Energia

Eletrificação no Brasil está cinco anos atrasada em relação a principais mercados, diz consultoria

Análise da A&M aponta que demanda nacional ainda não está preparada para o novo conteúdo tecnológico

Eletrificação no Brasil está cinco anos atrasada quanto a novo conteúdo tecnológico se comparada a principais mercados, diz consultoria A&M. Na imagem: Fábrica de carros elétricos da Xpeng Motors, em Zhaoqing, na China (Foto: Divulgação)
Fábrica de carros elétricos da Xpeng Motors, em Zhaoqing, na China (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA – Levantamento da consultoria empresarial A&M indica que, no Brasil, a transição para o veículo elétrico está defasada em cerca de cinco anos em relação aos mercados líderes.

A empresa observa que a indústria automotiva brasileira caminha a passos lentos na adoção de novas tecnologias, sobretudo para eletrificação, o que pode trazer risco ao futuro da indústria nacional.

“Mesmo quando estiver totalmente instalada, a indústria nacional não vai ter escala para exportação de carros puro elétricos porque, quando avançarmos na produção local da tecnologia, os demais países já serão mais autossuficientes na produção nestes tipos de veículos e seus componentes”, explica David Wong, diretor da A&M.

Wong avalia que a demanda nacional ainda não está preparada para o novo conteúdo tecnológico, devido ao baixo poder aquisitivo dos brasileiros e à dificuldade de acesso ao crédito.

De acordo com o especialista no setor automotivo, embora com preços em queda, veículos elétricos ainda são bem mais caros do que os modelos a combustão interna, com a bateria representando cerca de 30% a 40% do custo total do veículo.

Obstáculos no caminho

O Brasil está se aproximando da marca de 200 mil veículos eletrificados leves em circulação, desde o início da série histórica da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), iniciada em 2012. Em outubro de 2023, o país chegou a 193.486 unidades.

Para 2030, a A&M estima que o país deverá ter 1,3 milhão de veículos eletrificados. Já em 2050, aponta que o país precisa alcançar 20 milhões de carros puramente elétricos em 2050, além de expandir a frota híbrida a etanol – “meta com vários obstáculos no caminho para ser atingida”, afirma.

“Hoje, no cenário mundial, o carro híbrido já está perdendo participação frente aos 100% bateria, mas é uma alternativa de transição tecnológica no Brasil, com viabilidade através da hibridização e, depois, expansão para veículo apenas elétrico”, observa Wong.

Segundo ele, um dos maiores gargalos é a inexistência de indústria de baterias no Brasil, embora o país disponha praticamente de todos os minérios usados na produção, como fosfato, ferro e lítio.

“Essa é uma das etapas mais caras do processo, com investimento estimado de ao menos US$ 1 bilhão, para iniciar uma planta. Além disso, para instalar uma fábrica de células, são necessários aproximadamente três anos, entre o plano e o início de operação da planta”.

Por outro lado, Wong enxerga o Brasil como um dos poucos países com indústria e escala que pode suportar a produção de veículos na escala que a transição vai exigir.

“As empresas precisam pensar em como aproveitar a escala de produção e ter competitividade enquanto o país navega na transição para as novas tecnologias, e mitigar o risco de a indústria perder relevância local e global e, com isso, virar mero importador de veículos montados no futuro”, completa.