Política energética

Brasil trabalha para incluir mineração em princípios da transição justa do G20

Crescente busca por mineiras necessários para eletrificação preocupa e demanda coordenação global, defende delegação brasileira

Mariana Espécie, coordenadora do GT de Transições Energéticas do G20, com o Embaixador André Corrêa do Lago durante coletiva no último dia de reunião do terceiro encontro do GT, em 29-5-2024 (Foto: G20 Brasil)
Mariana Espécie, coordenadora do GT de Transições Energéticas do G20, durante coletiva ao lado do Embaixador André Corrêa do Lago, no último dia do encontro (Foto: G20 Brasil)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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A presidência rotativa do Brasil no G20 quer incluir a mineração no documento com princípios para transições energéticas justas e inclusivas, em elaboração pelo grupo das 20 maiores economias do mundo.

Segundo Mariana Espécie, assessora especial do ministro de Minas e Energia e coordenadora do GT de Transições Energéticas do G20, há uma discussão sobre incluir a mineração no texto pensando em como fazer esse processo de forma responsável, sustentável e segura.

“Falar em transição energética não significa que a gente vai entrar em um admirável mundo novo. A gente tem uma série de novos impactos e questões a considerar. A mineração é uma delas”, disse a jornalistas nesta quarta (29/5) no encerramento da terceira reunião do GT.

Ela citou estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) que apontam que a demanda por lítio deve crescer 40 vezes, até 2040, seguida por níquelcobalto grafite, que terão aumento entre 20 e 25 vezes em relação ao mercado atual.

“É um número que assusta. Se, desde agora, não começarmos a olhar de uma forma bastante holística para esse processo, corremos o risco de implementar e fazer dessa transição energética a reprodução de modelos de produção e desenvolvimento que temos visto até o momento. Temos que fugir disso”.

Também nesta quarta, o movimento Salve Gandarela levou um abaixo assinado à porta do Minascentro, em Belo Horizonte, onde o GT de Transições Energéticas está reunido. A intenção era chamar a atenção sobre os impactos do projeto de mineração Apolo, da Vale, na Serra do Gandarela, a 50 km da capital mineira.

O grupo diz que não é contra a mineração, mas alerta que a área escolhida para o empreendimento é sensível e pode acarretar na perda de cachoeiras e reserva hídrica, afetando a região metropolitana de BH, além da contaminação do ar com a poeira da mineração.

Outra preocupação da presidência brasileira é a diversificação da cadeia de suprimentos. Espécie conta que há uma discussão sobre como gerar contrapartidas positivas para os países onde esses recursos são explorados.

“É uma discussão que tivemos uma boa recepção e estamos otimistas que chegaremos ao final desse processo com uma boa construção e uma versão consensuada do que podemos esperar desse tema da mineração”.

Combate à pobreza energética

Países emergentes precisam de planejamento estratégico para reduzir riscos de investimentos em novas energias e garantir que a transição ocorra de forma justa, aproveitando potenciais regionais, defenderam na terça (28/5) representantes da IEA e do governo brasileiro.

“Desigualdade e pobreza energética estão no centro das transições energéticas e no que os governos devem se focar”, disse a jornalistas a analista sênior de Políticas da IEA, Jane Cohen, em Belo Horizonte.

“O Brasil tem colocado foco nestas discussões, e nós, da IEA, também estamos trabalhando para aderir, através das nossas recomendações, às governanças. O que vemos é que muitos dos mesmos princípios estão por trás destes diferentes assuntos, como garantir a participação de todos os setores da população e discutir quais são os tipos de políticas que serão mais relevantes”, completou.

Para a analista, é preciso cooperação internacional para endereçar questões complexas como disputas comerciais – a exemplo da que ocorre entre EUA, Europa e China pelos mercados de energias renováveis, baterias e veículos elétricos.

O protecionismo europeu também tem recaído sobre os produtos brasileiros, com resistências aos biocombustíveis e, mais recentemente, com o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono, que não considera a renovabilidade da matriz elétrica – apenas emissões dentro da fábrica.

