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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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A agência epbr irá cobrir a COP27 entre os dias 7 e 18 de novembro, com transmissões ao vivo, de segunda a sexta, sempre às 14h.
Vamos receber especialistas em clima e transição energética, agentes do mercado, indústria e sociedade civil, com convidados diretamente do Egito.
Na pauta: políticas públicas e ações de enfrentamento à crise climática, além do papel do Brasil na agenda ambiental do planeta.
Este ano, a transição e segurança energética serão temas centrais do debate das lideranças mundiais, que lidam com a crise de energia enfrentada pela Europa e intensificada pelas consequências da invasão da Rússia à Ucrânia.
Começa neste domingo (6/11) a 27ª edição da principal conferência global dedicada ao clima, a COP27, em meio a grandes expectativas, muito caos e pouco progresso.
Lançado a poucos dias do encontro que este ano ocorre no Egito, o relatório State of Climate Action 2022 mostra que nenhum dos 40 indicadores de ação climática avaliados está no caminho certo para atingir suas metas até 2030.
O estudo do Systems Change Lab analisou o progresso em setores que, coletivamente, representam cerca de 85% das emissões globais de GEE (energia, edifícios, indústria, transporte, florestas e terras e alimentos e agricultura) e na ampliação das tecnologias de remoção de carbono.
Em seguida, quantificou a lacuna global na ação climática comparando os esforços atuais com os necessários até 2030 e 2050 para limitar o aquecimento a 1,5°C e evitar um ponto de não retorno.
“Este ano, o mundo viu a devastação causada por apenas 1,1°C de aquecimento. Cada fração de grau importa na luta para proteger as pessoas e o planeta”, comenta Ani Dasgupta, CEO do World Resources Institute.
“Um alerta urgente para que os tomadores de decisão se comprometam com uma transformação real em todos os aspectos de nossa economia”, completa.
Os achados do levantamento preocupam. Seis indicadores estão “fora do caminho”, movendo-se na direção certa a uma velocidade promissora, mas insuficiente — com destaque para expansão de renováveis e veículos elétricos.
Enquanto 21 estão “bem fora do caminho”, indo na direção certa, mas muito abaixo do ritmo necessário, cinco estão indo na direção totalmente errada, e oito têm dados insuficientes para acompanhar o progresso.
Para os 21 indicadores “bem fora do caminho”, as taxas recentes de mudança histórica precisam acelerar pelo menos duas vezes mais rápido para atingir suas metas de 2030.
Por exemplo, o relatório conclui que, para manter 1,5°C ao nosso alcance, será preciso aposentar o equivalente a cerca de 925 usinas de energia a carvão de tamanho médio, cada uma gerando aproximadamente 320 MW anualmente.
Mas a realidade é que a geração a carvão está aumentando, e o fóssil ainda representa a maior parcela da capacidade global, com 27%.
Em 2021, a geração a carvão estabeleceu recordes — saltou de 750 TWh em 2020 para 9.600 TWh. E os países seguem construindo novas usinas, mostra relatório da BloombergNEF.
Na direção errada
Enquanto as temperaturas aumentam e eventos extremos como secas prolongadas e inundações se tornam mais frequentes, cresce também a participação inabalável do gás fóssil na geração de eletricidade, a intensidade de carbono da produção de aço, o uso de combustíveis fósseis no transporte, a perda de manguezais e as emissões de GEE da agricultura.
“O que é particularmente preocupante é o aumento da geração de energia a gás fóssil, apesar da disponibilidade de alternativas mais saudáveis e de baixo custo”, observa Bill Hare, CEO da Climate Analytics.
“A atual crise energética resultante de choques como a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia mostrou muito claramente como a dependência contínua de combustíveis fósseis não é apenas ruim para o clima, mas também traz sérios riscos econômicos e de segurança”.
