Eleições 2022

Deputados da oposição se unem para impedir privatização da Eletrobras

Grupo de parlamentares do PT, PSB, PDT, PCdoB, PSOL e da Rede pede ao TCU a suspensão da capitalização da estatal

Deputados da oposição se unem para impedir privatização da Eletrobras. Na imagem, fachada de um prédio da Eletrobras
Deputados da oposição se unem para impedir privatização da Eletrobras

RIO — Um grupo de 16 deputados federais de partidos da oposição protocolaram nesta terça-feira (17/5) um pedido no Tribunal de Contas da União (TCU) para suspensão da privatização da Eletrobras. A previsão é que o julgamento sobre a modelagem da capitalização da estatal elétrica seja retomado na quarta-feira (18/5).

Parlamentares do PT, PSB, PDT, PCdoB, PSOL e da Rede estão entre os signatários do pedido. Eles alegam um “iminente perigo desta operação para as finanças da Eletrobras e do erário público”.

O governo espera realizar a oferta de ações da empresa até julho.

No mesmo dia, deputados do PT entraram com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão das diligências necessárias à privatização (na íntegra, em .pdf).

Os petistas tentam impedir a retomada do julgamento da capitalização da estatal no TCU, sob a alegação de que o Ministério de Minas e Energia (MME) não divulgou os estudos sobre o impacto tarifário da privatização — e sim um resumo técnico.

O que alegam os deputados

O pedido entregue ao TCU é assinado por: Afonso Florence (PT/BA); Alencar Braga (PT/SP); André Peixoto Lima (PDT/CE); Daniel de Almeida (PCdoB/BA); Danilo Jorge de Barros Cabral (PSB/PE); Elvino José Bohn Gass (PT/RS); Henrique Fontana (PT/RS); Ivan Valente (PSOL/SP); Jandira Feghali (PCdoB/RJ); Joenia Batista Carvalho (Rede/RR); Maria Perpétua de Almeida (PCdoB/AC); Paulão (PT/AL); Sâmia de Souza Bomfim (PSOL/SP); Ubirajara do Pindaré Almeida Sousa (PSB/MA); Viviane da Costa Reis (PSOL/PA); e Wolney Queiroz Maciel (PDT/PE).

Os parlamentares do PT, PSB, PDT, PCdoB, PSOL e da Rede apontam uma série de questionamentos à privatização da Eletrobras, dentre os quais:

  • A simulação sobre o impacto tarifário da privatização, apresentada pelo Ministério de Minas e Energia, não traz “qualquer memória de cálculo”. Os parlamentares solicitam que, antes do julgamento definitivo do TCU, a Aneel apresente os estudos, já que a agência se trata de órgão regulador e, diferentemente do MME, não é parte interessada no processo;
  • O processo não avalia os impactos, para os consumidores, dos “jabutis” introduzidos na lei que autoriza a capitalização — como a contratação obrigatória de 8 GW de térmicas a gás. Os deputados pedem que a Aneel recalcule o impacto tarifário para os usuários cativos e livres, levando em consideração todas as obrigações estabelecidas na legislação;
  • O grupo pede também a reabertura da Consulta Pública do MME para a revisão ordinária das Garantias Físicas das hidrelétricas da Eletrobras, considerando-se os dados atualizados de vazão, usos consuntivos — que envolvem o consumo direto da água — e outros de responsabilidade da Agência Nacional de Águas;
  • As cláusulas de poison pills — mecanismo que visa a desencorajar aquisições hostis de empresas listadas em bolsa de valores — têm como única prejudicada a União e não estão previstas na Lei nº 14.182/21, de autorização da privatização. Os deputados solicitam a supressão da regra;

Os parlamentares da oposição fazem considerações também sobre o cálculo do preço mínimo das ações da companhia e pedem para que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também se manifeste sobre a alteração da política contábil de provisionamento de contingências implementada pela Eletrobras nas suas demonstrações financeiras do terceiro trimestre de 2021 e seus eventuais impactos em relação à oferta pública.

Eles alegam que, no dia 11 de maio, o TCU aprovou a proposta de fiscalização apresentada pelo ministro Vital do Rêgo, para avaliar a alteração na política de provisionamentos relativos a litígios judiciais decorrentes dos empréstimos compulsórios de energia elétrica.

A mudança, defendem os deputados, “prejudica enormemente a União, que deixará de receber vultosos dividendos em 2021”.

“É importante ressaltar que mesmo que haja reversão de provisionamento, no futuro, caso ocorra a privatização da Eletrobras, o governo brasileiro deixará de receber uma parcela considerável desses dividendos, já que sua participação acionária será reduzida de 72% para 45%”, argumentam.

As idas e vindas da privatização da Eletrobras

Esta não é a primeira tentativa do PT de impedir a privatização da estatal elétrica na Justiça. Em abril, petistas moveram uma ação popular na Justiça Federal de Brasília para paralisar a venda da estatal, baseando-se em uma subavaliação de R$ 46 bilhões da empresa.

A ação se baseava na divergência do ministro do TCU, Vital do Rêgo, que apontou uma subavaliação de R$ 46 bilhões no valor da empresa. O voto vencido do ministro contestava o fato de o governo ter desconsiderado o valor da comercialização futura da potência das usinas da Eletrobras, entre outros itens da modelagem. A tese foi vencida no plenário do Tribunal de Contas.

No início do mês, em mais um capítulo do processo de privatização da companhia, Vital do Rêgo solicitou à Eletrobras mais informações sobre a estatal. 

O ministro solicitou informações sobre parcelas do empréstimo compulsório de energia criado pela Lei 5.824/1972. E questionou os valores e se as parcelas foram usadas no projeto da hidrelétrica de Itaipu e/ou no respectivo sistema de transmissão.

Ele também pediu, por subsidiária, o valor que a Eletrobras solicitou à Aneel como indenização complementar para atividades de geração, conforme definido no Decreto nº 7.850/12 e na Resolução 596/13, da agência. Além disso, o ministro solicitou uma série de documentos, como comunicados ao mercado, ata do Conselho de Administração, proposta da administração para a Assembleia Geral Ordinária e fatos relevantes.

Para o governo, as ações de Vital do Rêgo têm motivações políticas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, mencionou, em abril, um suposto telefonema de Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato à presidência pelo PT, ao membro do TCU.

Vital do Rêgo rebateu e disse conhecer as “pressões exógenas e poderosas sobre a Corte e que nunca se curvou ante essas ações”.

Relembre: Em dezembro, o ministro já havia pedido vista ao relatório do ministro Aroldo Cedraz, adiando por 60 dias a aprovação da primeira etapa do processo de privatização, sobre os valores da outorga da operação;

Em fevereiro, o tribunal de contas aprovou a primeira fase da capitalização com a modelagem proposta pelo governo. Voto contrário de Vital do Rêgo defendeu revisão do valor da capitalização para R$ 130 bilhões;

Em abril, o TCU retomou o julgamento da segunda fase do processo, sobre a modelagem da capitalização. Mais uma vez Vital do Rêgo pediu vistas.

A presidente do TCU, ministra Ana Arraes, concedeu, na ocasião, no entanto, vistas coletivas de 20 dias ao colegiado para analisar a capitalização da estatal. A medida evitou um adiamento ainda maior da análise, uma vez que Vital do Rêgo pedia vistas de até 60 dias.