Biocombustíveis

Brasil precisa discutir contrapartidas sociais de novas energias

Segundo ministro, o país é um dos poucos mercados em desenvolvimento onde a energia é financiada pelo consumidor

Alexandre Silveira participa da terceira reunião do Grupo de Trabalho de Transição Energética do G20, em Belo Horizonte, MG, em 27/5/2024 (Foto: Ricardo Botelho/G20 Brasil)
Alexandre Silveira participa da terceira reunião do Grupo de Trabalho de Transição Energética do G20, em Belo Horizonte, MG (Foto: Ricardo Botelho/G20 Brasil)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Ao discutir políticas para novas fontes de energia, como hidrogênio de baixo carbono e energia eólica offshore, o Brasil deve colocar na mesa as contrapartidas que serão deixadas para a sociedade, defendeu nesta segunda (27/5), o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD).

Silveira participou da terceira reunião do grupo de trabalho de transições energéticas do G20, em Belo Horizonte. São três eixos prioritários elencados pela presidência brasileira: reduzir o custo do financiamento, incorporar a dimensão social na transição energética e impulsionar os combustíveis sustentáveis.

Segundo o ministro, o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento onde a energia é financiada pelo consumidor e não há mais espaço para subsídios a fontes que já se pagam.

“A eólica, por exemplo, para estimular a eólica, nada foi feito de contrapartida social porque era uma fase ainda para dar subsídio para crescer a indústria de renovável. Agora, na minha opinião, cessa a necessidade de o consumidor brasileiro pagar mais para estimular a eólica. Ela já anda por si só, seja por causa do hidrogênio verde, seja por causa da indústria, que ela pode vender direto”.

E disse que é preciso “aceitar menos pressão do mercado financeiro e abrir mais espaço para política pública”.

“Nós temos que discutir contrapartida para essas fontes de energia. Não estou dizendo taxar. É discutir alternativas de contrapartida social para fontes de energia e para mineração, porque não há transição energética sem lítio, sem cobre. Agora, como fazer é um desafio porque ela tem que ser sustentável e segura. As empresas não podem fazer do jeito que elas querem. Sabe qual é o grande desafio que o Brasil vive nesse momento? Se tornar o Estado necessário”, completou.

Silveira também defendeu que o Brasil ainda tem vocação para geração hidrelétrica, apesar de críticas de organizações ambientais, principalmente através das pequenas centrais (PCHs), e disse que quer voltar a discutir essa fonte.

“É energia limpa, renovável, de pouco impacto ambiental e contrapartida social enorme”.

Energia como ponto de inflexão

O Nordeste brasileiro reúne R$ 165 bilhões em investimentos em eólica e solar previstos para entrar em operação em 2025. Só no hidrogênio verde, um único hub, no Ceará, tem mais de R$ 30 bilhões previstos, de acordo com o MME.

“A energia vai ser o ponto de inflexão no mundo ainda nessa década. Com a era do hidrogênio verde, com a era da exportação, da quebra de molécula do etanol, você vai fazer com que a energia seja o principal fator de inflexão no mundo”, disse

“Hidrogênio verde produz amônia, a amônia produz a ureia. Nós somos importadores. Nós somos o oitavo maior consumidor de nitrogenados no mundo e só produzimos 5% de nitrogenados no Brasil. Isso é segurança alimentar”, completou.

Etanol na transição global

Como presidente rotativo do G20, o Brasil também quer aproveitar a oportunidade para abrir novos mercados para os biocombustíveis.

Em entrevista à agência epbr, o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, disse que a grande entrega que o Brasil está fazendo com o G20 é mostrar a capacidade de descarbonização do etanol.

“Por incrível que pareça, é algo que ainda é muito desconhecido em muitos lugares do mundo. Então, [mostrar] o nível de redução de emissões que o etanol já está promovendo neste momento é uma entrega bastante importante”.

Outra agenda é o potencial dos carros híbridos, que combinam eletrificação e biocombustíveis.

Parte dos mais de R$ 100 bilhões em investimentos anunciados por montadoras no Brasil este ano miram a tecnologia, defendida pela indústria de etanol como um caminho para garantir a operação do setor, ao mesmo tempo em que acompanha o movimento internacional de eletrificação.

