RIO — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem aproveitado o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, esta semana, para transmitir uma mensagem de compromisso do governo Lula com o equilíbrio fiscal e ambiental. E, nesse sentido, tem reforçado junto a interlocutores, em sua agenda oficial, o interesse em captar investimentos externos para a agenda da reindustrialização a partir da economia verde.
Haddad vê o Brasil com vantagens competitivas nas indústrias de etanol, hidrogênio verde e automotiva, no desenvolvimento de tecnologias de motores híbridos, por exemplo.
Um dos encontros desta terça (17/1) foi com o ministro do Investimento da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih — ex-presidente da Saudi Aramco, a maior petroleira do mundo. Segundo Haddad, o governo saudita tem interesse em investir no Brasil, sobretudo em Parcerias Público-Privadas e concessões na área de infraestrutura.
“Eles têm fundos de investimentos e estão atentos a todos os editais de parcerias que o governo brasileiro, estados e municípios vão lançar no próximo período. Isso é bom porque é um volume de recursos disponível para investimento muito importante”, disse Haddad à imprensa, em Davos.
Fundo saudita mira transição energética
Haddad se aproxima, assim, de uma Arábia Saudita que mira, cada vez mais, oportunidades no mercado de energias renováveis.
Presidido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o fundo soberano saudita PIF — do inglês Public Investment Fund — é um dos motores das reformas que visam diversificar a economia saudita para além do petróleo.
O fundo anunciou em 2019, durante visita do então presidente Jair Bolsonaro ao país árabe, a intenção de investir até US$ 10 bilhões no Brasil.
Até agora, contudo, o fundo fez poucos movimentos concretos no país: por meio de sua subsidiária Halal Products Development Company, fechou um acordo com a brasileira BRF, para criação de uma joint venture na indústria de frangos de abate; e entrou em dois fundos de private equity da Pátria Investimentos.
Os sauditas também mantiveram conversas com o governo Bolsonaro sobre oportunidades nos setores de ferrovias e saneamento, dentre outros projetos de infraestrutura.
Um dos movimentos globais mais recentes do fundo, na área de renováveis, foi a aquisição de 9,5% da Skyborn — que atua no setor de energia eólica offshore.
O fundo também tem investimentos em projetos de energia solar com a ACWA Power e parcerias para desenvolvimento de veículos elétricos com a E1, Lucid Motors e Ceer.
Financiamento do BID para renováveis
Na segunda (16/1), Haddad esteve reunido com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn — que se colocou à disposição para financiamentos no país, em especial em projetos de energia solar, eólica e hidrogênio verde.
“O Brasil está atrás de financiamento para produzir energia limpa e renovável e o BID se colocou à disposição para isso”, comentou Haddad após o encontro.
“Se o Brasil tomar as providências que precisa, e isso precisa vir dos três poderes, como o novo arcabouço fiscal e reforma tributária no primeiro semestre, a democratização do acesso ao crédito, as parcerias público-privadas, não tem porque o Brasil não decolar”, concluiu o ministro.
Nesta terça, Haddad se encontrou também com o presidente da consultoria Eurasia, Ian Bremmer, para conversas sobre oportunidades de reindustrialização do país, com destaque para a indústria automobilística e energia.
“Recebi insumos sobre com quem dialogar tanto no governo americano quanto no mundo asiático, para que, à América Latina, seja reservada uma parte da indústria do mundo e em que setores nós podemos nos reindustrializar”, disse Haddad, após a reunião.
“A questão da indústria automobilística de última geração, a questão do motor híbrido, do hidrogênio verde, a questão do etanol — que pode se servir de eixo para reindustrializar o país — e mesmo a questão do agronegócio, se tiverem o alcance de perceber que eles também dependem de insumos industriais, nós temos aí uma oportunidade de reindustrializar o país”, completou o ministro.
A conversa com Bremmer também passou por questões geopolíticas: relações do Brasil diante do contexto de guerra comercial entre Estados Unidos e China e a guerra na Ucrânia.
Já no encontro com Lord Malloch Brown e Alexander Soros (da Open Society), a pauta se concentrou na agenda ambiental e democrática.
“Foram três reuniões com objetivo de recolher informações sobre como o Brasil pode se colocar para atrair investidores e retomar o crescimento”, avaliou o ministro.
Gás Natural na agenda de Alckmin
Conforme relatado pelo portal Metrópoles, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, sinalizou, em encontro com representantes do setor químico, na semana passada, que está interessado em ampliar a capacidade brasileira de produzir gás natural.
O tema é visto como uma questão emergencial pelo setor — que defende o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert), para desoneração do gás consumido pelas fábricas de fertilizantes.
A matéria tramita na Câmara, mas nunca foi colocada para votação.
Em seu discurso de posse, contudo, Lula tocou em políticas industriais. Criticou, nesse ponto, a dependência externa de fertilizantes.
- Energia
- Energia Elétrica
- Energias Renováveis
- Política energética
- Transição energética
- Arábia Saudita
- Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
- Carros híbridos
- Economia verde
- Energia eólica
- Energia Renovável
- Energia solar fotovoltaica
- Etanol
- Fernando Haddad
- Fertilizantes
- Gás natural
- Geraldo Alckmin
- Hidrogênio verde (H2V)
- Motor híbrido
- Parceria Público-Privada (PPP)
- Transição energética