Reforma do setor

Distribuidoras veem riscos na expansão da tarifa social sem corte de subsídios

Adiamento na discussão sobre encargos pagos pelos consumidores na MP 1300 desagrada associações do setor elétrico

Conexão de sistemas de geração distribuída à rede dobra em dois anos, diz Abradee. Na imagem, Marcos Aurélio Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) (Foto: Pedro França/Agência Senado)
Presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Aurélio Madureira (Foto: Pedro França/Agência Senado)

BRASÍLIA — A Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee) vê como um risco a possibilidade de a medida provisória 1300/2025 ser fatiada e aprovada no Congresso apenas com a ampliação da tarifa social, sem discutir os subsídios.

O prazo de vigência da MP termina em 19 de setembro e a comissão mista que analisará o texto sequer foi instalada. O senador Eduardo Braga (MDB/AM) cancelou a reunião na última semana.

Com menos de 30 dias para a análise, as distribuidoras de energia elétrica entendem que a gratuidade na conta de luz para famílias carentes com consumo de até 80 kilowatts/hora (kWh) aumentará a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) em cerca de R$ 7 bilhões.

“Nós estamos preocupados com o risco de ser aprovada apenas a parcela que já está em implantação, que é a tarifa social. Não que a tarifa social não seja importante para os consumidores, mas traz aumento de custos para a população”, disse o presidente da Abradee, Marcos Madureira.

A expansão do subsídio passou a valer em julho, após aprovação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Nas estimativas da Abradee, 68 milhões de clientes do total de 92 milhões de consumidores no país pagam a maior parte dos encargos da CDE, o que gera um desequilíbrio.

“Cerca 18 milhões de consumidores que estão na tarifa social, e 6,5 milhões de consumidores inseridos na geração distribuída, e alguns que migraram para o mercado livre com benefício, desconto da energia incentivada, não estão pagando pelo sistema elétrico”, afirmou.

O governo federal editou ainda a MP 1304/2025, conhecida como MP dos Vetos. O texto derrubou a contratação compulsória de térmicas a gás natural, manteve um cronograma para leilões de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e criou um teto para a CDE com base nos valores que forem aprovados em 2026.

Com o prazo curto em relação à vigência da MP 1300, o debate sobre a limitação de subsídios pode ser transferido para a tramitação da MP 1304. Ao todo, os dois textos receberam mais de mil propostas de emendas.

Apresentada em julho, a medida provisória tem um dispositivo que limita o teto da CDE a partir de 2027. Embora considere positiva a iniciativa de frear subsídios, Madureira acredita que é preciso aprimorar o texto.

“Nossa preocupação é muito em relação ao prazo, porque como está posto na MP 1304, se estabelece como referência o orçamento da CDE em 2026, que ninguém sabe o que vai ser. Então, no nosso entendimento é que deve ser o ano 2025 como referência”, disse.

Entidades vêem riscos

O presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico (Fase), Mário Menel, também vê problemas relacionados aos prazos da MP 1300.

“O problema não é o relatório, porque eu conheço o deputado Fernando Coelho Filho [relator do texto], mas nas discussões posteriores sobre quais emendas devem entrar ou não. É uma preocupação com a exiguidade do tempo em uma pauta complexa”, disse.

Menel entende que a demora na análise da medida provisória compromete a segurança jurídica e pode afastar investidores do Brasil.

“A própria continuidade da expansão da tarifa social é incerta com o fim da vigência. Tudo tem um alto grande incerteza e afeta investimentos”, disse.

O presidente do Fase cita ainda o fim dos descontos nas tarifas de uso de sistemas de distribuição e transmissão (TUSD e TUST) como instrumentos que precisam de maior debate no âmbito das medidas provisórias.

O Instituto Nacional de Energia Lima (Inel) lembra que a tramitação da MP é uma oportunidade de debater medidas estruturantes para o setor elétrico.

O Inel entende que o prazo de pouco mais de um mês até o fim da validade é insuficiente para a complexidade do debate.

“A pressa nesse processo ameaça a segurança jurídica, abre espaço para judicializações e pode comprometer investimentos em energia limpa, com risco de quebra de contratos, desvalorização de ativos e paralisação de novos empreendimentos”, afirmou a entidade em nota.

O instituto defende que as mudanças precisam ser conduzidas com transparência, previsibilidade e diálogo.

“Defendemos a imediata instalação da comissão mista, um calendário de audiências públicas e a construção de consensos que assegurem uma transição justa, segura e sustentável para o país. Aprovar a MP 1300 sem o devido amadurecimento técnico e político é expor o setor elétrico a um novo ciclo de instabilidade regulatória”, concluiu.

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