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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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No Brasil desde 2004, a fabricante chinesa de máquinas e equipamentos pesados XCMG encontrou um terreno fértil para sua linha de produtos zero carbono.
“É um mercado que já existe e está carente de produtos de grande porte eletrificados”, afirma Ricardo Hidemi Senda, head de veículos elétricos da XCMG, em entrevista à agência epbr.
Ele conta que, por enquanto, a procura por soluções que ajudem as empresas nas suas jornadas de descarbonização têm crescido entre as multinacionais listadas em bolsa e com metas de emissões líquidas zero.
Mas a expectativa é que esse mercado comece a expandir conforme os governos estaduais e federal estabelecem regulações para induzir a transição energética.
“São Paulo, por exemplo, não pode mais emplacar ônibus a combustão. Só elétrico. Tá todo mundo gritando porque as montadoras tradicionais não têm chassis de ônibus elétricos”, exemplifica.
Na visão do executivo, o governo brasileiro precisa definir os prazos para a transição das frotas de veículos e equipamentos – e o mais rápido possível – tanto para a indústria poder programar sua linha de produção, quanto para atrair investimentos internacionais.
Um exemplo vem da política de hidrogênio. Senda revela que algumas empresas no Brasil estão interessadas em veículos a célula a combustível, mas sem uma perspectiva de desenvolvimento da cadeia de H2 no Brasil, a XCMG ainda não vê viabilidade de trazer essa tecnologia para cá.
“Já tem cliente querendo hidrogênio. Mas eu só fabrico equipamentos, não produzo combustível. Vamos colocar o equipamento em um aquário? Como abastece? Acho que vamos chegar lá, mas ainda vai demorar um pouquinho”.
Produtos net zero
A XCMG chegou ao Brasil com centros de distribuição e instalou sua primeira fábrica dez anos depois, em 2014, em Pouso Alegre (MG), com capacidade de produção de quase 10 mil equipamentos por ano.
Hoje, o grupo comercializa 160 tipos de produtos entre caminhões rodoviários e off-road, carregadeiras, escavadeiras e equipamentos para mineração e construção. Desse total, 50 são totalmente produzidos no Brasil.
Nem tudo é elétrico
O portfólio global da companhia – 3ª maior do mundo no mercado de linha amarela – conta com motores a combustão (90%), biocombustíveis, híbridos, elétricos a bateria e hidrogênio.
Para a linha de produtos net zero no Brasil, a aposta inicial é na eletrificação a bateria.
Um dos lançamentos é o cavalo mecânico 6×4 rodoviário E7-49T com tara de 10.800, carga máxima de bateria de 282 kWh e autonomia de 150 km. Um dos diferenciais do caminhão está na tecnologia de armazenamento de energia.
O sistema Swapping permite a substituição do pacote completo em cerca de seis minutos com a utilização de um dispositivo de troca de bateria, o que dá mais 150 km de autonomia para o motorista.
Já o carregamento é feito em uma hora, desde que em uma rede de 360 quilowatts.
Na frota pesada
Senda afirma que a eletrificação a bateria é viável até uma autonomia de 300 km. Acima disso, a solução deve vir do hidrogênio, com motores a célula a combustível.
“Com hidrogênio conseguimos chegar em torno de 800 a 1.000 quilômetros de autonomia. Essas vão ser as próximas matrizes energéticas”, diz.
Diferente de montadoras de veículos que estão investindo nos modelos híbridos, a XCMG não pretende trazê-los para o Brasil.
“É uma tecnologia ultrapassada. Estamos tendo alguns problemas nessa família de híbridos, porque a mistura de elétrico com a combustão dá mais autonomia, mas o histórico está mostrando que não tem um casamento”, justifica.
“Nos carros mais velhos, a parte elétrica ainda está funcionando quando a combustão começa a dar problema. O mercado vem mudando de direção”, completa.
Cobrimos por aqui:
- Governo planeja hubs de hidrogênio até 2035; transporte pesado pode alavancar demanda
- BNDES estuda elétricos no transporte urbano em mais de 30 cidades
- Mercado de carros elétricos cresce exponencialmente, mas concentrado
- Produção nacional de ônibus e caminhões elétricos avançará em 2023, projeta VWCO
Nos veículos leves etanol versus baterias
Enquanto os veículos 100% elétricos disparam no cenário mundial como a solução mais eficaz para reduzir as emissões fósseis, o Brasil vê crescer a popularidade dos modelos híbridos – movidos a combustível e eletricidade.
Os automóveis têm conquistado a preferência dos consumidores. Em 2022, aproximadamente 62% das vendas de eletrificados no país foram de versões híbridas.
A hibridização das frotas também é vista como melhor alternativa para a composição de veículos no Brasil em direção à eletrificação.
“Hoje no Brasil, um híbrido a etanol é um excelente agente de transição”, defende Ricardo David, sócio-diretor da Elev, startup brasileira de soluções para eletromobilidade.
Em entrevista à agência epbr, ele defende que o Brasil estabeleça uma política que fomente, ao mesmo tempo, o uso de elétricos puros e híbridos movidos a etanol, sem descartar nenhuma rota tecnológica.
“Temos que usar o elétrico e o etanol. Nós não podemos prescindir de um e de outro […] É importante ter uma política governamental com a combinação dos dois”. Entenda a discussão
E tem a célula a hidrogênio
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou o projeto de lei que prevê isenção do IPVA para carros elétricos ou movidos a hidrogênio.
O projeto agora segue para a decisão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que poderá sancioná-lo ou vetá-lo. Em suma, o texto estabelece que a isenção será concedida por meio de créditos vinculados à quota-parte estadual do IPVA.
Deste montante, 20% é destinado ao Fundeb, enquanto os 80% restantes são divididos entre municípios e a arrecadação estadual. Os créditos seriam limitados aos primeiros cinco anos de tributação do veículo.
No início de agosto, Tarcísio participou do lançamento da pedra fundamental da primeira estação experimental de abastecimento do mundo a adotar a tecnologia de reforma a vapor do etanol para produção de hidrogênio.
O projeto é resultado da parceria entre Shell, Hytron, Raízen, SENAI CETIQT e USP para avaliar a viabilidade do hidrogênio de etanol.
Para testar o abastecimento, o grupo firmou um memorando de entendimento com a Toyota, que fornecerá um veículo para os estudos. A previsão é de que a estação experimental esteja operando no segundo semestre de 2024.
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