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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Enquanto o Brasil discute uma série de políticas para incentivar o desenvolvimento de uma nova indústria, capaz de ofertar ao mundo produtos que atendem anseios por menos carbono e mais sustentabilidade, precisa também superar o desafio de comunicar e garantir o reconhecimento de esforços que foram feitos até aqui, analisa Gustavo Checcucci, diretor de energia e descarbonização industrial da Braskem.
“Muito dessa descarbonização na indústria o Brasil já fez e já pagou por isso. Comparativamente, a gente é muito mais renovável do que lá fora. Este é um fator que tem que ser levado em conta nessa discussão”, defende Checcucci, em entrevista à agência epbr.
Ele cita como exemplo o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), criado em 2002 para estimular empreendimentos eólicos, de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A conta foi paga a partir de um encargo rateado entre todos os agentes do Sistema Interligado Nacional (SIN).
“O Proinfa, que foi pago pela indústria ao longo dos últimos anos, foi para incentivar exatamente o cenário que temos hoje, ou seja, a energia eólica e solar que hoje é muito competitiva foi consequência de um programa implementado [mais de] 20 anos atrás”.
Para o diretor, é importante que o ambiente regulatório brasileiro, seja no incentivo às novas fontes, como o hidrogênio de baixo carbono, ou à transição da indústria, com o mercado de carbono, busque a competitividade da cadeia produtiva nacional e fuja dos subsídios cruzados.
- Checcucci conversou com a agência epbr em junho, antes da aprovação do marco legal do hidrogênio, que prevê créditos fiscais de R$ 18,3 bilhões entre 2028 e 2032.
“Temos um desafio. [Conseguimos reduzir] cerca de 800 mil toneladas de CO2 [com projetos] já implementados ou em processo de implementação [pela Braskem], tudo isso foi com base em competitividade, renovabilidade, flexibilidade e confiabilidade. Mas eu posso chegar daqui a pouco em um cenário que os projetos não param de pé sob a ótica da competitividade. O mercado de carbono incentiva e precifica isso”, defende.
Meta global, estratégias regionais
O grupo petroquímico que tem a maior parte das suas operações no Brasil, mas também atua nos Estados Unidos, México e Alemanha, desenvolveu um programa de descarbonização global, de olho na neutralidade de carbono até 2050.
Até 2030, a meta é reduzir 15% das emissões de escopos 1 e 2 (operações e consumo de energia), em relação à média 2018-2020, o que significa um corte de quase 11 milhões de toneladas de CO2 no período.
As estratégias são muitas – substituir fósseis como insumos, eletrificação, investimentos em renováveis e novas tecnologias, por exemplo – e variam de acordo com os mercados onde a empresa atua. Isso porque políticas públicas e incentivos diferentes abrem oportunidades diferentes, observa o executivo.
“Um grande ponto de atenção é que estamos vendo claramente um avanço de países como os Estados Unidos, que colocou através do IRA (Lei de Redução da Inflação) US$ 400 bilhões de investimentos. É dinheiro público que está sendo dado como incentivo. Europa e Canadá também estão dando vários incentivos”.
“No caso do Brasil, as políticas têm que ser vistas como políticas incentivadoras e não penalizadoras. Tem que ter cuidado para que não haja subsídios cruzados, porque não adianta nada fazer uma política de incentivo trazendo esse custo de volta para a grande indústria. Não dá você fazer um subsídio cruzado em que você bote o custo de uma política dentro do preço da energia elétrica de volta, não ajuda nada”, completa.
Do fóssil para o renovável
Por ser uma indústria petroquímica, os principais insumos da Braskem vêm do petróleo: nafta e etano, matérias-primas fósseis usadas na fabricação de resina termoplástica.
Em meio à pressão global por reduzir o consumo de combustíveis fósseis, a petroquímica enfrenta o desafio de encontrar novas fontes para a produção de resinas que são a base da maior parte das embalagens que consumimos.
A estratégia da Braskem passa por três pilares: continuar crescendo e ao mesmo tempo descarbonizar a produção a partir de fósseis; transformar a indústria a partir de derivados de biomassa (biobased); integrar a economia circular aos processos e reciclar a resina termoplástica.
