Petróleo e Gás

Governo lança edital para tentar viabilizar o fracking no Brasil

Poço Transparente prevê incentivos para campanhas monitoradas com fraturamento hidráulico para produção de óleo e gás em terra

Governo lança edital para tentar viabilizar o fracking no Brasil. Na imagem: equipamentos utilizados no fraturamento hidráulico em operação nos EUA (Foto: Anita Starzycka/Pixabay)
Equipamentos utilizados no fraturamento hidráulico em operação nos EUA (Foto: Anita Starzycka/Pixabay)

O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou nesta quarta (7/12) o edital de qualificação do Poço Transparente, programa criado para tentar viabilizar o uso do fraturamento hidráulico no Brasil — ou fracking como a técnica é conhecida internacionalmente.

Com o edital, empresas que já possuem contratos de exploração e produção de óleo e gás em terra terão dois anos para qualificar projetos de produção em reservatórios de baixa permeabilidade, também chamados de não convencionais.

E prevê incentivos. Projetos qualificados poderão utilizar recursos de pesquisa e desenvolvimento, que as empresas produtoras são obrigadas a executar; e serão beneficiados pela cobrança de royalties no piso legal, de 5%.

Com o Poço Transparente, a proposta do governo é criar um programa de monitoramento e transparência das informações obtidas nas perfurações, com exigências mais robustas que as atuais regras fiscalizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O edital prevê a participação de outros órgãos, como o Ibama e a Agência Nacional de Águas (ANA), no grupo de monitoramento da atividade.

E já prevê restrições para qualificação em razão do uso da água. Serão rejeitados projetos “quando houver estudos técnicos que demonstrem que a execução do fraturamento hidráulico afetará a base de um aquífero passível de uso doméstico ou industrial”, diz o documento.

As informações podem ser consultadas no site do MME.

O que é o fracking?

O fraturamento hidráulico é uma das técnicas usadas para tornar essas reservas economicamente viáveis, justificando o investimento na produção.

A produção desses reservatórios ganhou notoriedade mundial com o rápido desenvolvimento nos Estados Unidos, a revolução do shale a partir de meados dos anos 2000.

É também alvo de críticas de ambientalistas e aqui no Brasil passou, praticamente, por uma moratória na década passada, quando se tentou ampliar a oferta de áreas de exploração em terra, em regiões com potencial para produção não convencional.

  • Fraturamento hidráulico é uma técnica conhecida e utilizada pela indústria de óleo e gás há mais de 70 anos.
  • Consiste em injetar uma grande quantidade de água, com aditivos especiais, até provocar as “fraturas”, que fragmentam as rochas onde o gás e o óleo são gerados, mas a produção é inviável com poços tradicionais.
  • Há histórico de uso no Brasil, inclusive, em reservatórios convencionais como uma das técnicas para elevar a recuperação de óleo e gás.
  • A diferença é que, via de regra, o uso em larga escala dessas técnicas, que envolvem grande demanda por água, poços e insumos, torna economicamente atrativo produzir em reservatórios que não seriam desenvolvidos de outra forma.
  • Por aqui, quando o assunto ganhou projeção a partir da 13ª rodada da ANP — grande oferta de áreas em terra, com potencial para gás natural — houve uma reação de ambientalistas e de ministérios públicos contra.

— Relembre: O embargo ao fraturamento no Brasil

Projeto de lei prevê banimento do fracking no Brasil

O fraturamento hidráulico é alvo de iniciativas que visam a proibir a prática no Brasil, entre eles o PL 1935/2019, em tramitação na Câmara dos Deputados.

“Os riscos potenciais envolvidos neste sistema, muito criticado nos EUA, fez com que fosse proibido em diversos países da Europa, como França, Alemanha e Reino Unido. Não parece razoável que se invista em uma fonte de energia tão controversa e potencialmente perigosa, com tantas alternativas sustentáveis na produção de energia disponíveis para investimento no país”, justificou o autor do texto, o ex-deputado Schiavinato (PP/PR).

O PL estava na pauta da Comissão de Meio Ambiente desta quarta (7/12), mas foi retirado a pedido do relator, deputado Rodrigo Agostinho (PSB/SP), que apresentou um substitutivo.

Para o deputado, a proibição deve constar na Lei do Petróleo, e não no Código de Minas. Agostinho também integra o gabinete de transição para o governo Lula, no grupo de Meio Ambiente.

Agostinho também incluiu no texto uma permissão para que até 2031 sejam conduzidas somente pesquisas e estudos das lavra de jazidas de gás natural pela técnica de fraturamento hidráulico.

O substitutivo proibiria, portanto, campanhas de larga escala para produção de petróleo e gás convencional. O parecer foi retirado de pauta para evitar a rejeição pela comissão, diante da falta de consenso em torno do texto.