Com informações do G1 e da Folha de S. Paulo
A Força Aérea Brasileira (FAB) desembarca na noite desta sexta (6) novos equipamentos para tentar acelerar o reparo da subestação (SE) Macapá, onde um transformador explodiu, deixando a capital e outros 13 municípios do Amapá sem luz. A operação ocorre 72 horas depois do início do apagão.
Sem o suprimento regular de energia elétrica desde a noite de terça (3), Macapá sofre com o desabastecimento de água, comida e combustível. Com mais de 510 mil habitantes, a capital abriga 60% da população do estado.
Uma aeronave C-130 da FAB decolou na tarde desta sexta (6) do Rio de Janeiro para recolher equipamentos necessários para a purificação de óleo de um dos transformados da subestação e transportar de São Luís (MA) para Macapá.
Dois transformadores foram destruídos, mas um terceiro pode voltar a operar emergencialmente, após a troca do óleo, que perdeu sua condição operacional em decorrência do incêndio.
Hoje (6/11), um C-130 Hércules da #FAB decolou de São Luís/MA com destino a Macapá/AP transportando equipamentos que serão utilizados para o restabelecimento do fornecimento de energia no Amapá.
Acesse https://t.co/QObBaK0bco e saiba mais.@DefesaGovBr @Minas_Energia pic.twitter.com/GAhHC44Hua— Força Aérea Brasileira ?? (@fab_oficial) November 7, 2020
A expectativa do MME é que entre hoje e amanhã o equipamento volte a funcionar, elevando a carga disponível no estado para 70% em relação a um patamar normal. Os trabalhos começaram ontem, com equipamentos transportados por balsa, do Amazonas.
O ministro Bento Albuquerque afirmou, em reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), que será possível restabelecer o atendimento integral ao estado em dez dias, menor do que os 15 dias incialmente previstos. A operação normal, com conclusão de todos os reparos, deve durar um mês.
Amapá é tem mais de 6 mil casos de covid-19 por 100 mil habitantes
Os hospitais estaduais estão funcionando com energia de geradores a óleo diesel. O Hospital da Mulher Mãe Luzia (HMML), na capital, única maternidade pública do estado, chegou a ficar sem energia. De acordo com informações de funcionários, eram 18 bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal.
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) destinadas ao atendimento de casos de covid-19, seguem funcionando na capital com uso de geradores, duas delas por 24 horas e uma com horário reduzido, até às 19h.
“O município continua com a mobilização para levar um gerador para a [terceira] unidade”, informou a prefeitura.
Segundo o último boletim da covid-19 de Macapá, “devido à falta de energia, a Vigilância Epidemiológica do município busca pessoalmente no Hospital Universitário, Hospital de Emergência, Hospital das Clínicas Alberto Lima, UPA’s, Maternidade Mãe Luzia e UBS Covid informações sobre pacientes confirmados com coronavírus, óbitos nos últimos dias e investigações epidemiológicas”.
O município de Macapá tem 20.482 casos positivos de covid-19, 27 óbitos confirmados e 71 seguem em investigação epidemiológica. Ontem, foi registrado um óbito com diagnóstido da doença. As três UBS Covid atenderam 351 pacientes, realizaram 116 testes rápidos, e confirmaram 33 novos casos.
Segundo dados da plataforma colaborativa Brasil.io, o Amapá tem 6,131 mil casos de covid-19 por 100 mil habitante. É mais que o Amazonas (3,899 mil/100 mil hab.) e o número nacional, de 2,661 mil casos/100 mil hab. A letalidade da doença no estado é menor.
Nesta sexta, três dias após o incidente, a prefeitura de Macapá ainda tinha dificuldades para conseguir caminhões pipas suficientes para abastecer as áreas mais críticas. Escolas da rede municipal estão disponibilizando o sistema de abastecimento dos prédios para distribuir água à população.
A água distribuída poderá ser utilizada para higiene pessoal e serviços domésticos.
A Prefeitura de Macapá está realizando o abastecimento em bairros em que a população não está com acesso a qualquer tipo de distribuição de água. pic.twitter.com/1ZogHVNowM— Prefeitura de Macapá (@PMMacapa) November 6, 2020
Além da falta de água, o município enfrenta problemas no abastecimento de supermercados, em especial de carnes, e combustível nos postos.
“Que sejam distribuídas cestas básicas para a população (…) As pessoas começam a ter dificuldades de acesso a alimentos”, cobrou o senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues (Rede).
Ele pediu a instauração de inquérito policial por parte da Polícia Federal para que se averigue as responsabilidades do Operador Nacional do Sistema (ONS) e demais agentes envolvidos na operação da subestação.
A SE faz parte da concessão de transmissão da Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), uma operação daGemini Energy, controlada pela Starboard Partners. Originalmente, a concessão foi contratada pela Isolux, reestruturada em 2019, após a aquisição pela Starboard,
Nesta sexta-feira (6), o presidente do Senado, @davialcolumbre, se reuniu com o ministro de Minas e Energia (@Minas_Energia), Bento Albuquerque, para tentar viabilizar uma solução mais rápida para restabelecer a energia no Amapá. pic.twitter.com/sHZ1PsSGMJ
— TV Senado (@tvsenado) November 6, 2020
Ontem (5), o prefeito Clécio Luis (sem partido) decretou estado calamidade pública por 30 dias e emitiu decreto que estende os horários de funcionamentos de postos de combustíveis para 24 horas.