Lacuna financeira
Alcançar as metas nesses setores exige aumentos substanciais no financiamento climático — tema que estará no topo da agenda de negociações da COP27 ao longo das próximas duas semanas.
O State of Climate Action 2022 conclui que o financiamento climático global total precisa aumentar mais de dez vezes mais rápido para atingir US$ 5,2 trilhões por ano até 2030 — o equivalente a aumentar os fluxos em uma média de cerca de US$ 460 bilhões por ano nesta década.
Ao mesmo tempo, o financiamento público de combustíveis fósseis precisa ser eliminado cinco vezes mais rapidamente.
Nada disso está acontecendo.
Até agora, só US$ 630 bilhões foram aplicados em ações de mitigação e adaptação — e uma parte pequena foi destinada aos países emergentes.
Enquanto o subsídio a combustíveis fósseis quase dobrou em 2021, de US$ 362,4 bilhões em 2020 para US$ 697,2 bilhões, de acordo com a OCDE.
“Na COP27, as nações devem se comprometer a aumentar o financiamento e os investimentos na economia limpa, aumentar a resiliência aos impactos climáticos e lidar com perdas e danos para apoiar as pessoas e comunidades severamente impactadas pelas mudanças climáticas hoje”, avalia Helen Mountford, CEO da ClimateWorks Foundation.
Por falar em dinheiro…
A Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) — grupo formado por instituições financeiras na COP do ano passado para acelerar a transição — divulgou esta semana os planos de transição net-zero e uma chamada à ação dirigida aos governos do G20.
O relatório do plano de transição foi bem recebido por organizações ambientais, mas a chamada à ação deixou a desejar.
De acordo com a ONG francesa Reclaim Finance, o GFANZ não envia uma mensagem clara sobre a necessidade de os governos interromperem o apoio à expansão dos combustíveis fósseis, incluindo o fim dos subsídios, e enfatiza erroneamente o papel dos mercados de carbono e a precificação do carbono na transição.
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Mercado de carbono
A COP27 também terá a missão de chegar a um consenso para operacionalizar o Artigo 6 do Acordo de Paris — que trata do comércio global de carbono.
Na mesa de debates, os parágrafos 6.2 (negociação país a país), 6.4 (mercado onde atores públicos e privados participam dos esforços de redução dos países por meio do financiamento de projetos) e 6.8 (abordagens fora do mercado para promover mitigação e adaptação).
Essas definições são cruciais para barrar o greenwashing, garantir direitos dos povos que vivem nas florestas, e assegurar que esses mecanismos de compensação sejam absorvidos como estratégia complementar — e não principal — pelas empresas.
“Este tema é de particular interesse para o Brasil, que pode voltar a ser visto como um protagonista climático com o governo Lula. O atual cenário de baixa governança ambiental e alta nos números de desmatamento tem dificultado a atração de projetos comprometidos com resultados”, avalia a WWF Brasil.
Está na agenda da indústria brasileira
Documento da CNI para a COP27 propõe a definição de uma estratégia nacional para o Artigo 6.2, com a demonstração de contabilidade que promova a realização de ajuste correspondente.
Além da adoção de um sistema de cap and trade, entre outros pontos.
“Tão crucial quanto as negociações que ocorrerão em Sharm El Sheikh, será a capacidade do país de se organizar internamente para definir um plano de implementação das metas brasileiras e a definição de um arranjo institucional que viabilize esse novo mecanismo”, diz Robson Andrade, presidente da CNI.
Uma das preocupações da confederação da indústria é a regulamentação do mercado de carbono por lei, para conferir segurança jurídica, além das definições dos critérios para os ajustes de correspondentes.
Desde a COP26, em novembro do ano passado, o setor produtivo aguarda uma definição sobre o tema. Há um projeto de lei no Congresso e um decreto do governo de Jair Bolsonaro.
- Opinião | Mercado brasileiro de carbono — perspectivas em um ambiente de insegurança jurídica e regulatória
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