e que, além de reduzir os custos, melhora a sustentabilidade e a gestão de recursos da empresa.
A crise no custo de energia elétrica é um desafio real e presente para as empresas brasileiras. Seja na indústria, no comércio ou nos serviços, todos estamos sendo impactados.
No entanto, a resposta para esse desafio não está apenas em cortar custos, mas em encontrar soluções inteligentes e estratégicas que nos permitam crescer de forma sustentável.
Migrar para o mercado livre de energia, investir em fontes renováveis e adotar práticas de eficiência energética são caminhos que podem nos ajudar a enfrentar essa crise. No fim das contas, cabe a nós, líderes empresariais, sermos proativos na busca por alternativas, garantindo a longevidade e a competitividade de nossos negócios.
Este é o momento de agir.
Marcio Sant’Anna é co-CEO e fundador da Ecom.