Opinião

Créditos de carbono no Brasil: o risco oculto da fraude

Falta de regulamentação e conflitos fundiários na Amazônia abrem brechas para golpes como créditos fantasmas e grilagem, prejudicando projetos sérios de preservação, escrevem Ana Belotto, Claudia Chagas, Guilherme Serra, Marilda Nakane

Registro aéreo da PMAC de furto de madeira em Acrelândia (Foto Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre)
Registro aéreo da PMAC de furto de madeira em Acrelândia (Foto Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre)

Créditos fantasmas, venda duplicada, dupla contagem, grilagem de terras, lavagem de dinheiro. Essas são algumas fraudes que ameaçam a integridade do mercado de créditos de carbono no Brasil, minando sua credibilidade e enfraquecendo projetos sérios de conservação.

Este mercado surgiu como ferramenta contra as mudanças climáticas. Permite compensar emissões financiando projetos que capturam CO2, como reflorestamento, gerando os créditos.

O Brasil, com sua vasta biodiversidade amazônica, tornou-se um grande fornecedor global desses créditos, principalmente via projetos REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).

Contudo, a falta de parâmetros claros e legislação recente, ainda sem regulamentação detalhada, criam um ambiente de baixa transparência, abrindo brechas para irregularidades.

Mesmo empresas que buscam operar legalmente enfrentam obstáculos. O cenário expõe empreendedores sérios e comunidades a riscos de fraude, como apropriação de terras e falseamento de dados.

Essas práticas prejudicam a imagem do país e geram desconfiança internacional sobre os créditos brasileiros, impactando investimentos e benefícios ambientais.

A lei nº 15.042/2024 criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). É um passo importante, mas a norma aguarda regulamentação e aborda pouco o mercado voluntário, foco das fraudes.

Leis estaduais fragmentadas (tais como do Acre e Mato Grosso) sobre REDD+ geram insegurança jurídica e dificultam investimentos.

A Amazônia Legal concentra riscos: conflitos fundiários, fiscalização falha, grileiros. Territórios indígenas são vulneráveis, explorados sem consentimento adequado.

Apesar dos riscos, estados como Tocantins e Maranhão lançam editais para projetos REDD+ no mercado voluntário, buscando conciliar preservação, desenvolvimento e arrecadação.

Combater a fraude é essencial para a credibilidade e os benefícios do mercado. Exige regulação clara, fiscalização robusta e verificação transparente. É urgente fortalecer cadastros fundiários, usar tecnologia contra sobreposições e garantir rastreabilidade dos projetos.

Ampliar a atuação de órgãos como MP e PF, em diálogo com a sociedade civil e órgãos de defesa ambiental e indígena, também é fundamental. 

Por isso, integrar o combate à fraude às estratégias contra o crime ambiental é vital. Assim, o setor pode se tornar ferramenta legítima de preservação e renda, alinhado aos compromissos climáticos e à COP30 em Belém.

Este artigo expressa exclusivamente a posição dos autores e não necessariamente da instituição para a qual trabalham ou estão vinculados.


Ana Maria Belotto é sócia do Madruga BTW. Lidera as áreas de Ética Corporativa e Compliance e Direito Ambiental e Sustentabilidade do escritório.

Claudia Chagas é sócia do Madruga BTW em Brasília, juntou-se ao Escritório após mais de 24 anos de carreira como Promotora de Justiça (MPDFT). Lidera a área de Proteção de Dados do escritório e atua nas áreas de Direito Ambiental, Direito Penal e Administrativo, em especial em temas ao Direito Sancionador, licitações e contratos.

Guilherme Serra é sócio do Madruga BTW em Brasília. Com destacada atuação em Direito Público.  Atua no assessoramento jurídico para investidores com interesse em participar de licitações e explorar atividades reguladas por meio de PPPs (parcerias público-privadas), concessões, permissões ou autorizações nos setores de Saneamento, Mobilidade Urbana, Habitação, Iluminação Pública, Transporte Rodoviário, Infraestrutura Social (Educação e Saúde), Irrigação, Parques e Florestas, Ferroviário, Portos e Aeroportos.

Marilda Nakane é consultora do Madruga BTW. Atua na equipe de Direito Ambiental e Sustentabilidade. Advogada com especialização em Estratégia e Negociação Internacional pela Universidade de Brasília (UnB) e em Gestão Estratégica de Carbono pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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