Biocombustíveis

Carros elétricos emitem até 67% menos CO2 que flex, diz estudo

ICCT Brasil indica modelos a bateria mais eficientes no corte de emissões da frota leve

Transição energética está mudando o mercado de armazenamento de energia. Na imagem, estação carrega bateria de veículos elétricos com energia solar fotovoltaica (Foto: Envision Solar/Divulgação)
Estação carrega bateria de veículos elétricos com energia solar fotovoltaica (Foto: Envision Solar/Divulgação)

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Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
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Estudo do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT Brasil) publicado nesta terça (10/10) conclui que os veículos a bateria (BVE) – em todo o seu ciclo de vida – conseguem alcançar uma redução de 64% a 67% nas emissões de gases de efeito estufa, em comparação com os tradicionais a combustão com motores flex.

O cálculo considera a média de participação do mercado entre gasolina e etanol. Apesar de veículos flex representarem mais de 90% das vendas nacionais, o consumo de etanol ainda corresponde a cerca de um terço da energia consumida por eles.

Quando abastecidos apenas com etanol, veículos a combustão têm uma intensidade de carbono 32% menor do que os carros usando a média etanol-gasolina. Investimentos em eficiência para reduzir o consumo de combustíveis poderiam melhorar esse quadro em 12%, mas, ainda assim, os puramente a bateria continuariam na liderança.

“As pequenas reduções nas emissões do ciclo de vida em comparação com o status quo dos atuais veículos flex-fuel são insuficientes para alinhar as emissões da frota brasileira de automóveis de passageiros com as metas climáticas do Brasil”, observa o relatório.

“Alinhar o setor dos transportes com o objetivo de atingir emissões líquidas zero em toda a economia até 2050 exigirá, em vez disso, uma mudança para veículos elétricos”, defende.

Híbrido e célula a hidrogênio

O benefício climático dos híbridos (HEV) – modelo preferido dos brasileiros no mercado de eletrificados – também é limitado.

Segundo a pesquisa, em comparação a veículos flex, quando ambos utilizam etanol, as reduções de emissões dos HEVs chegam, no máximo, a 15%.

Os pesquisadores reconhecem que o etanol brasileiro pode reduzir significativamente as emissões em comparação com a gasolina fóssil. No entanto, mesmo assumindo que os híbridos funcionariam exclusivamente com etanol durante toda a sua vida útil, as emissões do ciclo de vida seriam 85% mais elevadas do que as dos BVEs que utilizam energia do grid.

A matriz elétrica com mais de 80% de energia de fonte renovável é um fator determinante nessa “competitividade climática”.

Até a célula a combustível hidrogênio (FCVE) fica um pouco atrás na eficiência do carbono.

De acordo com o estudo, as emissões de GEE ao longo do ciclo de vida dos FCEV a hidrogênio podem se aproximar das dos BEV, mas apenas quando o hidrogênio for de fontes renováveis.

“No entanto, ao incluir as perdas de energia durante a produção e compressão do hidrogênio, isto tem o custo de utilizar três vezes mais energia elétrica do que os BEVs”, explica.

Mobilidade verde

O governo brasileiro trabalha em novas regras para atualizar o Rota 2030 e a expectativa é que o programa de incentivos à eficiência do setor automotivo considere diferentes soluções de descarbonização. A eletrificação deve ser uma delas.

O relatório do ICCT Brasil (.pdf) vem acompanhado de algumas recomendações para o novo Rota 2030, que passará a ser chamado Mobilidade Verde.

Uma delas diz respeito ao cálculo da eficiência, que agora deverá considerar as emissões, além do consumo de combustíveis, com a incorporação da metodologia desenvolvida para o Renovabio. Entenda

“Esta mudança cria incerteza sobre como as emissões são determinadas, especialmente para os flex-fuel. O impacto climático dos flex-fuel depende se eles operam exclusivamente com etanol hidratado, com gasolina C ou com uma mistura desses combustíveis”, explica o ICCT.

Na visão dos especialistas, a média de participação de mercado de etanol e gasolina precisa ser considerada no cálculo, para melhor representar o consumo de combustível e as emissões relacionadas.

O grupo também sugere estímulos para a produção e comercialização de veículos elétricos a bateria em território nacional e maior incentivo para o abastecimento da frota existente com etanol – sugestões que aproximam o país do seu compromisso de descarbonização e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Onda de calor no Brasil

O consumo de energia elétrica cresceu 6,2% em setembro, impulsionado pela onda de calor que atravessa o Brasil. Foi o mês mais quente da história.

Ao todo, o país registrou uma demanda de 68.306 megawatts médios (MWm), em comparação aos 64.319 MWm do mesmo mês de 2022. Os dados preliminares são do Boletim InfoMercado Quinzenal da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE.

Biometano

O Brasil deve emergir como um dos países produtores de biometano com crescimento mais acelerado no mundo, nos próximos anos, destaca o relatório da IEA sobre as perspectivas de médio prazo para o mercado de gás, divulgado nesta terça (10/10).

A IEA cita que o mercado de biometano “ainda está em sua infância no Brasil”, mas que o país deve se tornar o quinto maior produtor do gás renovável do mundo em cinco anos.

Energia solar

A New Wave Energia, joint venture entre Gerdau e Newave Capital, vai investir R$ 1,4 bilhão na construção de uma usina solar fotovoltaica de 420 MWp em Minas Gerais. O projeto Arinos foi comprado da Voltalia e faz parte de um cluster em desenvolvimento com potencial para 2 GW. A transação inclui também participação na subestação do projeto.

Eólica offshore

A Equinor começou a operar nesta terça o maior complexo de energia eólica offshore do mundo. Dogger Bank, que terá 3,6 GW quando estiver concluído, fica na costa de Yorkshire, Mar do Norte, Reino Unido. A geração de energia elétrica começou na primeira das em três fases do complexo, cada uma com 1,2 GW de capacidade.

E-bike

A Tembici, empresa de tecnologia para micromobilidade na América Latina, está expandindo a oferta de suas bicicletas elétricas e sistemas de compartilhamento para oito capitais da América Latina e espera fechar o ano com um aumento de 220% no número de e-bikes em relação a 2022. Até o final de 2023, serão 30 mil bikes — elétricas e mecânicas –na frota.

Para 2024, a capacidade de produção pode chegar a mais 10 mil novas unidades elétricas– todas produzidas no Brasil, com tecnologia nacional e autonomia de 100 km.

A expansão acompanha um aumento da demanda pelo modal observado nos últimos três anos. De acordo com a empresa, os deslocamentos com as bicicletas elétricas saltaram de 56 mil para mais de 11 milhões em 2023.

Atualizado para retificar a intensidade de carbono dos veículos flex usando somente etanol em comparação com a média etanol-gasolina usada no Brasil.