Diálogos da Transição

Comércio verde movimentou quase US$ 2 tri em 2022

Os destaques são veículos elétricos e híbridos, embalagens não plásticas e turbinas eólicas

Comércio verde movimentou quase US$ 2 trilhões em 2022. Na imagem: Containers de diversas cores empilhados em cais de porto (Foto: Pixabay)
Exportações totais de tecnologias verdes dos países ricos saltaram de cerca de US$ 60 bilhões em 2018 para mais de US$ 156 bilhões em 2021 (Foto: Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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O comércio global desacelerou no segundo semestre de 2022, mas a demanda por produtos ecologicamente corretos permaneceu forte, mostra um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicado nesta quinta (23/3).

De acordo com o levantamento, o comércio de produtos classificados como “verdes” — por usarem menos recursos e/ou poluírem menos — cresceu 4% no segundo semestre do ano, atingindo um recorde de US$ 1,9 trilhão em 2022. No geral, o comércio global atingiu US$ 32 trilhões.

Os destaques são veículos elétricos e híbridos, embalagens não plásticas e turbinas eólicas.

Em tempo: a ONU classifica como verdes os produtos favoráveis ao clima, mas o conceito pode variar entre regiões. Esta semana, a Comissão Europeia lançou uma proposta para barrar “alegações verdes falsas”. Em outra frente, o G7 trabalha na criação de padrões para commodities sustentáveis.

Energia foi, de longe, o setor que teve o melhor resultado no quarto trimestre, com 24% de crescimento na comparação anual — embora tenha sido um volume 10% menor quando comparado com o trimestre anterior. Veja o resumo (.pdf)

Um movimento que veio para ficar

A UNCTAD estima que, até 2030, o valor do mercado de carros elétricos, energia solar e eólica, hidrogênio verde e outras tecnologias consideradas ecológicas deve quadruplicar, atingindo US$ 2,1 trilhões.

As receitas do mercado de veículos elétricos podem aumentar cinco vezes, saindo dos US$ 163 bilhões atuais para US$ 824 bilhões até 2030.

Contribuem para essas perspectivas as políticas de países ricos para alavancar a produção e incentivar o consumo de baixo carbono.

De outro lado, a organização vê também um risco de intensificação das desigualdades econômicas, já que países emergentes e vulneráveis têm menor margem financeira para criar subsídios como Estados Unidos e Europa estão fazendo.

“Os países em desenvolvimento precisam de agência e urgência para apresentar as respostas políticas corretas”, alerta Shamika N. Sirimanne, diretora da divisão de tecnologia e logística da UNCTAD.

Ela explica que, para se beneficiar da revolução da tecnologia verde, são necessárias políticas industriais, de inovação e de energia específicas para a descarbonização nesses países.

“À medida que os países em desenvolvimento respondem às crises urgentes e interconectadas de hoje, eles também precisam tomar ações estratégicas e de longo prazo para criar inovação e capacidades tecnológicas para estimular o crescimento econômico sustentável e aumentar sua resiliência a crises futuras”, completa.

Tecnologias de fronteira

A UNCTAD estima que 17 tecnologias de fronteira poderiam criar um mercado de mais de US$ 9,5 trilhões até 2030 — cerca de três vezes o tamanho atual da economia indiana.

As 17 tecnologias estão divididas em três grupos: Indústria 4.0 (inteligência artificial, internet das coisas, big data, blockchain, 5G, impressão 3D, robótica e drones), Energia verde e renovável (solar fotovoltaica, geração solar centralizada, biocombustíveis, biogás e biomassa, eólica, hidrogênio verde e veículos elétricos) e Outras fronteiras (nanotecnologia e edição genética)

Mas, até agora, as economias ricas estão aproveitando a maioria das oportunidades, deixando os mercados em desenvolvimento ainda mais para trás.

As exportações totais de tecnologias verdes dos países ricos saltaram de cerca de US$ 60 bilhões em 2018 para mais de US$ 156 bilhões em 2021.

No mesmo período, as exportações dos países em desenvolvimento subiram de US$ 57 bilhões para apenas cerca de US$ 75 bilhões.

Em três anos, a participação dos países em desenvolvimento nas exportações globais caiu de mais de 48% para menos de 33%.

Em termos de prontidão tecnológica para desenvolver o mercado dessas novas tecnologias, a agência da ONU identificou poucos países em desenvolvimento preparados para tirar vantagem.

Fora os países de alta renda, como Estados Unidos, Suécia, Cingapura, Suíça e Holanda, quem tem se posicionado melhor são os asiáticos Índia, Filipinas e Vietnã.

Importantes mudanças políticas nos últimos anos fizeram com que os três alcançassem um desempenho melhor do que o esperado de acordo com seu PIB per capita, diz a UNCTAD.

Já América Latina, Caribe e África Subsaariana figuram como os menos preparados para aproveitar as tecnologias de fronteira, correndo o risco de perder a corrida verde.

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Curtas

Década perdida

Décimo relatório do SEEG mostra que a poluição climática aumentou 40% desde que o país regulamentou a Política Nacional sobre Mudança do Clima, a PNMC, em 2010. Naquele ano, as emissões brutas de gases de efeito estufa eram de 1,7 bilhão de toneladas. Em 2021, ano da última estimativa do SEEG, eram 2,4 bilhões.

A maior parte da culpa é do desmatamento. A principal meta da PNMC era reduzir em 80% a taxa de destruição da Amazônia, mas em 2022 o desmatamento foi quase três vezes maior do que os 3.925 km2 da meta. Em relação a 2010, as emissões por mudança de uso da terra cresceram 83% no Brasil.

Todos os setores da economia aumentaram suas emissões: a alta bruta foi de 31% em resíduos (principalmente lixo e esgoto), 13% em processos industriais e uso de produtos, 17% em energia e 12% em agropecuária entre 2010 e 2021. Veja o relatório na íntegra (.pdf)

Da GD para o mercado livre

A multinacional francesa GreenYellow anunciou nesta quinta (23/3) que registrou crescimento de 23% em 2022 e está entrando no segmento de geração de energia centralizada. Para efetuar essa mudança de atuação, a empresa já conta com projeto outorgado de mais de 140 MWp, com foco em autoprodução no mercado livre de energia.

De acordo com Marcelo Xavier, presidente da GreenYellow no Brasil, a companhia tem atualmente um pipeline superior a 440 MWp para os próximos anos e está otimista com o desenvolvimento do mercado de solar no Brasil — no ano passado, a fonte quase dobrou em capacidade instalada, chegando a 23,9 gigawatts (GW).

Brasil investirá mais de R$ 50 bi em linhas de transmissão para escoar renováveis

O anúncio foi feito pelo ministro Alexandre Silveira durante a inauguração do primeiro complexo de geração associada de eólica e solar no Brasil, no sertão paraibano na quarta (22). Objetivo é escoar mais energia renovável no SIN. MME

Crise da água

Começou ontem a Conferência da Água da ONU, um evento de três dias co-organizado pela Holanda e o Tadjiquistão que tenta firmar acordos de proteção dos recursos hídricos e universalização do acesso.

Segundo a ONU, quase três em cada quatro desastres naturais estão ligados à água, e um quarto do planeta vive sem serviços de água geridos com segurança ou água potável. Além disso, 1,7 bilhão de pessoas carecem de saneamento básico.