Diálogos da Transição

Mercado de carros elétricos cresce exponencialmente, mas concentrado

China, Europa e Estados Unidos lideram vendas, mostra Global Electric Vehicle Outlook da IEA

Pacote para clima passa no Senado dos EUA. Na imagem, O presidente Joe Biden testa o carro elétrico Hummer EV durante visita à fábrica de montagem de veículos elétricos zero emissões da General Motors Factory, em Detroit (Foto: Adam Schultz/White House)
Inflation Reduction Act destina bilhões para alavancar indústria doméstica de baixa emissão (Foto: Adam Schultz/White House)

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Editada por Nayara Machado
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Projeções da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) apontam um mercado aquecido para os veículos elétricos em 2023, com 14 milhões em vendas até o final do ano, um aumento de 35% em relação a 2022.

Políticas de incentivos nacionais ajudarão a impulsionar esse cenário, observa a agência, enquanto um retorno aos preços excepcionalmente altos do petróleo observados no ano passado poderia motivar ainda mais os compradores a trocar o motor a combustão pelo elétrico.

Só neste primeiro trimestre, mais de 2,3 milhões de carros elétricos foram vendidos, cerca de 25% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Lançado nesta quarta (26/4), o Global Electric Vehicle Outlook da IEA mostra um crescimento exponencial da eletrificação. Em 2022, as vendas de VEs ultrapassaram 10 milhões, alcançando 14% de participação de mercado, acima de cerca de 9% em 2021 e dos menos de 5% em 2020.

A expansão segue concentrada em três mercados: China, Europa e Estados Unidos. Mas começa a ganhar impulso na Ásia, com Índia, Tailândia e Indonésia triplicando as vendas. Os três somaram 80 mil novos VEs em circulação no ano passado.

Na Índia, a fabricação de VEs e componentes está aumentando, apoiada pelo programa de incentivo do governo de US$ 3,2 bilhões, que atraiu investimentos no total de US$ 8,3 bilhões.

  • China responde por cerca de 60% das vendas globais de carros elétricos e já ultrapassou sua meta de 2025 para novos veículos descarbonizados;

  • Na Europa, o segundo maior mercado, mais de um em cada cinco carros vendidos em 2022 eram elétricos;

  • Em terceiro lugar, os Estados Unidos o aumento foi de 55% em 2022, atingindo uma participação de 8%.

Gastos dobraram

Os gastos globais dobraram no ano passado. Foram desembolsados mais de US$ 425 bilhões  com carros elétricos, a maior parte vinda dos consumidores. Segundo o levantamento da IEA, apenas 10% desse total pode ser atribuído a subsídios.

Os investimentos de capital de risco em startups de tecnologias de VE e bateria também aumentaram, atingindo quase US$ 2,1 bilhões em 2022, um aumento de 30% em relação a 2021, com investimentos aumentando em baterias e minerais essenciais

SUVs e carros grandes dominam as opções disponíveis em 2022. Eles respondem por 60% das ofertas à bateria na China e na Europa e uma participação ainda maior nos Estados Unidos.

“Os SUVs costumam ter baterias duas a três vezes maiores que os carros pequenos, exigindo mais minerais críticos. No entanto, no ano passado, os utilitários esportivos elétricos resultaram no deslocamento de mais de 150 mil barris de consumo de petróleo por dia”, observa o relatório.

Até 2030, a eletrificação deve evitar a necessidade de cinco milhões de barris de petróleo por dia, reduzindo a emissão de cerca de 700 milhões de toneladas de CO2 equivalentes pela queima de combustível.

Só que não vai ser tão simples – e sustentável – assim. 

A corrida pela eletrificação como alternativa para cumprir os planos e metas climáticas mira a interrupção da queima de combustíveis fósseis pelo transporte. No entanto, fabricar as baterias adiciona um elemento potencialmente problemático a essa equação: qual o preço em carbono da extração de minerais críticos?

De acordo com a Global Battery Alliance (GBA, na sigla em inglês), as taxas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante a fabricação de baterias convencionais podem crescer cerca de 30% até 2030.

O consórcio de montadoras, fabricantes de baterias e organizações governamentais e não-governamentais lançou, no início do ano, os primeiros modelos de passaportes de baterias para monitorar o desempenho de sustentabilidade dos produtos, medindo a pegada de CO2 e a taxa de reciclagem dos materiais.

Para dar uma dimensão do desafio: a cadeia de baterias de íons de lítio, desde a mineração até a reciclagem, pode crescer em mais de 30% ao ano até 2030, quando atingiria um valor de mais de US$ 400 bilhões e um tamanho de mercado de 4,7 TWh.

Em 2022, a demanda por baterias automotivas de íons de lítio (Li-ion) aumentou cerca de 65% para 550 GWh, de 330 GWh em 2021.

Aproximadamente 60% do lítio, 30% do cobalto e 10% da demanda de níquel foi para baterias de veículos elétricos.

Outra questão é a superconcentração de suprimentos na China, que está levando outros países a desenharem políticas de incentivo às indústrias domésticas e formação de parcerias para diversificar a cadeia de fornecimento de minerais críticos.

Em 2022, 35% dos carros elétricos exportados vieram da China, em comparação com 25% em 2021.

Algumas iniciativas para contornar a superconcentração:

  • Lei da Indústria Net Zero da União Europeia traz uma série de medidas para que quase 90% da demanda anual de baterias do bloco seja atendida pelos fabricantes dos países-membros. A capacidade de fabricação precisa chegar a pelo menos 550 GWh em 2030.

  • A Índia criou um esquema de Incentivos Vinculados à Produção (PLI) para impulsionar a fabricação nacional nacional de veículos elétricos e baterias.

  • Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação (IRA) oferece créditos fiscais com foco nas cadeias de fornecimento domésticas de VEs, baterias e minerais. Como resultado, entre agosto de 2022 e março de 2023, os principais fabricantes anunciaram investimentos cumulativos pós-IRA de pelo menos US$ 52 bilhões nas cadeias de suprimentos – dos quais 50% são para baterias.

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