Críticas à privatização da Eletronorte marcam homenagem no Senado

Plenário do Senado Federal durante sessão especial destinada a comemorar o aniversário de 46 anos da estatal Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A (Eletronorte). 

Mesa: 
representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), Ícaro Chaves; 
presidente da sessão, senador Izalci (PSDB-DF); 
presidente  da  Eletronorte, Roberto  Parucker; 
diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone.

Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Plenário do Senado Federal durante sessão especial destinada a comemorar o aniversário de 46 anos da estatal Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A (Eletronorte). Mesa: representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), Ícaro Chaves; presidente da sessão, senador Izalci (PSDB-DF); presidente da Eletronorte, Roberto Parucker; diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone. Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Agência Senado

A possível privatização da Eletronorte marcou a sessão especial do Senado nesta segunda (17) para comemorar os 46 anos da empresa. Senadores e deputados se colocaram contrários à privatização, argumentando que a empresa é rentável e que abrir mão do controle das hidrelétricas seria ruim para o Brasil.

O senador Weverton (PDT-MA) criticou o governo pelo que chamou de política desenfreada para entregar ao capital estrangeiro ou privado setores estratégicos como os da Eletrobras e da Petrobras.

“Não somos contra a vinda da iniciativa privada. Pelo contrário, essas empresas podem vir ajudar, mas não comandar políticas tão estratégicas como a energética. Não existe almoço de graça no Brasil. Quem paga essa conta é o cidadão trabalhador, na conta de luz”, afirmou.

Esse também foi o tom do deputado José Ricardo (PT/AM), ao lamentar o que chamou de “retrocesso”. Para ele, o aumento do custo da energia e dos riscos num setor estratégico da economia são reais. Por isso, o deputado criticou a visão “de entregar a Eletronorte e o setor energético ao capital privado”.

O representante dos eletricitários, Ícaro Chaves, afirmou que não há motivo para privatizar uma empresa lucrativa como a Eletronorte.

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“Soberania não é feita só por Forças Armadas, é por integração, energia, sentimento de nacionalidade e uso de uma mesma língua. O maior desafio do grupo é manter a empresa pública e pertencente a todos os brasileiros”

A informação de que a Eletronorte é lucrativa foi reiterada pelo presidente da estatal, Roberto Parucker. De acordo com ele, as receitas totais faturadas pela estatal subiram R$ 300 milhões no ano passado, em relação a 2017.

“Passaram de R$ 7,1 bilhões a R$ 7,4 bilhões. Por outro lado, um programa de redução de custos de despesas operacionais economizou cerca de R$ 1,4 bilhão”, explicou o executivo.

No ano passado, a Eletronorte pagou R$ 171 milhões em royalties  para os municípios pelo uso dos recursos naturais. Parucker afirmou que a empresa, como terceira maior geradora brasileira, traz robustez ao setor elétrico brasileiro numa matriz limpa e renovável.

A certificação pelo Japan Institute for Plant Maintenance foi lembrada em vários momentos da cerimônia. A empresa foi a primeira no mundo a receber o título de qualidade TPM (que significa manutenção produtiva total) pelo complexo de hidrelétricas Tucuruí, Curuá-Uma e Samuel.

As três hidrelétricas foram reconhecidas por terem um sistema de gestão que identifica e elimina as perdas existentes nos processos empresariais, maximiza o uso dos ativos e garante produtos de alta qualidade a custos competitivos. O TPM é conhecido como “perda zero, falha zero e acidente zero”.

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Futuro
As metas da Eletronorte, citadas na sessão, incluem terminar da Usina de Belo Monte (num consórcio com Furnas e a chinesa State Grid), interligar Roraima ao sistema nacional e fazer o Amapá um grande exportador de energia.

Além disso, a intenção é avançar em fontes inovadoras como a captação de energia solar nos lagos de usinas hidrelétricas com uso de flutuadores. O projeto de vanguarda em todo o mundo foi instalado, em 2016, na Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas.

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) comentou as vantagens da exploração de energia solar em lagos de reservatórios:

“A vantagem é aproveitar as subestações, e as linhas de transmissão sobre as hidrelétricas e a área sobre as águas, o que reduz a desapropriação de terras, que sempre foi um problema na Amazônia”.

Profissionais
Presidente da sessão, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) destacou a importância do trabalho de equipes que “superaram desafios de porte amazônico” para instalar energia no meio da floresta.

“Enfrentaram as adversidades de instalar-se na Amazônia e integraram as regiões. A combinação de conhecimento impecável e audácia extrema de engenheiros e técnicos somados à força de milhares de operários resultou em verdadeiras epopeias materializadas em notáveis projetos.”

Além de mencionar o trabalho das equipes, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, fez um desagravo ao uso da matriz hidrelétrica, segundo ele “demonizada de maneira exagerada e pouco técnica por causa do impacto ambiental”.

“Não podemos perder de perspectiva a importância da usina hidrelétrica, que é limpa e renovável. Precisamos usar todas as fontes renováveis de energia, e de uma matriz energética diversificada. E precisamos avançar na construção de hidrelétricas com reservatórios”.

Histórico
A Eletronorte começou seus trabalhos na Amazônia, em 20 de junho de 1973. Dois anos depois, foram iniciadas as Hidrelétricas Coaracy Nunes (AP) e Tucuruí (PA). Em 1978, foi incorporado o parque térmico de Belém do Pará. A linha de transmissão Couto Magalhães–Rondonópolis–Cuiabá foi inaugurada em 1980 e é a quinta maior do mundo em potência instalada, com cerca de 8,3 mil megawatts.

Foi na década de 80 que as linhas de transmissão se espalharam pela Região Norte, chegando até São Luís. Essa foi também a época da instalação das Hidrelétricas de Balbina (AM) e Samuel (RO).

Em 1984, o presidente João Figueiredo inaugurou a Hidrelétrica de Tucuruí (PA), a maior usina 100% nacional e considerada um novo tempo de geração de energia limpa e renovável. Atualmente 97% do território impactado pelas obras de Tucuruí já foi restaurado.

Em 1999, o Brasil venceu o desafio de interligar praticamente todo o sistema, e a energia da Eletronorte passou a ser levada a todo o país. Em 2004, a empresa assumiu a função de coordenadora regional do Programa Luz para Todos e, de lá para cá, foram investidos R$ 100 milhões.

Dez anos depois, a empresa aparecia entre as 20 empresas mais inovadoras do Brasil. Hoje tem mais de 11 mil quilômetros de linhas de transmissão, numa capacidade de geração instalada de 8,9 mil megawatts. A empresa controla 57 subestações.