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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Esta semana a companhia aérea brasileira GOL anunciou que vai comprar créditos de carbono emitidos por empresas que usam combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) para reduzir sua pegada de carbono, enquanto o marco legal do Combustível do Futuro não vem.
Também esta semana, o Grupo Mele de produção de biogás, no Paraná, disse que vai exportar petróleo sintético para produção de SAF em refinarias na Alemanha, um projeto financiado pelo governo alemão com o programa H2Uppp.
Os dois anúncios mostram que, tanto do lado da demanda, quanto da oferta, os investidores brasileiros estão se movimentando para surfar a onda da transição energética e aproveitar os incentivos econômicos criados para acelerá-la.
Em entrevista exclusiva à agência epbr, o vice-presidente sênior da S&P Global Commodity Insights, Carlos Pascual, avalia que vai ser importante que o país desenhe uma estratégia para atuar nesse mercado.
Isso inclui, por exemplo, decidir se quer produzir SAF ou exportar etanol para que o combustível final seja fabricado em outras regiões.
Caso escolha exportar a matéria-prima, o consultor acredita que os produtores brasileiros podem se beneficiar da Lei de Redução da Inflação (IRA), pacote do governo de Joe Biden, que destinou US$ 430 bilhões para estimular a transição energética nos Estados Unidos
“Há companhias que estão exportando a tecnologia do etanol de segunda geração para outros países, como os Estados Unidos. Com isso, podem formar parcerias com produtores americanos que podem aproveitar os subsídios do IRA”, diz. Leia na reportagem de Gabriela Ruddy
Um exemplo vem da brasileira GranBio, que receberá US$ 80 milhões para instalar uma planta com capacidade produtiva de 1,5 milhão de galões de SAF ao ano nos Estados Unidos.
O subsídio faz parte do programa SAF Grand Challenge Roadmap, do Departamento de Energia (DoE) dos EUA, para impulsionar projetos de ampliação de novas tecnologias de produção de SAF em escala comercial e atender 100% da demanda de combustível de aviação doméstica com produtos de baixo carbono até 2050.
O Combustível do Futuro
Só que se contentar em exportar matéria-prima e abrir mão de estabelecer essa nova indústria por aqui significa vender produtos de baixo valor agregado para depois comprar o combustível mais caro.
No mundo, o mercado de biorrefinarias – onde se produz SAF e outros bioprodutos – deve ultrapassar US$ 1,4 trilhão até 2030, calcula a ResearchAndMarkets.
China e Estados Unidos vão liderar os investimentos no biorrefino, atraindo US$ 239 bilhões e US$ 182,8 bilhões, respectivamente.
O Brasil tem quase tudo para entrar nesse mercado e se posicionar entre os líderes, com matéria-prima de sobra e expertise na produção de biocombustíveis.
Falta um marco legal para incentivar toda a cadeia – da oferta à demanda.
É o que está em jogo no projeto de lei do Executivo do programa Combustível do Futuro.
A proposta do governo está na Casa Civil e pretende estabelecer um mandato de redução das emissões de CO2 em 1%, no mínimo, aos operadores aéreos, para criar uma demanda doméstica pelo produto de baixo carbono.
O mandato passaria a valer a partir de 1º de janeiro de 2027, em voos domésticos, e a redução precisará ser alcançada com uso de SAF misturado ao querosene fóssil.
O marco é aguardado com bastante expectativa pelos mais diversos agentes desse mercado, desde investidores interessados em estabelecer biorrefinarias em território brasileiro (Petrobras, Acelen e BBF), até companhias aéreas que vão precisar descarbonizar suas operações por conta de compromissos internacionais.
Em entrevista à Diálogos da Transição no final de junho, o secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento e Indústria (MDIC), Rodrigo Rollemberg, disse que o Combustível do Futuro está entre as prioridades da agenda industrial para o segundo semestre.
Cobrimos por aqui:
- Falta política pública para novas energias se instalarem no Brasil
- Transição energética na aviação custará US$ 5 tri até 2050; veja quem já está investindo
- Gigantes da aviação se preparam para uso de combustível 100% renovável
Curtas
Como está o presidente Lula no clima?
A Nature consultou pesquisadores e outros especialistas para ver como avaliam o desempenho de Lula (PT) até agora. Em uma escala de 1 a 5, as avaliações são positivas, mas mistas. O desmatamento caiu, mas os entrevistados dizem que ele precisa tomar uma posição mais forte em relação aos combustíveis fósseis.
Produtores de cana se mobilizam para emitir CBIOs
Representantes da Organização das Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) se reuniram na quarta (9/8) com o deputado Benes Leocádio (União/RN) para pedir apoio ao projeto de lei que destina parte das receitas dos Créditos de Descarbonização do RenovaBio (CBIOs) aos os produtores de matéria-prima.
Leocádio é relator na Comissão de Minas e Energia da Câmara, onde o PL está sendo analisado. O texto já foi aprovado pela Comissão de Agricultura. Atualmente, a emissão de CBIOs é restrita aos produtores de biocombustíveis.
Carvão vegetal no Fundo Clima
O BNDES aprovou financiamento de R$ 54,5 milhões para a Vallourec Tubos do Brasil investir na modernização do processo de produção de carvão vegetal, utilizado na produção de aço pela empresa. É a primeira operação com recursos do Fundo Clima, programa que financia projetos de mitigação das mudanças climáticas, voltada a um projeto de carvão vegetal.
Os recursos serão investidos na implantação de três reatores verticais contínuos para a produção de carvão vegetal em uma das instalações do grupo em Minas Gerais. O reator tem zero emissão de metano e permite ainda cogeração de energia elétrica e produção adicional de bio-óleo.
Incentivo ao transporte público
Pesquisa da CNI sobre mobilidade urbana mostra que redução da tarifa e do tempo de espera são os principais estímulos para a população usar o transporte nas grandes cidades
De acordo com o levantamento, os brasileiros não usuários de transporte público passariam a usá-lo caso algumas melhorias fossem feitas. Governança e gestão pública da política de mobilidade são outros pontos. Para 57% dos entrevistados a atuação do poder público local no planejamento da mobilidade urbana a longo prazo é pouco ou nada avançada.
Geradores a hidrogênio
Com investimento inicial vai de 550 mil euros, a empresa cearense de locação de energia CSI Gerpower fechou parceria com a Qair para trazer ao Brasil dois geradores a hidrogênio verde, vindos da França. A iniciativa permitirá que grandes eventos sejam alimentados por energia renovável.
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