Diesel sobe e Bolsonaro não foi avisado, afirma presidente da Petrobras

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, fala à imprensa na sede da companhia, no Rio de Janeiro.
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, fala à imprensa na sede da companhia, no Rio de Janeiro.

A Petrobras reajustou os preços do diesel nas refinarias em 4,84% na média nacional, após 26 dias de preços congelados. De acordo com o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, Bolsonaro não foi avisado sobre o reajuste, nem sequer sobre o percentual. “Está sabendo junto com vocês”, afirmou a jornalistas durante coletiva, na sede da Petrobras.

A partir de amanhã, o diesel passa a custar, em média, R$ 2,24, alta de R$ 0,10. O aumento médio é de 4,84%, mas varia de 4,5% a 5,1%, dependendo do ponto de entrega (refinarias e terminais).

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Bem como todos os dirigentes questionados, incluindo o próprio Bolsonaro, Paulo Guedes e Bento Albuquerque, Castello Branco defendeu que o ocorrido da semana passada não significou uma interferência do presidente na Petrobras. Na quinta-feira, 11, Bolsonaro ligou para Castello Branco para tratar do assunto e a Petrobras (oficialmente, a sua diretoria) decidiu reverter o aumento de 5,7% – superior ao anunciado hoje. Ou como traduziu Guedes, Bolsonaro ligou para falar “vem ca, estou comemorando 100 dias de governo e você vai botar diesel no meu chope?”

“O presidente Bolsonaro não me pediu nada, apenas me alertou dos riscos de uma greve dos caminhoneiros. Reconheço que a preocupação é legitima, tanto que imediatamente promovi uma conference call com os diretores e a decisão foi suspender o ajuste para uma reavaliação”, afirmou Castello Branco.

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E questionado sobre a comunicação do reajuste de hoje (passa valer a partir de amanhã), o presidente da Petrobras disse que Bolsonaro “tem muitas coisas importantes para se preocupar, não vai se preocupar com o percentual de aumento do diesel. Seria um mal uso do tempo dele”.

Os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e da Economia, Paulo Guedes, durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto na terça-feira, 16 (foto: Agência Brasil)

Questionado o que mudou da semana passada para cá, em relação ao risco de greve e por que agora o aumento ser possível, Castello Branco citou as iniciativas anunciadas pelo Ministério da Infraestrutura na segunda-feira, 15. São, contudo, medidas de longo prazo, como recursos para conclusão de obras, reparo de rodovias, crédito do BNDES para manutenção e compra de peças e melhoria das condições de trabalho na estrada. Há risco de greve? De acordo com o executivo, foi minimizado, “mas risco sempre há”.

Castello Branco chegou a afirmar que a Petrobras ganhou dinheiro nesse período de congelamento dos preços, graças às operações de hedge realizadas para proteger a companhia das flutuações. Para justificar o aumento menor, de 4,84% em relação aos 5,7% da semana passada, o executivo explicou que houve uma redução no custo do frete. A tendência é que movimentos como o de congelamento de preço, inclusive, aumentem a participação da Petrobras no mercado de diesel, como ocorreu após os seis meses de subsídio.

“Por que a variação de preço é inferior a 5,7%? O frete marítimo, que é componente do preço de paridade, o frete caiu e nos ganhamos com a operação de hedge. O objetivo não é ganhar, é se proteger. [Mas] isso possibilitou aumentar 4,84%”

Nesta semana, surgiram novas informações sobre a venda de ativos da Petrobras. O modelo para venda de refinarias deve ser apresentado entre maio e junho e, de acordo com o G1, a meta será vender metade da capacidade, em todas as regiões, ou seja, cerca de 1,1 milhão de barris/dia. Os planos devem ser apresentados ao Cade. A Petrobras também está dando prosseguimento no plano de venda participação na BR Distribuidora.

“Monopólio é incompatível com uma sociedade livre, democrática. Primeiramente, o exercício de poder do monopólio restringe a liberdade de escolha do cidadão. E, segundo, o monopólio não é bom para o monopolista, que tende a ser flácido com relação a custos, porque sabe que vai repassar ao consumidor final”, afirmou o executivo.

Castello Branco também informou que não há estudos para desenvolver uma nova fórmula de preços, por exemplo, que leve em consideração médias móveis ou mecanismos que atenuem eventuais altas no diesel. Em regra, vale a busca pela paridade internacional. A estratégia, contudo, pode mudar, porque a gestão da companhia é “dinâmica”, explicou o executivo.