newsletter
Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Com custos em queda e incentivos políticos, o crescimento na indústria de baterias superou quase todas as outras tecnologias de energia limpa em 2023, aponta relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
O estudo mostra uma tendência: em menos de 15 anos, os preços caíram mais de 90%, uma das quedas mais aceleradas no segmento de tecnologias relacionadas à transição energética.
Os preços das baterias de íon-lítio caíram de US$ 1,4 mil por quilowatt-hora em 2010 para menos de US$ 140 por quilowatt-hora em 2023, como resultado do ganho de escala na fabricação. A densidade energética também melhorou, o que permite o empilhamento em “pacotes muito mais leves e compactos” para transporte.
A corrida por instalações solares e eólicas e a necessidade de garantir o fornecimento de energia independente das condições climáticas está acelerando a demanda por sistemas de armazenamento associado às renováveis.
De acordo com a IEA, hoje o setor de energia responde por mais 90% da demanda total por baterias baseadas em íon-lítio – mercado que já foi dominado pelos produtos eletrônicos.
Apenas em 2023, o crescimento no setor de energia foi de mais de 130% em relação ao ano anterior, adicionando um total de 42 gigawatts (GW) ao redor do mundo.
No setor de transporte, a procura também se manteve aquecida, com as vendas de mais de 14 milhões de veículos elétricos no ano passado.
Previsão de expansão acelerada
A fabricação global de baterias mais do que triplicou nos últimos três anos – a maior parte da capacidade na China. Mas o relatório mostra que 40% dos planos anunciados para novas fábricas estão em países ricos como Estados Unidos e os membros da União Europeia.
“Se todos esses projetos forem construídos, essas economias teriam quase fabricação suficiente para atender suas próprias necessidades até 2030 no caminho para emissões líquidas zero”, diz a agência.
Para triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030, como foi acordado na COP28, serão necessários 1.500 GW de armazenamento. Isso significa multiplicar por seis a capacidade atual.
Os custos vão precisar cair ainda mais para viabilizar essa meta. E as cadeias de suprimentos precisam se diversificar – da extração e processamento dos minerais críticos até a fabricação das próprias baterias.
Alguns já entraram nessa corrida [contra a China]: Estados Unidos, União Europeia e Índia são exemplos de economias com programas e políticas industriais que tratam diretamente do tema.
Mercado brasileiro
No Brasil, o armazenamento de energia dá os primeiros passos para ganhar mercado e espaço nas políticas associadas à transição.
Entrou no Paten (PL 5174/2023), na lista de setores prioritários para financiamento. O texto também insere as baterias entre os produtos que recebem benefícios do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis). Aprovado pela Câmara em março de 2024, o projeto de lei ainda precisa passar pelo Senado.
Há ainda um movimento de associações empresariais para incluir a solução em leilões de energia.
Em recente nota conjunta (.pdf), Abaque, ABEEólica, Absae, Absolar e Abinee defendem a contratação de baterias associadas à geração renovável no leilão de reserva de capacidade marcado para agosto.
O grupo cita exemplos de China, Estados Unidos e Europa, que juntos somam cerca de 34 GW de energia renovável associada às baterias.
Uma mensagem do Energy Summit
O Energy Summit 2024, organizado em parceria com o MIT e considerado o principal evento de inovação e empreendedorismo em energia sustentável do mundo, anunciou um desconto exclusivo para mulheres que tenham interesse e sejam do setor de energia e que queiram ir ao evento. A categoria “Women In Energy Pass”, dará um desconto de até 80% no ingresso do público feminino.
Serão mais de 70 horas de programação, 5 trilhas de conteúdos, 5 palcos, 5.000m² de área de exposição, além de muito networking e inúmeras oportunidades de negócios com os principais stakeholders do ecossistema energético.