“A gente tem um objetivo de mudar a nossa indústria química, de sair dessa origem fóssil e ir para a origem que a gente chama de renovável, que é o biobased”, diz Checcucci.
A empresa já fabrica a resina termoplástica de origem renovável, usando etanol para obter o polietileno, no Rio Grande do Sul. A planta, no entanto, utiliza combustíveis fósseis na produção de vapor.
No início deste ano, Braskem e Veolia fecharam uma parceria para estudar a viabilidade de adotar soluções energéticas renováveis na planta, com potencial de redução de 500 mil toneladas de CO2e por ano.
Cobrimos por aqui:
- Indústria verde busca visibilidade em políticas de transição
- Descarbonização da indústria custará R$ 40 bi até 2050, calcula CNI
- Governo elabora plano de descarbonização da indústria
- Brasil e Japão vão cooperar em descarbonização industrial e bioeconomia
Curtas
Mundo de olho na indústria verde brasileira
O Acelerador de Transição Industrial (ITA, em inglês) abriu uma chamada nesta quarta (17/7) para desenvolvedores de projetos manifestarem interesse em investir na descarbonização da indústria no Brasil com apoio do programa financiado pela Bloomberg Philanthropies e pelos Emirados Árabes Unidos. O Brasil será o primeiro país a receber o suporte do ITA, iniciativa lançada em dezembro de 2023, na COP28.
Hidrogênio no Ceará
A Fortescue anunciou nesta quarta (17/7) que chegou à decisão antecipada de investimento (EID, na sigla em inglês) no projeto de produção de hidrogênio verde do hub do Pecém, no Ceará. A EID é a etapa que antecede a decisão final de investimento, prevista para 2025. São estimados US$ 5 bilhões para colocar de pé o empreendimento que pretende produzir 837 toneladas de H2 por dia, a partir de 2027. Leia na epbr
Eólicas offshore na seca
Estudo do Banco Mundial e Empresa de Pesquisa Energética (EPE) conclui que as eólicas offshore podem ser importantes para o suprimento energético do Brasil durante o período seco. Embora a implantação seja cara, a pesquisa simulou cenários e encontrou um potencial de até 1,2 mil GW.
Déficit de potência
O sistema elétrico brasileiro vai precisar de oferta adicional de potência a partir de 2027, com previsão de necessidade adicional de 5,5 GW em 2028, de acordo com os estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE). O crescimento das renováveis variáveis e da micro e minigeração distribuída tende a ampliar a necessidade de potência no sistema nos próximos anos. Entenda
Biometano de aterro
A Edge assinou um novo contrato de aquisição de biometano com o Grupo Orizon. Dessa vez, o acordo prevê a compra de todo o gás renovável que será produzido no aterro de Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo. As empresas fecharam um contrato de dez anos, com início de fornecimento previsto para o segundo semestre de 2026 de um volume médio estimado de, no mínimo, 25 mil m3/dia. Leia na epbr
H2 com subsídio na Alemanha
O governo alemão vai conceder €4,6 bilhões em subsídios para 23 projetos de hidrogênio, reconhecidos como Projetos Importantes de Interesse Europeu Comum (IPCEI) pela União Europeia, dentro da iniciativa Hy2Infra. Os empreendimentos financiados incluem até 1,4 GW de capacidade de eletrólise, 2 mil km de gasodutos, 370 GWh de capacidade de armazenamento e terminais para movimentar 1,8 mil toneladas de H2 por ano. Veja detalhes
Leilão de energia
A Aneel abriu nesta quarta (17/7) uma consulta pública para receber sugestões ao edital e anexos dos Leilões de Energia Existente A-1, A-2 e A-3 de 2024. Destinados a contratar energia elétrica proveniente de empreendimentos de geração existentes, os certames estão marcados para 6 de dezembro de 2024. Os editais contêm, entre outros pontos, o objeto, os prazos e as minutas dos contratos de compra e venda de energia elétrica.