O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou nesta sexta (17) que a elevação de impostos sobre a gasolina elevaria o risco de desabastecimento de GLP no Brasil. Os mercados de combustíveis são fortemente afetados pela crise, opondo Petrobras e o setor produtivo de etanol.
A Petrobras convocou uma coletiva de imprensa nesta sexta (17), para tratar do assunto.
A produção de gasolina é, em geral, atrelada à de GLP – produtos são separados na mesma etapa de processamento nas refinarias. Isto é, a Petrobras afirma que se a demanda por gasolina cair ainda mais, para beneficiar o etanol, levaria a restrições para produção de GLP.
“Como existe uma capacidade limitada de internação do GLP importado, há um risco de desabastecimento do mercado brasileiro. Por isso, os proponentes dessa medidas [taxar a gasolina] precisam refletir sobre essa medida e as consequências para os consumidores brasileiros que serão seriamente afetados nesse momento”, disse Castello Branco.
O executivo falou especificamente sobre um lobby para elevar impostos de importação sobre a gasolina, sem citar quem seriam os lobistas. Também não informou qual a taxa de utilização das refinarias, nem apresentou dados precisos sobre a demanda ou importação de gasolina.
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Castello Branco afirmou que a companhia vai importar um total de 350 mil toneladas de GLP em abril, volume suficiente para abastecer o mercado doméstico. A infraestrutura logística para movimentar o GLP nacional, das refinarias espalhadas pelo país, é mais robusta do que a capacidade de importação a partir, principalmente, do Porto de Santos (SP).
Questionado sobre a possível elevação da Cide sobre a gasolina, de R$ 0,10 para R$ 0,50, a diretora de Gás e Refino, Anelise Lara, afirmou que o efeito seria similar. O pedido por aumento da Cide foi formalizado pela Unica e outras associações setoriais aos ministérios de Minas e Energia e Meio Ambiente.
Em geral, o etanol hidratado precisa custar para os consumidores 70% ou menos do que a gasolina comum vendida nos postos. Se o preço da gasolina sobe, o teto para o etanol acompanha, aumentando as margens do biocombustível.
“Se aumentar o imposto, a gasolina fica menos competitiva nesse momento de menor demanda. O etanol já é muito privilegiado em termos de subsídio e impostos menores. E se houver subsídio para um derivado pode acarretar na desorganização na cadeia. E vamos ter que produzir menos gasolina, reduzindo o GLP e aí sim podemos ter um cenário de desabastecimento de GLP no mercado”, ressaltou a diretora.
Em recente entrevista à Reuters, o presidente da Unica, Evandro Gussi, defendeu que sejam tomadas medidas para elevar a competitividade do etanol.
“O país precisa decidir se vai privilegiar a gasolina importada, que gera emprego fora, ou se vai manter uma indústria que é orgulho nacional, que está indo bem, que tem futuro incrível”, afirmou à agência.
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Restrição ao GLP é pontual, mas mercado de gasolina é incerto
Enquanto a restrição ao acesso, pelos consumidores residenciais, ao GLP de 13 KG (GLP-13) é tratada pela própria Petrobras, pelas distribuidoras e pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) como uma situação pontual, a demanda por gasolina e etanol ainda está sujeita à muita incerteza.
A demanda por gasolina está -35%, a de etanol caiu -40% e as vendas de diesel estão entre -25% e -22% menores, de acordo com dados da ANP.
Por medo de desabastecimento durante a crise de saúde pública, consumidores, contudo, começaram a estocar GLP. De acordo com o diretor da ANP, Dirceu Amorelli, há dois aspectos para levar em conta: em casa por mais tempo, as pessoas consomem mais GLP, mas é preciso considerar que em situações regulares um botijão dura, em média 45 dias, então é possível que acha um arrefecimento da demanda.
A chegada do inverno, normalmente, representa, em especial na região Sul do país, um aumento da demanda pelo combustível.
O diretor da agência Felipe Kury afirmou que fornecimento de GLP deve ser normalizado em todo o país até a próxima semana. A crise teve impacto nas revendas e em, alguns casos, reduziu o estoque local de 2 a 3 dias, em média, para uma capacidade de suprir apenas a demanda diária.
A diretoria da ANP participou de webinar promovido pela epbr, nesta quinta (17).
A agência também divulgou, nesta sexta (17) um panorama do abastecimento de GLP, indicando que na maior parte do país as distribuidoras venderam 10% ou mais em abril, até o dia 14, na comparação com 2019. Em 12 estados, as entregas pelas distribuidoras saltaram 30%.
Em relação a atraso nas entregas de GLP-13, a situação mais crítica é no Paraná, com atrasos de 30% a 40%; em Minas Gerais, varia de 10% a 20%; no Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Pará e Amazonas, entregas até 10% atrasadas.
No Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina a informação é que os tempos de entrega estão avançados.
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