Energia

Definição de leilão de potência precisa ocorrer o mais rápido possível, afirma Marcelo Lopes

Em entrevista à epbr, o diretor da Eneva falou da necessidade de planejamento para a contratação das termelétricas

Marcelo Cruz Lopes, diretor-executivo de Marketing da Eneva, concede entrevista ao estúdio Abpip durante a Sergipe Oil & Gas, em Aracaju, em 25/7/2024 (Foto: Alisson Torres/epbr)
Marcelo Cruz Lopes, diretor-executivo de Marketing da Eneva, concede entrevista ao estúdio Abpip durante a Sergipe Oil & Gas, em Aracaju (Foto: Alisson Torres/epbr)

ARACAJU – O diretor-executivo de Marketing da Eneva, Marcelo Cruz Lopes, disse esperar que o governo faça o leilão de capacidade “o mais rápido possível”, como forma de antecipar futuras baixas nos reservatórios de hidrelétricas, garantindo a operação das termelétricas para o atendimento da demanda.

Segundo o diretor, a Eneva irá participar do leilão com um projeto de 1.2 GW, investimento de aproximadamente R$ 4 bilhões e demanda de 6 milhões de m³ de gás natural por dia.

A Eneva avalia negociar o projeto de expansão da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) no leilão de reserva de capacidade.

Hoje, a operação em Sergipe consiste em uma usina em operação, a Porto de Sergipe I com 1,593 GW de capacidade, com duas turbinas em ciclo combinado, interligadas ao terminal de GNL. Todos os ativos foram comprados pela Eneva da New Fortress Energy.

O terminal de GNL de Sergipe está sendo conectado à malha de gasodutos da Transportadora Associada de Gás (TAG). A conexão prevê R$ 340 milhões em investimentos e vai permitir à Eneva negociar acordos flexíveis de fornecimento de gás, sobretudo para o mercado termelétrico.

A companhia já tem um primeiro contrato de longo prazo com uma termelétrica a partir de 2026, que garante a oferta de molécula nas condições demandadas pelo setor elétrico, conforme o despacho.

“Acreditamos que, pelo fato de termos a solução de suprimento associada ao navio e termos desenhado essa solução para poder vendê-la ao mercado, temos uma boa chance de nos sagrarmos vencedores e viabilizarmos o investimento adicional aqui no estado de Sergipe”, prevê Lopes.

Em 2023, apesar dos bons níveis dos reservatórios, houve grande necessidade do despacho de térmicas. Neste ano, os índices pluviométricos foram menores em várias regiões do país, o que implica na redução do nível dos reservatórios. “Se não fizer [o leilão] agora, vai haver dificuldade de atender a demanda de 2028“, estima o executivo.

Ambiente de negócios e nova Lei do Gás

Marcelo Cruz Lopes considera que houve um avanço a partir da aprovação da nova Lei do Gás, em 2021, e que novos players passaram a participar da comercialização do energético. “Eu brinco que era só a Petrobras que mandava boleta no mercado de gás”.

Ele pondera que, apesar dos avanços, ainda é necessário enfrentar desafios para desenvolver o mercado nacional de gás. De acordo com o executivo, a regulamentação necessária não avançou na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“O mercado urge de soluções da regulamentação daqueles pontos cegos andar com a segurança jurídica”, opinou. Dentre os pontos destacados estão a transparência de dados, a competitividade e a liquidez.

Citando o exemplo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o diretor-executivo de Marketing ressalta a capacidade que o ONS tem de prestar informações em tempo real e de projetar cenários para o consumo e demanda futuros.

“A bandeira da transparência é uma prioridade muito grande. Hoje, quando você vai nos sites das transportadoras, que são os operadores, não tem isso”, criticou. 

Quanto à competitividade, a sugestão apontada é a desconcentração. Segundo o executivo da Eneva, não há como falar em competição quando um agente do mercado detém 80% de market share – no caso, a Petrobras.

No que diz respeito à liquidez, Lopes afirma que a tarifa elevada prejudica novos entrantes e afasta setores importantes, como o elétrico, que precisa de flexibilidade.

Pesquisa e desenvolvimento

O uso de recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a contratação de institutos independentes, para que se tornem braços da ANP em estudos que baseiam a regulação, foi apontada como uma solução possível para avançar com a agenda regulatória.

“Se a gente demorar dez, 20 anos para poder ajustar tudo que precisa pra então aproveitar, pode ser que a gente tenha perdido o bonde da história”.

O GNL é uma das apostas da Eneva para ampliar a oferta energética para o país. As duas maiores reservas da empresa, Parnaíba e Amazonas, não estão conectadas à malha. “Se eu não tenho como transportar, vamos transformar em eletricidade e transportar o elétron”, explicou.

Outro modelo de negócios adotado é liquefazer e transportar o gás por grandes distâncias para competir com outros combustíveis. A planta de liquefação da Eneva em Parnaíba está praticamente pronta e deve entrar em operação até o início de agosto.

Veja a entrevista completa.

Assista a cobertura completa do estúdio Abpip na Sergipe Oil & Gas