O governador do estado, Waldez Góes (PDT), assinou o decreto de situação de emergência, junto à Defesa Civil Nacional e Estadual, para possibilitar a liberação de recursos.
Nos últimos dias, filas se formaram não só para abastecer os automóveis, como também para comprar água e até mesmo carregar os celulares, uma vez que parte dos postos possuem geradores.
Tomadas dos shoppings da cidade também vem sem sendo utilizadas pela população para carregamento das baterias dos telefones. Supermercados com geradores chegam a cobrar R$10 para carregar os aparelhos.
Relatos da população apontam que não é possível retirar dinheiro dos caixas eletrônicos e há dificuldades de acesso à internet. Os semáforos da capital estão desligados e outros operando em modo intermitente.
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Linha do tempo
- Terça (3), às 20h47: desligamento automático da SE Macapá 230/69 kV (LMTE) e das UHEs Coaracy Nunes (Eletronorte, 37 MW), Ferreira Gomes (Ferreira Gomes Energia, 27 MW) e Cachoeira Caldeirão (Cachoeira Caldeirão, 30MW). Explosão e incêndio em um dos transformadores da SE, o TR-1 230/69 kV. O TR-2 já estava indisponível para manutenção corretiva, sem previsão de retorno;
- Quarta (4), às 06h09: Restabelecimento parcial da cargas a partir da Coaracy Nunes, incialmente com entrega de 13 MW de carga.
- Quarta (4), fim do dia: Bento Albuquerque embarca para o Amapá em comitiva do MME, com Aneel e ONS. Gabinete de crise é formado. Cerca de 85% da população do estado sofre com a falta de energia.
- Quinta (5): é possível restabelecer a carga para 40 MW. Força-tarefa com Eletronorte, FAB e agentes do governo iniciam plano para levar equipamentos para reparo de um dos transformadores, além de geradores para atendimento emergencial. Equipamentos precisam ser transportados de outros estados. Prefeito de Macapá, Clécio Luís (sem partido) decreta estado de calamidade.
- Sexta (6), pela manhã: ao menos 14 dos 16 municípios do Amapá ainda são afetados pela falta de energia há mais de 60 horas. MME espera concluir reparos no transformar para elevar a carga para 70%. Bento Albuquerque afirma que a situação será completamente normalizada em 10 dias.
- Sexta (6), fim do dia: apagão completa 72 horas. Aeronave C-130 Hércules, da FAB, embarca equipamentos para acelerar a entrada em operação emergencial de um dos transformadores da SE Macapá. Um KC-390 foi deslocado de Roraima para transportar 4 geradores até Macapá e atender, de forma emergencial, as atividades essenciais determinadas pelo governo do estado.
A SE Macapá é o ponto vital de conexão do Amapá com o Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia elétrica. As fontes principais são usinas hidrelétricas locais, mas elas também estão conectadas à SE Macapá, que faz a redução da tensão de 230 kV para 69 kV, e entrega a energia para a rede de distribuição da CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá), controlada pelo governo do estado.
Crise às vésperas das eleições municipais
A crise ocorre há menos de duas semanas do primeiro turno das eleições municipais. Candidatos à Prefeitura de Macapá foram as redes sociais para cobrar ações.
“Exigimos respostas do poder público com a explicação das razões que nos levaram a esse caos e com ações objetivas como distribuição de água potável, fornecimento de alimentos e apoio para diminuir o sofrimento do povo”, afirmou o primeiro colocado nas pesquisas, Joao Capi (PSB).
Josiel Alcolumbre (DEM), segundo colocado nas pesquisas e irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou ser inaceitável um “apagão” de três dias, e que o problema é resultado de disputas políticas.
“Décadas de brigas políticas fizeram com que um sinistro provocado por um fenômeno da natureza levasse todo esse tempo sem solução. Precisamos unir esforços e aproveitar esse momento de oportunidades para resolver os problemas de infraestrutura e outras limitações estruturais da nossa capital”, disse.
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O incêndio na subestação da LMTE ocorreu em meio a uma tempestade de raios, mas isso não é suficiente para concluir que foi causado exclusivamente por causas naturais. O próprio ministério de Minas e Energia não atribui o problema à queda dos raios.
Cabe ao Operador Nacional do Sistema (OSN) investigar as causas e o por que de os sistemas de proteção da subestação não terem evitado o problema. A Aneel, agência federal do setor, será responsável pela análise e eventual decisão sobre punições.
Já o candidato do PSOL, Claudio Lemos, afirmou que a situação é gravíssima e que “os culpados precisam ser responsabilizados”.
“Fila pra comprar gelo, fila pra comprar água, combustível e etc. precisamos de uma solução urgente”, relatou.
O governo do Amapá definiu uma plano de ação que inclui a contratação de geração de energia emergencial para atender áreas mais afetadas; distribuição de agua potável para a população; combustível para abastecimento de geradores; e aquisição de hipoclorito, para purificação de água, que será para distribuído à população.
“Paralelo à isso, seguimos cobrando do Governo Federal e da ONS o mais breve restabelecimento no fornecimento de energia nos 13 municípios que foram afetados por esse desastre”, afirmou Waldez Góes nas redes sociais.
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