“A tecnologia híbrido flex é uma promotora de investimento no Brasil. A gente percebe que mostrar esse grande ativo que o Brasil tem para o mundo tem sido um grande divisor de águas”.

Além dos bioelétricos, o setor mira novos combustíveis para aviões e navios, e até mesmo hidrogênio.

“O etanol e o biometano figuram entre as principais rotas para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), para a produção de combustível marítimo sustentável e todo o processo de hidrogênio. O etanol tem se revelado como uma bela forma de armazenar e de transportar hidrogênio”, completa o CEO.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Combustível do Futuro para novas indústrias

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse nesta segunda (27/5) que a intenção da política do Combustível do Futuro, em discussão no Senado, é incentivar novas indústrias e que a Petrobras tem “musculatura”, o que dispensa a necessidade de um mandato para o seu diesel coprocessado com óleos vegetais.

O ministro, no entanto, classificou a tentativa de incluir o coprocessado no mandato do diesel verde como “menos pior”, em comparação com a abertura para inserção do combustível – hoje, produzido apenas pela Petrobras – na política do biodiesel. Entenda

Acelen quer exportar SAF em 2027

O diretor da cadeia de renováveis da Acelen Renováveis, Yuri Orsi, afirmou nesta segunda que a empresa planeja iniciar a exportação de combustível sustentável de aviação a partir de 2027. Em entrevista ao estúdio epbr durante o evento ESG Energia e Negócios, promovido pelo IBP, Orsi destacou que a capacidade de produção da biorrefinaria no Brasil será de um bilhão de litros por ano. Veja detalhes

Clima extremo

O Inmet emitiu um alerta de perigo para chuvas na Região Sul do país, incluindo o Rio Grande do Sul, já fortemente afetado por enchentes. O alerta desta segunda cita chuvas entre 30 e 60 milímetros por hora ou entre 50 e 100 milímetros por dia, além de ventos intensos que devem variar de 60 a 100 quilômetros por hora. (Agência Brasil)

Privatização de praias

O Senado voltou a discutir a PEC 3/2022, que transfere a propriedade dos terrenos do litoral brasileiro, hoje sob o domínio da Marinha, para estados, municípios e proprietários privados. Aprovada em fevereiro de 2022 na Câmara dos Deputados, a PEC estava parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado desde agosto de 2023.

O tema, que está sob a relatoria do senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ), enfrenta resistência da base governista. Organizações ambientalistas alertam que a proposta traz o risco de privatização das praias por empreendimentos privados e pode comprometer a biodiversidade do litoral brasileiro. (Agência Brasil)

Licenciamento ambiental

Falta vontade política para uniformizar o licenciamento ambiental a nível nacional, o que dificulta a integração das regras estaduais, disse a secretária de Meio Ambiente de Goiás, Andréa Vulcanis, ao estúdio epbr durante o evento ESG Energia e Negócios. Ela explicou que a desarticulação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Cisnama) e o enfraquecimento do Conama nos últimos anos criaram um cenário de soluções isoladas nos estados. Leia na epbr

Chegou a hora das baterias?

Uma das principais dificuldades associadas às fontes renováveis no Brasil, a dependência do clima para a geração, pode estar próxima de uma solução, conforme as empresas de diferentes perfis se movimentam para estocar em baterias a energia gerada pelas usinas eólicas e solares. As companhias interessadas veem no leilão de reserva de capacidade deste ano a primeira grande oportunidade para o armazenamento ganhar espaço no país. Entenda

Novas hidrelétricas sem Cemig

O vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus Simões (Novo), defendeu nesta segunda (27/5) que o estado volte a pensar na geração hidrelétrica, ainda que de menor porte. Segundo Simões, há estudos indicando que é possível dobrar a capacidade no estado. No entanto, ele defendeu que novos investimentos sejam realizados por outras empresas, e não pela Cemig. Leia na epbr

Solar fotovoltaica chega a 43 GW

Segundo a Associação Brasileira de Energia fotovoltaica (Absolar), de janeiro a maio deste ano, a fonte solar adicionou 6 GW na matriz elétrica nacional, somando as grandes usinas solares e os sistemas de geração própria de energia. Atualmente, a participação da fonte equivale a 18,2% da capacidade da matriz elétrica brasileira. Na geração distribuída, são 29,2 GW de potência. Já no segmento de geração centralizada, as grandes usinas solares somam mais de 13,8 GW.

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