Biocombustíveis

ANP discute desconto nas metas do RenovaBio

Resolução vai definir sistemática de redução das metas individuais das distribuidoras quando estas firmarem contratos de longo prazo para aquisição de biocombustíveis

ANP discute desconto nas metas do RenovaBio. Na imagem, usina de etanol (Foto: Sermatec/Divulgação)
Proposta da ANP fixa prazos mínimos diferentes para contratos de longo prazo de aquisição de biodiesel e etanol (Foto: Sermatec/Divulgação)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Audiência pública na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nesta quarta (17/8) discutiu com o mercado como colocar de pé a sistemática de redução das metas individuais das distribuidoras de combustíveis no RenovaBio, quando estas firmarem contratos de longo prazo para aquisição de biocombustíveis.

A minuta de resolução da ANP passou por um período de consulta pública e recebeu 76 contribuições do setor de combustíveis, a maior parte delas relativas às penalizações para quem descumprir os contratos e o momento em que a meta de aquisição dos créditos de descarbonização (CBIOs) será abatida.

A proposta prevê que o desconto nas metas das distribuidoras seja dado a partir da homologação dos contratos. Mas o setor de biocombustíveis teme distorções no mercado, caso os contratos não sejam cumpridos.

Durante a audiência, a Unica (associação do setor de etanol) defendeu que o desconto só ocorra após o cumprimento do contrato, para a meta do ano seguinte da distribuidora. Já a Raízen, que atua tanto na produção de etanol quanto na distribuição de combustíveis, propôs que o abatimento ocorra após a execução de pelo menos um ano de contrato.

Em suma, a minuta da ANP propõe:

  • Fixação de prazos mínimos contratuais diferentes para cada biocombustível: um ano para o biodiesel, três para o etanol (anidro ou hidratado); a Unica é contra. Defende que o prazo mínimo de três anos seja para qualquer biocombustível;
  • Descontos progressivos conforme a duração dos contratos: as distribuidoras poderão ter 50% das suas metas de CBIOs abatidas a partir de volumes de biocombustível contratados e retirados em contratos com o prazo mínimo; 75% em contratos com duração de um ano além do mínimo; e 100% com dois anos além do mínimo;
  • Os descontos incidem sobre a quantidade de CBIOs (créditos de descarbonização que equivalem a uma tonelada de carbono evitada) equivalente ao volume contratado e retirado pela distribuidora;
  • redução da meta é limitada a 20% da obrigação de compra de CBIOs das distribuidoras;
  • Quem rescindir o contrato terá os CBIOs abatidos somados à meta anual. O mesmo vale se o contrato chegar ao fim sem ter sido cumprido por total.

Turbulências

RenovaBio começou a funcionar no Brasil em 2020, em meio à pandemia de covid-19, e, de lá para cá, não teve um minuto de descanso.

A mais recente manobra do governo de Jair Bolsonaro para favorecer distribuidoras jogou um balde de água fria no setor de biocombustíveis, ao postergar o prazo para a comprovação de metas, com impacto direto no preço do título verde.

Por um lado, atingiu o objetivo — conter a valorização do CBIO, que encerrou o mês de junho com cotação recorde de R$ 202, e hoje é negociado a R$ 90, em média.

Por outro, estabeleceu um cenário de insegurança em relação ao comprometimento do governo com a política de descarbonização.

Cobrimos por aqui:

Volatilidade atípica dos CBIOs

O ano de 2022 foi atípico no mercado de CBIOs, que são comercializados na B3.

Dados da ANP mostram que, nos anos de 2020 e 2021, os títulos só apresentaram grandes variações de valor a partir de setembro. Naqueles anos, os preços médios ficaram em R$ 43,41 e R$ 39,31, respectivamente.

Até o início de setembro de 2020, o CBIO teve um valor médio de R$ 20, chegou à máxima anual de R$ 62 no final de outubro e fechou o ano a R$ 30. Os produtores de biocombustíveis tiveram uma receita estimada de R$ 650 milhões no ano.

Em 2021, o valor do CBIOs variou entre R$ 25 e R$ 32 até o início de setembro, chegou à máxima de R$ 62 em meados de dezembro, e fechou o ano em R$ 59. A receita estimada dos produtores de biocombustíveis com a negociação dos CBIOs foi de aproximadamente R$ 1 bilhão.

Em 2022, a valorização começou já em janeiro, com o crédito fechando mês a R$ 70 e batendo R$ 99, no final de fevereiro. Em maio, houve nova valorização, chegando a R$ 119, até bater o recorde de R$ 202 no final de junho.

Apesar da significativa valorização do CBIO em 2022, a ANP garante que não há previsão de escassez do ativo para o cumprimento da meta anual das distribuidoras. Somados, os CBIOs em estoque e os já aposentados no primeiro semestre equivalem a 71% da meta de 35,98 milhões.

Produção de biodiesel segue em queda

O mais recente Boletim Mensal de Energia do MME mostra que a produção de biodiesel está em uma derrocada no Brasil. Em maio, houve queda de 0,3% sobre o mesmo período de 2021. No acumulado do ano, o recuo ficou em 13,2%.

A baixa marca as consequências do atual enfraquecimento na política para o biocombustível. Após apresentar crescimentos sempre superiores a 9% entre 2016 e 2020, em 2021 o aumento da produção foi de 3,6%, já em meio a reduções no mandato de mistura com o diesel.

Rating ESG

O Instituto Escolhas lançou nesta quinta (18/8) uma ferramenta com 57 indicadores para que o setor financeiro possa incluir critérios socioambientais nas decisões sobre investimentos.

A proposta é de um peso maior para questões sociais e de sustentabilidade ambiental na hora de avaliar se um investimento se enquadra em critérios ambientais, sociais e de governança que formam a sigla ESG.

“Não é possível que, com a emergência climática batendo à porta, as instituições sigam minimizando os impactos ambientais e sociais de um empreendimento no momento de avaliar o grau de risco e retorno para os seus investidores”, afirma o diretor executivo do Escolhas, Sergio Leitão.

Agrupados por afinidade, os 57 indicadores — convertidos em valores de 0 a 100 — compõem os subgrupos meio ambiente (E), social (S) e governança (G). O peso de cada subgrupo é, respectivamente, de 40%, 35% e 25%.

A publicação usou o setor de geração de energia elétrica como exemplo de aplicação, e constatou que usinas fotovoltaicas possuem o maior rating, seguidas de perto pelas eólicas. No fim da classificação estão as usinas térmicas a óleo ou a gás. Veja na íntegra (.pdf)

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