Para ter acesso ao desconto, basta acessar ao site da venda de ingressos pelo Sympla e selecionar a opção “Women In Energy Pass”: sympla.com.br/evento/energy-summit/2322095
Novos investimentos
O potencial do mercado brasileiro já desperta a atenção de companhias nacionais e estrangeiras.
Esta semana, a brasileira UBC Power (antiga Unicoba) anunciou o investimento de R$ 380 milhões em uma fábrica no Sul de Minas Gerais para o desenvolvimento de soluções de armazenamento de energia em BESS.
Os aportes previstos para aplicação entre 2024 e 2028 foram viabilizados a partir de uma parceria com o Governo de Minas e a agência de fomento Invest Minas.
As BESS são containers de baterias utilizadas em projetos de grande porte.
Em outra frente, a chinesa SolaX reestruturou seus negócios no Brasil no último ano para levar a solução de armazenamento às residências.
O grupo lançou sua tecnologia no mercado asiático em 2013 e no europeu em 2015. A chegada ao Brasil, no entanto, só ocorreu no ano passado, após a publicação da portaria 140 do Inmetro que permite a comercialização dos inversores híbridos.
“O mercado de armazenamento de energia no Brasil, assim como no resto do mundo, acaba ganhando mais relevância com a popularização dos veículos elétricos que contribuíram para a redução dos custos das baterias e, consequentemente, tornando esse produto mais acessível”, explica Gilberto Camargos, diretor-executivo da SolaX Power no Brasil.
Ele conta que a aplicação das baterias aos sistemas fotovoltaicos residenciais se popularizou em mercados como Europa, EUA, Austrália e Japão, como uma solução de segurança energética.
Aqui no Brasil, ele aponta que é uma forma de proteger o consumidor contra apagões, além de reduzir gastos com energia elétrica.
“Estamos vendo a classe residencial abrindo portas, gerando demanda e, consequentemente, vamos começar a ver grandes projetos aqui. Porque o armazenamento faz parte do processo de transição energética, as baterias entram na rede para contribuir e para trazer equilíbrio. Então, as próprias políticas públicas já estão olhando para esse ponto. É uma evolução da infraestrutura elétrica”, completa Camargos.
Substituindo geradores
No início deste mês, RD Saúde, rede que engloba as drogarias Raia e Drogasil, passou a testar o armazenamento em uma de suas farmácias em São Paulo, substituindo um gerador a diesel.
Desenvolvido pela Tecnogera, o sistema móvel de energia reaproveita baterias de lítio e teve investimento de R$ 1 milhão. A tecnologia é totalmente brasileira e a empresa espera movimentar o mercado de locação de energia em até R$ 5 milhões nos próximos cinco anos.
É uma solução para o fim da vida útil dos sistemas, cujo descarte ainda é uma questão desafiadora dada a necessidade de expansão desse mercado.
“Haviam poucas soluções para o que fazer com esse tipo de descarte depois que seu ciclo de vida em aplicações da mobilidade acabasse. Nós encontramos a solução: usá-las para o armazenamento e fornecimento de energia em mercados já existentes e que geralmente usam equipamentos a diesel”, explica Arthur Lavieri, CEO da Tecnogera.
Cobrimos por aqui:
- Regulação e custo são barreiras ao armazenamento de energia no Brasil
- Oncorp inicia operação de usinas híbridas no sistema isolado
- Armazenamento de energia pode movimentar mais de US$ 12,5 bi no Brasil
- Consórcio planeja ‘passaporte de bateria’ na UE
Artigos da semana
Atenua uma catástrofe, acentua outra Seguro para cobrir danos com eventos climáticos extremos não cabe na conta de luz, escreve Carlos Faria, da Anace
Reforma tributária traz um reflexo de esperança para as distribuidoras de energia elétrica Ampliação das hipóteses de destinação da COSIP traz argumento jurídico adicional para uma questão sensível do cotidiano das distribuidoras, escrevem Maria Clara Morette e Marcus Francisco