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Diálogos da Transição
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Afinal, o que está em jogo na crise com a Bolívia?
As negociações entre a Petrobras e a YPFB para contratação de gás natural na Bolívia estão paralisadas desde antes da eleição de 20 de outubro, que desencadeou uma crise institucional no país e levou ao exílio de Evo Morales. Por aqui, a Bolívia é peça-chave do suprimento nacional de gás natural e também dos planos de abertura do mercado.
A Petrobras tem contrato com a estatal boliviana até 31 de dezembro, para o fornecimento de 30 milhões de m³/dia de gás natural, que precisa ser renovado, no cenário ideal, considerando a descontratação de volumes pela Petrobras após a chamada pública (também paralisada) para entrada de novas empresas no Gasbol, da TBG.
As negociações entre a estatal brasileira e boliviana foram suspensas em setembro e devem ser retomada depois que novas eleições estiverem concluídas. Mais sobre isso no próximo bloco.
Quanto ao suprimento do mercado, há previsão de entrega de volumes não despachados ao longo da vigência do contrato atual. A Petrobras avalia, considerando a demanda brasileira, que há uma folga de pelo menos seis meses no despacho gás boliviano para o país.
É fato que o gás boliviano perdeu importância no mercado brasileiro. Desde o pico de 32 milhões de m³/dia, em média, em 2015, a importação cai ano a ano. Em 2019, até agosto, está em 15,33 milhões de m³/dia – mas ainda representa 20% da oferta total do energético no Brasil.
Mas não é todo mundo que tem o fôlego da Petrobras e a crise na Bolívia já começa a afetar negócios no Brasil, a começar pela própria chamada pública para contratação de capacidade do Gasbol. Está em oferta um contrato da Petrobras, de 18 milhões de m³/dia, mas sem negociar a compra do gás na Bolívia, não há como fechar o transporte por aqui.
Com um agravante: a chamada pública da TBG despertou um alerta no Cade, que pediu oficialmente a suspensão temporária da concorrência no fim de outubro. A preocupação é com a Petrobras e se a parcela, ainda que menor, no contrato de 18 milhões de m³/dia não significaria manter o mercado concentrado.
A YPFB vem avisando há duas semanas que há riscos na entrega de gás para a Argentina e para o Brasil e já enfrenta problemas para movimentar o energético internamente, com queda de pressão em um dos seus principais gasodutos, o Carrasco-Cochabamba, que atende à capital do país, La Paz.
Na sexta (15), a empresa comunicou ao governo do Mato Grosso do Sul que vai priorizar os despachos de gás natural e suspender o envio de ureia, o que afeta o mercado de fertilizantes nitrogenados.
Rudel Trindade, presidente da MSGás, descartou que haja risco de desabastecimento de gás, mas deixou claro que há incertezas quanto aos projetos para a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3 (UFN III), em Três Lagoas (MS), e para construção de uma usina termelétrica Fronteira, em Ladário.
A Petrobras tenta vender a UFN III e há interesse da Acron. Em junho, Evo Morales e Vladimir Putin chegaram a assinar acordos para viabilizar negócios no Brasil, incluindo a o fornecimento de gás da YPFB para a Acron.
Diretamente com a a Bolívia, o estado assinou um termo de cooperação envolvendo gás para a UTE Fronteira (266MW), que a Camaçari pretende construir no estado. Termos com a YFPB incluem a comercialização de gás natural, GNL, GLP e ureia com empresas do MS.
No domingo (17), a autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, afirmou que anunciará em breve a convocação de novas eleições, mas sem definir uma data. Disse que seu governo está ciente da urgência de realização de um novo pleito para pacificar o país.
Enquanto isso, ela monta seu governo interino. Áñez empossou, nesta segunda (18), Luis Fernando Valverde como diretor da Agencia Nacional de Hidrocarburos (ANH). O governo anunciou um plano de emergência para garantir o abastecimento de combustíveis para La Paz. La Razón, em espanhol
Na semana passada, definiu seus novos ministros. O senador Víctor Hugo Zamora assumiu o Ministério de Hidrocarbonetos. Político desde o fim dos anos 1990, Zamora é de um partido de oposição ao MAS, de Evo Morales.
Para ler mais na BBC Brasil: O ‘ajuste de contas’ do governo interino com Evo Morales, seus colaboradores e seus seguidores; da Associated Press: Bolívia tem escassez de alimentos e de combustível com estradas bloqueadas por manifestantes pró-Evo; e no El País Brasil: Bolívia, um país partido em dois
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Mesmo sem o Gasbol…
De olho nos leilões de energia de 2020, empresas começam a regularizar o suprimento de gás natural – etapa necessária para habilitação de usinas termoelétricas – junto às agências reguladoras Aneel e ANP.
