Diálogos da Transição

Aumento de preços do petróleo pode criar armadilha de ativos ociosos, aponta estudo

Empresas podem evitar desperdício de US$ 500 bilhões se considerarem o cenário de 1,8ºC das Nações Unidas, diz Carbon Tracker

“Preços do petróleo se recuperaram fortemente à medida que economia global se recupera da pandemia de Covid, mas é improvável que tendência dure”, diz think tank (foto Port Arthur/Pixabay)
“Preços do petróleo se recuperaram fortemente à medida que economia global se recupera da pandemia de Covid, mas é improvável que tendência dure”, diz think tank (foto Port Arthur/Pixabay)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 31/01/22

Editada por Nayara Machado
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Um relatório do Carbon Tracker alerta que a alta dos preços do petróleo pode levar empresas de O&G a tomar decisões de investimento em novos projetos de longo prazo, mas uma abordagem cautelosa para a transição energética faria mais para preservar valor para os acionistas e ajudar a sociedade a atingir as metas climáticas.

Segundo o documento divulgado na última semana (.pdf), as empresas podem evitar o desperdício de US$ 500 bilhões se considerarem o cenário de 1,8ºC das Nações Unidas, mesmo que a demanda aumente no curto prazo.

“Os preços do petróleo se recuperaram fortemente à medida que a economia global se recupera da pandemia de Covid, mas é improvável que essa tendência dure”, diz o think tank.

“Os compromissos climáticos dos governos combinados com a rápida mudança para veículos elétricos reduzirão a demanda de petróleo a longo prazo”, continua.

A análise considera as implicações financeiras de um futuro em que a demanda por óleo atinja seu pico ainda nesta década e depois caia rapidamente.

E aponta que o melhor caminho para atender a essa demanda, preservando o valor, é manter uma abordagem conservadora no investimento de longo prazo e atender à demanda de curto prazo com projetos de shale que podem fornecer nova produção rapidamente.

Por outro lado, se as empresas investirem em projetos de alto custo na expectativa de preços altos contínuos, o mercado poderá sofrer um excesso de oferta à medida que a demanda caia, levando os preços para baixo.

“As empresas podem ver os preços altos como um enorme sinal de néon apontando para o investimento em mais oferta. No entanto, isso pode se tornar um cenário de pesadelo se eles avançarem com projetos que entregam petróleo na época em que a demanda começa a diminuir”, explica Axel Dalman, analista de Petróleo e Gás e principal autor do relatório.

“Os acionistas podem enfrentar níveis catastróficos de destruição de valor à medida que os preços caem”, completa.

O relatório identifica alguns projetos de alto risco, que dependem de um preço de petróleo de equilíbrio de mais de US$ 50/barril e só começariam a produzir no final desta década:

  • Lower Fars Heavy Oil de US$ 7,5 bilhões da Kuwait Petroleum Corp (Fase 2) no Kuwait;

  • Bosi de US$ 6,7 bilhões da ExxonMobil e da Shell na Nigéria;

  • Tupi de US$ 3,1 bilhões da Petrobras, Shell e Galp no Brasil;

  • Projeto Bacalhau e Bacalhau Norte (Fase 2) de US$ 3 bilhões da ExxonMobil, Equinor, Galp e Sinopec no Brasil.

No caso de Tupi, o Carbon Tracker considera a possibilidade de instalação da 10ª plataforma no campo até 2030. O investimento não consta no plano de negócios vigente da Petrobras.

Preço do petróleo versus novas tecnologias. A forte recuperação na demanda por petróleo e a elevação nos preços está levando a pedidos crescentes por mais investimentos, avalia o Carbon Tracker.

Em meados de janeiro de 2022, o petróleo Brent estava em torno de US$ 80 o barril, acima dos US$ 50 do ano anterior. Na semana passada, atingiu a máxima dos últimos sete anos, acima de US$ 90 o barril.

O banco de investimentos Goldman Sachs diz que os preços podem chegar a US$ 100 e prevê cerca de US$ 85 para os próximos anos.

Em contrapartida, o relatório chama a atenção para a mudança repentina na demanda por combustível fóssil nos próximos cinco anos.