“A geopolítica é sempre complicada, mas é claro que é preciso lidar com as questões das mudanças climáticas. Precisamos descarbonizar e pensar em maneiras que os governos e países ao redor do mundo podem cooperar. Há conversas muito interessantes, por exemplo, sobre financiamento e como o financiamento pode ser mais efetivo”.

Segundo Cohen, encontros como os do G20 são espaços onde essas conversas difíceis devem ocorrer.

“Precisamos ter essas conversas difíceis para realmente discutir como, dentro das prioridades nacionais, essa cooperação muito crítica pode funcionar”.

O terceiro encontro do GT encerrou nesta quarta (29/5). O próximo será em outubro, em Foz do Iguaçu (PR), onde ministros de Energia irão referendar os encaminhamentos discutidos até então.

Crise climática ameaça lítio

Análise da PwC aponta que cenários de seca e aumento da temperatura, até 2050, ameaçam nove commodities críticas para o futuro do planeta, entre elas, cobre, cobalto e lítio.

Mais de 70% da produção desses minerais cruciais para fabricação de tecnologias de energias renováveis e veículos elétricos poderão enfrentar riscos mesmo que haja uma regressão nas emissões globais de carbono rapidamente (cenário de baixas emissões).

Cerca de 60% da produção mundial de bauxita e ferro também estarão em risco até 2050.

Essas perspectivas estão no radar de parte dos investidores. A pesquisa mostra que 47% dos CEOs estão tomando medidas para proteger suas forças de trabalho e ativos físicos contra os riscos climáticos.

“Embora os CEOs estejam tomando medidas para reduzir as emissões e se adaptarem às alterações climáticas, é necessário fazer mais. As empresas precisam compreender suas dependências e impactos e, em seguida, trabalhar com governos e comunidades para transformar os seus padrões de consumo e produção”, comenta Patrícia Seoane, sócia da PwC Brasil e líder para o segmento de Mineração.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Margem Equatorial depois da COP30

A decisão sobre explorar a Margem Equatorial não deve ser tomada antes da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém (PA), em novembro de 2025, disse o coordenador-geral de mudanças do clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Thiago Longo Menezes, na terça (28/5).

De acordo com ele, é necessário um alinhamento entre os ministérios e o presidente Lula sobre a estratégia do Brasil para a transição energética e como a Margem Equatorial se encaixa nesse planejamento. Leia na epbr

Câmara aprova Mover

Os deputados federais aprovaram o texto-base do Mover, que prevê incentivos de R$ 19,3 bilhões em cinco anos e redução do IPI para estimular a fabricação de carros e outros veículos menos poluentes. Decreto presidencial e portarias já definiram o imposto menor e quais projetos das indústrias e montadoras poderão ser beneficiados. O projeto está na pauta do Senado desta quarta. A MP que antecipou a criação do programa expira no próximo dia 1º de junho. (Agência Brasil)

Clima extremo

O serviço meteorológico da índia registrou um dia de calor intenso por todo o país na terça, especialmente na capital, Nova Dheli. A cidade registrou um recorde histórico, com temperatura de 49,9°C. A máxima anterior havia sido de 49,2ºC, em 2022. O recorde foi ultrapassado nesta quarta-feira (29), após registro de 52ºC. (CBN)

Equidade de gênero 1

A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei Complementar 218/23, que institui o Orçamento Sensível às Mulheres (OSM). O objetivo é promover a igualdade entre homens e mulheres, a inclusão social e a redução das desigualdades sociais na distribuição de recursos da União. (Agência Câmara)

Equidade de gênero 2

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados realiza uma audiência pública na próxima segunda-feira (3) sobre reforma tributária e equidade de gênero. A intenção é discutir os impactos dessas políticas no consumo, considerando suas diferentes repercussões sobre homens e mulheres. (Agência Câmara)

Para a agenda

“Responsabilidade em Ação: Construindo Pontes para Parcerias Norte-Sul” é o tema do Climate Solutions Forum (CSF), evento anual da Foundations 20 (F20) que ocorre nos dias 4 e 5 de junho, no Rio de Janeiro. O evento organizado pela Plataforma F20, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS) terá painéis sobre mudanças climáticas e combate às desigualdades. Inscrições para acompanhar presencial ou virtualmente aqui