Selecionamos alguns projetos, que deram entrada na documentação, e são baseadas no consumo de gás natural liquefeito (GNL). São eles:
A Beta Produtora de Energia tem planos de instalar a UTE Trombudo, em Santa Catarina, para operar com GNL importado pela Blueshift. A ideia é trazer o combustível dos EUA, em uma rota entre o Porto de Jacksonville (Flórida) e Porto de Itapoá (SC)…
… E a Faixa Preta Investimentos pretende habilitar as UTEs Tacaimbó I e II (263 MW cada), em Pernambuco. Projeto inclui fornecimento de GNL da Golar por meio de um terminal no Porto de Itaqui, no Maranhão.
Nesses dois casos, é considerada a possibilidade de instalar usinas sem conexão direta a um terminal flutuante de regaseificação, um FSRU. Os dois projetos contam com o transporte de GNL por meio de contêineres criogênicos — no caso das UTEs Tacaimbó I e II, inclui a construção de FSRU no Porto de Itaqui (MA), como parte da logística interna da Golar.
A Hidrovias do Brasil apresentou os projetos de Vila do Conde (1.600 MW) e Vila do Conde II (644 MW), que pretende instalar no município de Barcarena (PA), para o A-5 de 2020…
… usinas projetadas para receber gás por meio de um terminal de regaseificação flutuante (FSRU), com capacidade para 14 milhões de m³/dia. GNL fornecido pela Shell, com consumo previsto de 9,3 milhões de m³/dia – tem margem para expansão ou desenvolvimento do mercado local.
E a Rolugi Geração de Energia tem projeto para a construção de uma UTE Santa Cruz (600 MW), em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, com 3,6 milhões de m3/dia de GNL fornecido pela Nigeria LNG. Desembarque projetado para o Porto Norte Fluminense.
É na semana que vem
Abrimos as inscrições para o 2º Fórum Brasileiro de Transição Energética, que vai acontecer no Rio de Janeiro, em 29 de novembro. Informações em epbr
Curtas
A temporada de desmatamento na Amazônia é a pior em 11 anos, com 9.762 km² desmatados entre agosto e julho. Dados do Prodes/Inpe. Sinal ruim para as emissões de gases do efeito estufa. Falamos sobre isso semana passada: energia fica mais limpa, mas saldo é negativo puxado pelo desmatamento.
A Companhia Paranaense de Energia (Copel) lançou uma chamada pública para financiar projetos de eficiência energética. Os interessados poderão pleitear recursos em duas modalidades: a fundo perdido ou por contrato de desempenho. A chamada pública estará aberta até 10 de fevereiro. epbr
Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3, garante que os custos de transação dos créditos de descarbonização (CBIOs) na bolsa não serão um inibidor do mercado. “Não irá ter peso excessivo de custos. Mas faltam informações para definir”. B3 avalia operação com CBIO, mas ainda falta a regulamentação do MME. Nova Cana
O conselho do Banco Europeu de Investimento (BEI) anunciou que vai interromper o financiamento de projetos de combustíveis fósseis a partir de 2021. O foco será acelerar a inovação para geração de energia limpa, eficiência energética e renováveis. E vai liberar € 1 trilhão para financiamento em ações climáticas e investimentos ambientais sustentáveis até 2030. epbr
Mas esses os novos critérios do BEI devem dificultar os empréstimos para projetos de gás natural, na avaliação da Wood Mackenzie. O gás, que emite menos CO2, nitrogênio e enxofre do que o carvão e o petróleo, é apontado em várias projeções como o combustível da transição energética. epbr
Financial Times analisa obstáculos à ampliação da eólica na Alemanha, país que tem o compromisso de deixar a energia nuclear e o carvão no passado e limpar sua matriz energética, mas falta espaço. Há pressões internas para limitar o zoneamento destinado a novos parques e o tema tem unido ambientalistas e o setor de energia, pela ampliação da eólica no país. FT (em inglês)
Mas as políticas continuam. O parlamento alemão aprovou na feira (15) um pacote de € 54 bilhões para combater as mudanças climáticas prevendo desde investimentos em energia, transporte e inovação até metas de redução de emissão de poluentes. Também torna a proteção ao clima uma obrigação legal no país. epbr
O plano da deputada Alexandria Ocasio-Cortez para mudar a matriz energética dos EUA foi apresentado sob uma nova roupagem. AOC, como é conhecida, quer conquistar apoio ao Green News Deal com um plano de US$ 172 bilhões para habitação. Espera também dar força à candidatura democrata de Bernie Sanders para enfrentar Donald Trump em 2020. Vox (em inglês)
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