Biocombustíveis

Do poço à roda ou do berço ao túmulo? Entenda a diferença

Políticas para descarbonizar a mobilidade incorporam análise do ciclo de vida de combustíveis e veículos

Brasil deve contar com quase 7 mil eletropostos operando até final de 2024 para recarga de elétricos. Na imagem: Homem opera aplicativo em celular que auxilia na recarga de veículo elétrico SUV na cor branca (Foto: Reprodução Agência de Notícias do Paraná)
Aplicativo de celular facilita recarga de veículos elétricos (Foto: Reprodução Agência de Notícias do Paraná)

Sancionado no final de junho de 2024, o programa de incentivos à indústria automotiva Mover, que substitui o Rota 2030, reduziu o imposto sobre tecnologias menos poluentes na mobilidade, considerando numa primeira fase as emissões de carbono do poço à roda e, a partir de 2027, do berço ao túmulo.

Enquanto o conceito “do poço à roda” mede a eficiência ambiental do combustível – o que daria vantagens aos eletrificados –, o “berço ao túmulo” mede a pegada de carbono desde a exploração de minerais para a produção das baterias e de outras peças do veículo até o descarte do veículo e suas peças. Nesta análise, os híbridos a etanol saem vencedores.

Os conceitos também aparecem no capítulo de mobilidade do projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 528/2020), aguardando relatório no Senado.

São metodologias usadas para calcular o ciclo de vida do carbono associado a tecnologias adotadas no setor de transportes. A diferença está em onde começa e onde termina a análise da cadeia.

O que diz a legislação

Tanto o Mover quanto o Combustível do Futuro definem da seguinte maneira:

  • ciclo do poço à roda: ciclo de vida que contabiliza as emissões de GEE oriundas dos processos de cultivo e extração de recursos e da produção dos combustíveis líquidos ou gasosos ou da energia elétrica, sua distribuição e utilização em veículos leves e pesados de passageiros e comerciais;
  • ciclo do berço ao túmulo: ciclo de vida que considera as emissões de GEE incorporadas no ciclo do poço à roda, acrescidas daquelas geradas desde a extração de recursos e na fabricação de autopeças, na montagem e no descarte dos veículos leves e pesados de passageiros e comerciais;

Do poço à roda

No poço à roda, a contabilidade das emissões de CO2 começa no campo, na plantação de cana, soja, milho, ou na extração de petróleo, por exemplo. Passa pelas usinas e refinarias, onde o combustível é produzido, e termina nos motores dos veículos, onde ele é queimado.

Essa metodologia avalia, sobretudo, o combustível e já é utilizada hoje no RenovaBio para calcular quantos CBIOs os produtores de etanol, biodiesel e biometano podem emitir.

Do berço ao túmulo

O berço ao túmulo vai além para avaliar também a sustentabilidade dos veículos. Além de incorporar a eficiência da gasolina, diesel, biocombustível ou eletricidade que abastece o carro, entra na conta a pegada de carbono do veículo.

Isso significa analisar como ele foi produzido, de onde vieram os recursos minerais, que tipo de energia alimentou a fábrica de componentes e a montagem, como ele será descartado e qual será o impacto desse descarte no meio ambiente.

Neste caso, um veículo importado da China, onde a matriz energética é altamente dependente de carvão, teria um carbono associado maior que um modelo semelhante fabricado no Brasil, onde o parque fabril é mais renovável e não precisaria atravessar o oceano em navios que queimam combustível fóssil.