O Congresso Nacional convocou para a próxima quinta-feira (7/3) reunião para instalação da Comissão Mista que vai analisar a Medida Provisória 814, editada em 29 dezembro de 2017, que retira de uma das leis do setor elétrico a proibição de privatização da Eletrobrás e de suas subsidiárias. A MP revoga o artigo 31 da Lei 10.848/2014, que excluía a Eletrobrás e suas controladas (Furnas, Companhia Hidroelétrica do São Francisco, Eletronorte, Eletrosul e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica) do Programa Nacional de Desestatização.
Além da instalação da Comissão Mista, a reunião servirá também para a definição do presidente e do relator da Medida Provisória. A tendência é que sejam escolhidos um senador e um deputado para cada uma das posições. A Comissão conta com 13 senadores e 13 deputados titulares, além de mais 26 suplentes.
O senador Eduardo Braga (PMDB/AM), ex-ministro de Minas e Energia no governo Dilma Rousseff, e que já se manifestou contra a privatização da AM Energia, distribuidora do seu estado, é um dos indicados do PMDB para a Comissão, junto com Dário Berger (PMDB/SC) e Valdir Raupp (PMDB/RO). O bloco PSDB/DEM indicou também três senadores: Flexa Ribeiro (PSDB/PA), Cássio Cunha Lima (PSDB/PB) e Ronaldo Caiado (DEM/GO).
Deputados
Movimentos no parlamento
A MP também adia para o exercício de 2018 o prazo para o pagamento da dívida de R$ 3,5 bilhões entre a União e a Eletrobrás por despesas com o abastecimento de parte da região Norte. Para o senador José Agripino (DEM-RN), o Brasil precisa de recursos e a privatização vai ao encontro do que tem sido feito no cenário internacional. Já a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) acredita que a venda da estatal vai gerar um aumento nas tarifas de energia e que não deveria ser feita de forma apressada.
O vice-líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), avaliou como necessária a discussão sobre a abertura de capital da Eletrobras. Em entrevista à jornalista Hérica Christian, da Agência Senado, o senador disse que a estatal tem condições de voltar a ser uma das principais empresas de energia do mundo. Segundo ele, a base do governo tem votos necessários para aprovar a Medida Provisória 814/2017.
Nelson Hubner, integrante do Conselho Administrativo da Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig) e ex-ministro de Minas e Energia , posicionou-se contra a privatização e defendeu o modelo de gestão das hidrelétricas da China, do Canadá e da Noruega, que é majoritariamente estatal, mas com empresas desverticalizadas, distintas, para tratar da geração, da transmissão e comercialização da energia.
“Defendo que a Eletrobrás, enquanto agente público de controle do Estado brasileiro, tem papel fundamental na evolução do modelo regulatório”, disse.
Ele teme que o novo dono da empresa imponha preços abusivos pela energia gerada, principalmente nas usinas que estão prestes a ser amortizadas, ou seja, com custos de construção já pagos, como Itaipu.
Recentemente, parlamentares criaram uma frente para lutar contra a privatização da Eletrobrás. Senadores da oposição, como Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), afirmam que a venda de distribuidoras de energia, especialmente no Norte e Nordeste, coloca em risco o papel do Estado no desenvolvimento do país. Vanessa também alerta para a possibilidade de acabarem programas como o Luz para Todos caso a privatização se concretize.
A senadora Ângela Portela (PDT-RR) afirmou que a privatização da Eletrobrás deverá piorar a situação energética de seu estado. Segundo ela, o estado sofre com a paralisação das obras do linhão de Tucuruí, que ligaria Roraima ao sistema elétrico nacional.
Se já tem sido difícil conseguir a retomada das obras do linhão, Ângela Portela avalia que será ainda mais complicado se a Eletrobras, atual controladora da Companhia Energética de Roraima CERR), passar para as mãos da iniciativa privada, que tem como objetivo apenas o lucro. Para ela, as comunidades indígenas, os ribeirinhos e a população de baixa renda serão os prejudicados com a privatização, já que a CERR dispensa a eles um atendimento especial.
“E como nós não fazemos parte do Sistema Elétrico Nacional, elas recebem das térmicas o óleo diesel, que é caríssimo. Quem vai conceder [esse benefício] se o sistema elétrico desses estados é privatizado?”, questionou
O senador Hélio José (Pros-DF) fez recentemente um apelo ao presidente do Senado, Eunício Oliveira, para que ele leia o requerimento que pede instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a real situação da Eletrobrás e o processo de privatização da estatal.
O senador estima que a privatização da Eletrobrás pode afetar o bolso dos brasileiros. De acordo com o parlamentar, vários especialistas já apontaram que um dos impactos mais imediatos da medida é o aumento da conta de energia.
“Com essa proposta de privatização equivocada do setor elétrico, teremos o aumento da conta de luz, mais sacrifício para os trabalhadores brasileiros. Além disso, vamos perder nossa soberania sobre nossos cursos d´água, nossos rios como o São Francisco”, alertou.
Para ser criada, a CPI precisa ser lida no plenário do Senado e instalada. Segundo Hélio José, o documento é assinado por 39 senadores. Se ao menos 27 senadores mantiverem o apoio para a criação da comissão, ela será validada.
Emendas:
A MP da Eletrobrás recebeu ao todo 158 emendas parlamentares, um recorde em se tratando de medidas provisórias
Entenda a Tramitação da Medida Provisória
O prazo inicial de vigência de uma MPV é de 60 dias e é prorrogado automaticamente por igual período caso não tenha sua votação concluída nas duas Casas do Congresso Nacional. Se não for apreciada em até 45 dias, contados da sua publicação, entra em regime de urgência, sobrestando todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
O art. 62 da Constituição Federal traz as regras gerais de edição e apreciação das MPVs, definindo inclusive os assuntos e temas sobre os quais não podem se pronunciar. Já o disciplinamento interno do rito de tramitação dado pela Resolução do Congresso Nacional n° 1 de 2002 exige, por exemplo, sobre emendas, a formação da comissão mista e prazos de tramitação.
As fases relativas à tramitação de uma Medida Provisória no Congresso Nacional estão detalhadas logo a seguir, com a disponibilização dos principais documentos produzidos na várias instâncias de deliberação, incluindo emendas apresentadas, parecer aprovado e quadros comparativos que demonstram as modificações promovidas no texto principal da matéria.