MP 1232

Aneel rejeita plano da Âmbar e aprova proposta contrária a parecer da procuradoria para transferência da Amazonas Energia

Segue pendente a autorização da conversão de contratos de energia de reserva, medida que reduziria os custos operacionais da distribuidora

Sandoval Feitosa participa de audiência pública da CME sobre aumento abusivo da tarifa de energia elétrica do Pará, em 24/8/2023 (Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Sandoval Feitosa participa de audiência pública da CME sobre aumento abusivo da tarifa de energia elétrica do Pará, em 24 de agosto de 2023 | Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados

BRASÍLIA – A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chegou a uma decisão sobre a transferência de controle da Amazonas Energia, que na prática rejeita os planos apresentados pela Âmbar Energia

Após a mudança no voto do diretor-geral Sandoval Feitosa, na reunião desta terça (1/10), um empate foi desfeito e a agência vai propor à Âmbar Energia que assine em 24 horas um contrato com condições propostas pela área técnica da Aneel. 

O plano passaria então a contemplar a transferência à Âmbar de despesas que seriam assumidas pela Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) da ordem de R$ 8 bilhões, por 15 anos.

A Âmbar havia proposto um primeiro plano que totalizava R$ 15,9 bilhões e, na semana passada, revisou para R$ 14,1 bilhões.

Toda a discussão, no fim das contas, ocorre em torno de decisões liminares, que ainda podem ser revertidas pela Advocacia-Geral da União (AGU).

“Se a empresa aceitará ou não, é uma decisão da empresa. Há a discussão judicial, a qual a empresa está buscando seus direitos e que a Aneel, através da AGU, está buscando se defender”, disse Feitosa, após a reunião. 

Os diretores não discutiram, contudo, o outro empate resultante da reunião extraordinária de sexta (27/9), na conversão de contratos de térmicas, que foram compradas da Eletrobras, pela Âmbar Energia.

Essas medidas são previstas na MP 1232, que caduca em 10 de outubro, e prevê um regime para transferir o controle da distribuidora do Amazonas, comprada pela Oliveira Energia em 2018 e acumula dívidas acima de R$ 10 bilhões.

Após a análise da proposta, a Âmbar informou que não tem interesse em aderir aos termos propostos pela Aneel. A empresa afirmou, em nota divulgada nesta quarta-feira (2/10), que a decisão da agência inviabiliza a recuperação financeira da Amazonas Energia.

Decisão contrariou parecer da procuradoria 

A Justiça Federal do Amazonas determinou, por meio de liminar publicada na semana passada, que Aneel teria 48 horas para concluir a aprovação da transferência do controle e da conversão dos contratos das usinas térmicas, o que não ocorreu. 

A liminar levou ao voto divergente da diretoria Agnes da Costa, pelo cumprimento da decisão judicial e consequente aprovação do plano mais recente apresentado pela Âmbar. 

Ricardo Tili e Fernando Mosna votaram por rejeitar o plano e aprovar a transferência nos termos propostos pela área técnica, mas a procuradoria da agência entende que essa alternativa não atende à execução da liminar. 

Ainda assim, foi a proposta que prevaleceu, com a mudança no voto de Feitosa, que havia acompanhado Agnes da Costa, na sexta (27/9).

O procurador-geral da Aneel, Raul Lisbôa, afirmou na reunião de hoje que caberia ao diretor-geral votar com um entendimento jurídico contrário, mas manteve a posição anterior.

“Entendo que ao diretor-geral cabe entender que aprova a nota técnica 184 [proposta da área técnica] e, dessa forma, ele está cumprindo a decisão judicial. Esse não é, contudo, o entendimento posto no parecer de força executória”, disse Lisbôa. 

“Mas eu reforço por dever de ofício: a única forma de cumprimento do parecer de força executória exarado nesse processo é o acolhimento da proposta da empresa”, conclui. 

Segundo Lisbôa, a Aneel manifestou à Justiça Federal do Amazonas o entendimento que, a partir da assinatura do contrato, a ação judicial perderá o objeto.

A agência está com apenas quatro diretores em razão da não designação de diretores-substitutos pela Presidência da República ou a nomeação do definitivo – o nome precisa ser enviado pelo governo e aprovado pelo Senado Federal.

“A minha preocupação, enquanto diretor-geral da agência, é mostrar para a sociedade brasileira que a Aneel busca solução, em que pese toda a dificuldade que temos de chegarmos a uma decisão”, disse Feitosa.

Contrato vai prever renúncia de direitos

Ao cabo, os três diretores Feitosa, Mosna e Tili votaram por aprovar o plano de transferência nos “estritos termos da NT 188/2024, facultando os interessados a assinar o contrato em até 24h e da renúncia expressa de direitos pré-existentes”. O objetivo é encerrar a disputa judicial. 

O texto final da decisão ainda não está disponível.

A Aneel também recorreu a um artigo da própria MP 1232: “No advento da transferência de controle societário, tanto o novo controlador quanto o atual devem renunciar a eventuais direitos preexistentes contra a União relativos à concessão, decorrentes de eventos anteriores à transferência de controle”.

“Com a renúncia, não há a necessidade de manifestação do juízo”, acrescentou Fernando Mosna, citando um artigo do jurista Marcus Vinicius Furtado Coêlho.

Empate na conversão dos contratos das térmicas

Com os empates – e ainda permanece o descumprimento da liminar no caso das térmicas –, a Amazonas Energia pediu à Justiça que, em caráter extraordinário, os votos do diretor-geral, Sandoval Feitosa, servissem de desempate. Seria aprovado o plano da Âmbar e a conversão dos contratos das seis térmicas.

Nenhuma decisão foi tomada pela Justiça Federal do Amazonas desde então, segundo informações públicas do processo. 

A distribuidora ainda requer que, em caso de descumprimento, os diretores sejam afastados, com nomeação de um interventor pelo Ministério de Minas e Energia (MME). “Além de prisão dos agentes por crime de desobediência”, diz na manifestação.

Feitosa reconheceu que o problema das térmicas persiste, mas disse a jornalistas que houve avanços em relação à autorização para que a Âmbar assine um contrato para assumir as operações da Amazonas Energia.

“Então, de fato, há uma certa interligação entre as duas decisões. O que nós fizemos foi o limite do possível. O limite do possível foi termos uma decisão por maioria na transferência do controle. No caso da conversão dos contratos, infelizmente não conseguimos chegar a um consenso”.

A MP 1232/2024 prevê a conversão de contratos de térmicas que atendem à Amazonas Energia e são credoras da distribuidora endividada. A Âmbar comprou as térmicas antes da edição da medida.

A mudança de contratos de compra e venda de energia em contratos de energia de reserva levaria à redução dos custos operacionais da Amazonas Energia, que atualmente tem um excesso de energia contratada. 

Mas os gastos seriam transferidos a todos os consumidores regulados, passando a servir como lastro do sistema elétrico. 

Na reunião extraordinária da sexta (27/9), Agnes da Costa e Feitosa votaram pela conversão das seis usinas envolvidas no caso; Tili e Mosna, por cinco térmicas, sob a justificativa que haveria um risco inverso, de subcontratação da distribuidora.