Combustíveis e Bioenergia

Quem é Adolfo Sachsida, que assume MME no meio da crise dos combustíveis

Auxiliar direto de Paulo Guedes, Sachsida é um dos principais responsáveis por promover a política econômica

Adolfo Sachsida, Bolsonaro e Paulo Guedes – novo ministro de Minas e Energia é um dos principais auxiliares de Guedes e assume no meio da crise dos combustíveis
Novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, é um dos principais auxiliares de Paulo Guedes (Foto: Washington Costa/ME)

Um dos braços direitos de Paulo Guedes, o economista Adolfo Sachsida assume nesta quarta (11/5) o comando do Ministério de Minas e Energia (MME), após a exoneração do almirante Bento Albuquerque. Sachsida assume a pasta na reta final dos planos do governo para privatizar a Eletrobras, uma das maiores prioridades da equipe econômica este ano.

“O ministério tem isso como prioridade. Tenho certeza que o TCU [Tribunal de Contas da União] tem isso [a privatização da Eletrobras] como prioridade”, disse há três semanas durante evento promovido por uma corretora.

“Vender a Eletrobras é uma prioridade para o nosso governo. Temos que insistir na agenda de privatizações e concessões. Agora, além disso, existem alguns desenhos equivocados que foram feitos no passado no mercado de energia. Esse mercado precisa voltar a fazer sentido”, reforçou em entrevista ao Estadão.

Sachsida chega ao comando do MME após a articulação do governo federal assegurar um adiamento menor da tramitação no TCU. Em 20 de abril, a presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministra Ana Arraes, concedeu vistas coletivas de 20 dias ao colegiado para analisar a modelagem no processo de capitalização da Eletrobras.

O próprio governo dava o adiamento como certo e, com o prazo reduzido, conta que será possível liquidar o controle da União na estatal até julho. Foi uma vitória nos planos para garantir a capitalização da Eletrobras ainda neste ano.

Mas há incertezas. Fora do TCU, parlamentares do PT tentam uma liminar na Justiça Federal para paralisar a venda. A ação se baseia na divergência do ministro Vital do Rêgo, que apontou uma subavaliação de R$ 46 bilhões no valor da empresa, em seu voto vencido, em fevereiro.

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Inflação, diesel, Petrobras e teto de gastos

Adolfo Sachsida deixa o cargo de chefe da Assessoria Especial do Ministro da Economia, que assumiu em fevereiro. Ele entrou no governo Bolsonaro em 2019, com Paulo Guedes, no cargo de secretário de Política Econômica. Antes, fez carreira como pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), onde atuou desde 1997.

Na assessoria de Guedes, tem sido um dos principais porta-vozes contra o que o ministro chama de “narrativas” contra a política econômica. Para Guedes, a economia está no rumo correto, em razão das bases fiscais e a despeito da inflação e do empobrecimento da população.

Sachsida faz parte da equipe que defende o controle e o teto de gastos, alvo da ala política do próprio governo e sua base no Congresso Nacional, que tenta colocar de pé medidas para favorecer a reeleição de Bolsonaro.

É, portanto, um defensor da política de preços vigente, que leva em conta o valor internacional dos combustíveis.

“Digo, repito e mostro a evidência. A consolidação fiscal é peça chave na nossa estratégia econômica baseada no binômio econômico: consolidação fiscal e reformas pró-mercado para aumento de produtividade”, costuma publicar Sachsida em suas redes sociais.

Diesel e subsídio

Esta semana, Paulo Guedes e Adolfo Sachsida evitaram comentar o reajuste de 9% do diesel feito pela Petrobras, após Bolsonaro exigir o congelamento dos preços do combustível.

Internamente, a equipe econômica é responsável por evitar, desde o ano passado, a utilização de recursos do Tesouro Nacional para subsidiar o diesel ou outros combustíveis, como a gasolina, que pesa nos custos de motoristas autônomos e entregadores de aplicativos.

Junto com os caminhoneiros, são categorias que preocupam a ala política, pelo efeito da crise econômica na conversão de votos para Bolsonaro e seus aliados.

Uma MP para destinar recursos do Tesouro, com aporte direto, chegou a ser discutida em 2021. Seria uma medida similar à subvenção criada por Michel Temer, para encerrar a Greve dos Caminhoneiros de 2018. Solução segue na gaveta do governo.

A equipe econômica, contudo, conseguiu conter a medida ano passado e convencer o governo que um “vale-diesel” de R$ 400 para caminhoneiros seria mais eficiente e barato. Custaria menos de R$ 4,5 bilhões até o fim deste ano, menos do gasto da ordem de R$ 30 bilhões que chegou a ser estimado para um subsídio do diesel.

Jair Bolsonaro chegou a anunciar a medida, mas nunca saiu do papel. O pagamento para caminhoneiros foi rejeitado pela categoria, que classificou a medida como uma ‘esmola’ do governo. Os caminhoneiros querem mesmo a interferência para paralisar a política de reajustes da Petrobras.

Outra medida, um “vale-gasolina”, que mira os motoristas de aplicativo, perdeu o timing — a legislação eleitoral proíbe criação de benefício em ano eleitoral.

Bento Albuquerque foi exonerado menos de uma semana após Bolsonaro exigir, na quinta (5/5), que a Petrobras mantivesse os preços do diesel congelados até o fim da crise internacional que provocou uma disparada dos preços do combustível. Quatro dias depois, a companhia reajustou os preços em 9%.

“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação, levando-se em conta o lucro abusivo que vocês [Petrobras] têm. Vocês não podem quebrar o Brasil”, disse Bolsonaro na semana passada.

Em março, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou logo após a aprovação do PL 1472/2021 no Senado Federal que apenas se a crise provocada pela guerra na Europa se intensificar, o governo começará a “pensar em subsídio” para o diesel.

O projeto aprovado pelo Senado Federal conta um vale-combustível proposto pelo próprio governo federal aos parlamentares e inclui a criação de uma espécie de fundo para subsidiar diesel, gasolina e GLP, a conta de estabilização de preços.

O texto foi relatado pelo senador Jean Paul Prates (PT/RN), em uma articulação que envolveu as lideranças do governo federal na casa, base e partidos do centrão.

A inclusão do vale-combustível no PL 1472/2021 partiu do próprio governo federal, após reuniões com Jean Paul e outros senadores.

Uma espécie de voucher é a opção preferida da equipe econômica e de parte da classe política, incluindo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), que já defendeu um benefício “focalizado”.  Até mesmo a possibilidade de implementar um cashback para compra de combustível foi discutida.

Tanto Bento Albuquerque, como José Mauro Coelho defendiam o fundo. A Economia é contra. O MME defende a criação da conta para controle de volatilidade de preços desde 2020.

“O que foi aprovado hoje é muito importante para o país porque evita justamente a volatilidade dos preços dos combustíveis, tanto para cima, como para baixo”, disse o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque na aprovação do PL 1472 no Senado Federal.