Um dos maiores desafios de qualquer empresa que produz energia a partir de reservas não renováveis é buscar a maximização da recuperação dos recursos energéticos, promovendo o aproveitamento racional dos recursos in situ e o melhor retorno para a sociedade. Neste sentido, a Petrobras adota as reconhecidas práticas da indústria de petróleo e gás para elevar a produção com segurança e com menores emissões.
Desde a fase de concepção inicial de um projeto, são analisadas diferentes opções e estratégias de drenagem do campo de petróleo, o que pode definir a necessidade ou não de nova infraestrutura para escoamento de gás.
A escolha da estratégia passa por aquela que apresenta melhores resultados técnicos e econômicos com menores riscos. Tal estratégia pode ser ajustada durante a fase de operação, a partir do monitoramento contínuo da produção e do gerenciamento do reservatório.
Aproveitamento estratégico do gás
Desta forma, são considerados diversos fatores para selecionar a melhor alternativa de aproveitamento do gás, tais como o teor de contaminantes do gás, as características da rocha reservatório, as condições de pressão e temperatura do reservatório, as características do fluido e a localização do campo.
A partir disso, o gás terá diferentes destinos obrigatórios como a reinjeção mínima para descartes dos contaminantes para enquadramento do gás; consumo para geração energética da própria plataforma; e a queima mínima para segurança operacional.
A decisão sobre o destino do restante do gás segue a estratégia de maximização do valor dos ativos, dentre as diversas alternativas estudadas, seja com exportação máxima, reinjeção total ou opções intermediárias entre estas duas.
Como exemplo, em 2021, a produção total de gás operada pela Petrobras foi de aproximadamente 123 milhões m³/d, sendo 3 milhões m³/d para queima de segurança, 13 milhões m³/d para consumo das próprias plataformas, 48 milhões m³/d para oferta ao mercado e 59 milhões m³/d para reinjeção.
Da parcela de gás reinjetado, aproximadamente metade foi decorrente da necessidade de reinjeção para descarte de contaminantes.
Por que a Petrobras reinjeta gás no reservatório?
Estudos indicam que a injeção alternada de água e gás (técnica conhecida como WAG) pode elevar entre 15 e 25% o volume recuperável de petróleo de alguns campos do pré-sal quando comparado ao cenário de injeção de água apenas.
Esse volume adicional reinjetado, além de maximizar a produção dos campos, alavanca uma vasta cadeia de benefícios econômicos e sociais como: suprimento de energia para a sociedade, geração de empregos e arrecadação de impostos, que são revertidos para o governo nos níveis regional e nacional.
Podemos concluir que a reinjeção de gás no pré-sal contribui não só para a redução das emissões de CO₂ como para o aumento da produção de petróleo dos campos o que, por consequência, resulta em mais arrecadação aos cofres públicos por meio de royalties, participações especiais e óleo lucro da Partilha de Produção.
Dessa forma, a prática de reinjeção possibilita o incremento de arrecadação entre 15 e 25% ao viabilizar o aumento e antecipação na produção de petróleo dos reservatórios.
Só a Petrobras recolheu, no primeiro semestre de 2022, o total de R$ 147,2 bilhões aos cofres públicos, sendo R$ 44,3 bilhões em participações governamentais (diretamente impactas pela produção de petróleo), que representam um aumento de quase 50% em relação às participações governamentais pagas no mesmo período do ano passado.
Infraestrutura de escoamento
Por fim, devemos lembrar que a infraestrutura de escoamento de gás é planejada e dimensionada considerando uma visão de longo prazo integrada dos campos em uma mesma região.
Especificamente para os campos de produção do pré-sal da Bacia de Santos, onde ocorre a maior parcela de reinjeção, estão disponíveis duas rotas de escoamento (Rota 1 e Rota 2) que estão operando na sua capacidade máxima.
Existe a previsão de entrada em operação de um terceiro projeto (Rota 3), que possibilitará o aumento da capacidade da exportação de gás dessa bacia.
Nestes projetos, a capacidade planejada atual de escoamento de gás está de acordo com a estratégia definida de explotação dos campos, mas devemos lembrar que a Petrobras tem importantes áreas em fase inicial de projeto, como Sergipe Águas Profundas (SEAP) e BM-C-33 (Pão de Açúcar, no pré-sal da Bacia de Campos) que consideram na sua concepção a construção de rotas dedicadas como melhor alternativa para o desenvolvimento da produção dos seus campos.
- Opinião | Gás do pré-sal: política pública para mercado potencial e sustentável Aurélio Amaral, Lideniro Alegre e João Clark escrevem que demanda por energia, matéria-prima e valor dos subprodutos do gás natural do pré-sal justificam investimentos em novas rotas
Fernando Borges, diretor de Exploração e Produção da Petrobras.