Entre elas, o crescimento nas vendas de elétricos: Registros de carros elétricos aumentaram 41% em 2020, diz IEA

A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) também indica que não há necessidade de nenhum novo investimento na produção de combustíveis fósseis se o mundo pretende limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100.

Cinco tendências de transição energética para ficar de olho em 2022

Analistas da S&P Global Platts Analytics elencaram cinco principais tendências para 2022, entre elas o novo recorde em emissões de CO2 e nas vendas de veículos elétricos.

Emissões de CO2 em níveis recordes em 2022

As emissões de CO2 devem aumentar 2,5% em 2022, alcançando novos níveis recordes, prevê S&P Global Platts Analytics.

A consultoria vê nas eleições que acontecerão este ano nos EUA e na Austrália um risco de retrocesso em agendas de políticas ambientais.

“Essas eleições são lembretes de que ‘toda política é local’ e o destino dos acordos globais geralmente é determinado por eleições domésticas, sentimento público regional e mudanças nas políticas locais”, comentam os analistas.

Vale lembrar que é ano de eleições também no Brasil. Veja aqui a cobertura da epbr sobre Eleições 2022

Preços altos e incentivos para instalações de energia renovável

Os fortes preços de energia levaram as margens de energia renovável a níveis historicamente altos nos principais mercados e aumentaram as perspectivas de crescimento mais rápido das instalações em 2022.

Segundo a Platts Analytics, a ironia é que o baixo desempenho das energias renováveis foi um fator-chave por trás do aumento nos preços globais de gás e energia.

Apesar de um aumento de 10% nos custos de comissionamento devido a preços historicamente altos de matérias-primas e questões trabalhistas, as adições de capacidade solar fotovoltaica devem aumentar 4% em 2022. Eólicas onshore devem crescer 1%.

Eólicas offshore devem contrair em 25% em 2022 devido à eliminação gradual dos subsídios da China.

Novo recorde de vendas para veículos elétricos

Em 2021, houve crescimento de 108% ano a ano nas vendas de veículos elétricos, impulsionadas políticas governamentais, altos custos do combustível e incentivos financeiros, especialmente na China e na União Europeia.

Para 2022, a S&P Global Platts Analytics espera uma aceleração no crescimento das vendas, impulsionada por ações tomadas pelas próprias montadoras, que continuam a aumentar os investimentos na fabricação de veículos elétricos e tecnologia de baterias, e ampliando a construção de estações de carregamento.

A estimativa é que as vendas crescerão mais de 40% em 2022.

Produção de hidrogênio e a realidade de entrega

Projetos anunciados de capacidade de produção de hidrogênio de baixo carbono no banco de dados de ativos da Platts Analytics chegaram a 29 milhões de toneladas até o final de 2021.

E diferentes rotas de produção estão programadas para entrar em operação em 2022, variando de um projeto de maior escala usando biogás e gás de aterro sanitário a eletrolisadores de pequena escala combinados com energias renováveis.

No entanto, a S&P Global Platts Analytics não espera que projetos de hidrogênio azul em grande escala (gás natural + captura de carbono) se tornem operacionais em 2022.

Marcos tecnológicos para setores difíceis de descarbonizar

Tecnologias em setores mais difíceis de descarbonizar, como aviação e transporte marítimo, ainda estão essencialmente em fase de demonstração, mas a Platts espera que vários marcos sejam alcançados nos próximos 12 meses.

Isso inclui embarcações marítimas movidas a hidrogênio e oito navios que estarão prontos para serem abastecidos com amônia como combustível alternativo se/quando o abastecimento e a infraestrutura estiverem disponíveis.

Embora não seja alimentado por hidrogênio em si, o primeiro grande transportador de hidrogênio liquefeito (LH2) carregará sua primeira carga de hidrogênio na Austrália no início de 2022, uma indicação precoce de que o comércio internacional de hidrogênio pode ser viável.

Na aviação, a S&P Global Platts Analytics prevê um maior uso de combustíveis de aviação sustentáveis (SAFs, na sigla em inglês), impulsionado por mandatos governamentais (por exemplo, o mandato da França de 1% de uso de SAF a partir de 2022) e companhias aéreas comerciais que buscam testar taxas de mistura de SAF mais altas.

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