RIO — A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (15/8) uma nova redução — dessa vez de 4,8%, ou 18 centavos — no preço da gasolina vendida às distribuidoras. A baixa, a terceira promovida em quase 50 dias da gestão de Caio Paes de Andrade à frente da estatal, tende a reforçar uma tendência de queda dos preços do combustível para o consumidor — um dos principais trunfos de Jair Bolsonaro (PL) em suas pretensões de se reeleger.
A pesquisa eleitoral BTG/FSB mais recente, divulgada também nesta segunda, sugere, no entanto, que o presidente da República pode não ter mais tanto espaço para se capitalizar mais, eleitoralmente, com a queda recente dos preços dos combustíveis.
De acordo com dados da Triad Research, empresa de pesquisa de mercado, o preço médio da gasolina, no Brasil, recuou cerca de R$ 1,65 o litro, de 1º de julho a 14 de agosto — quando o preço médio atingiu o patamar de R$ 5,564, o menor desde 3 de maio, em valores nominais (sem correção da inflação).
O que dizem os resultados da pesquisa BTG/FSB:
- A percepção da redução do preço dos combustíveis se sedimentou em 2/3 do eleitorado: 64% dos entrevistados dizem que os preços estão menores quando comparados à situação de um mês atrás. Na pesquisa anterior, de 8 de agosto, esse percentual era de 63% e, em 25 de julho, de 54%;
- O governo federal é reconhecido como o principal responsável pela redução dos preços. Assim enxergam 38% dos entrevistados. Entre os eleitores de Bolsonaro, essa fatia é de 58%, enquanto entre os eleitores de Lula (PT) esse percentual é de 27% — praticamente empatado com a Petrobras (28%);
- Mas não houve aumento da fatia que enxerga em Bolsonaro a paternidade da redução dos preços: o governo federal foi apontado como principal responsável pela redução no preço dos combustíveis por 38% dos entrevistados, ante os 42% da sondagem anterior. O número voltou aos patamares da amostra de 25 de julho.
“O presidente Jair Bolsonaro parece que já realizou ao máximo o retorno eleitoral da medida de redução do preço dos combustíveis. A estabilidade dos seus números eleitorais e do reconhecimento da assinatura do Governo Federal pelo anúncio são os principais indicativos disso”, avalia o diretor do Instituto FSB Pesquisa, André Jácomo.
A pesquisa quantitativa foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, por telefone, entre 12 e 14 de agosto. Foram entrevistados 2 mil eleitores. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
A pesquisa do Instituto FSB, encomendada pelo banco BTG Pactual, aponta Lula com 45% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 34%. A diferença, de 11 pontos porcentuais, mostra a retomada do fôlego da candidatura petista — que, na pesquisa da semana passada, registrou a menor diferença até então entre os dois candidatos, de 7 pontos percentuais.
Já a pesquisa do Ipec, divulgada na noite de segunda, mostrou que Lula (PT) lidera a corrida eleitoral com 44% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 32% das intenções. Ao todo, foram entrevistadas 2 mil pessoas, entre 12 e 14 de agosto – período posterior ao início do pagamento dos novos valores do Auxílio Brasil e vale-gás e do auxílio-caminhoneiro.
As bases da queda dos preços
A queda recente dos preços dos combustíveis reflete, basicamente, quatro fatores:
- a desoneração dos impostos federais da gasolina e etanol, zerados por meio da lei 194/2022;
- a fixação do teto da alíquota de ICMS — de 17% a 18%, na maioria dos casos — sobre os combustíveis e energia elétrica, também prevista na lei 194/2022;
- a redução da base de cálculo do ICMS pelos estados, após decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça — que determinou a cobrança do imposto sobre a média móvel de 60 meses para o diesel, gasolina e GLP;
- e a redução dos preços da Petrobras nas refinarias: de 13% na gasolina e de 7,3% no diesel, desde a posse de Paes de Andrade na presidência da companhia, no fim de junho.
Desses quatro fatores, dois deles — a desoneração dos impostos federais e a redução da base de cálculo do ICMS — são temporárias, com validade até o fim do ano e do atual mandato de Bolsonaro.
- Para aprofundar: Quem se beneficiou da desoneração da gasolina?
Além disso, os estados questionam, no STF, as bases da desoneração: as leis complementares nº 192/2022 (monofasia) e nº 194/2022 (teto do ICMS). A negociação das controvérsias, porém, deve se estender para além das eleições.
Preço da gasolina, no Brasil, já é menor que o da média mundial
Na tentativa de se capitalizar politicamente com a queda dos preços, Bolsonaro reafirmou, nesta segunda, nas redes sociais, que o Brasil, brevemente, terá “uma das ‘gasolinas’ mais baratas do mundo”.
De fato, o preço pago pelo consumidor brasileiro pela gasolina já é, hoje, mais baixo que a média mundial. O diesel, por outro lado, é mais caro que a média global.
De acordo com dados do Global Petrol Prices, site de pesquisa de mercado, o Brasil ocupa a 51ª posição no ranking da gasolina mais barata, entre os 169 mercados monitorados.
O levantamento do Global Petrol Prices mostra que o litro da gasolina no Brasil, em dólar, custa na média US$ 1,149 — patamar 17,3% abaixo da média mundial.
Para entrar no TOP 20, contudo, o preço médio da gasolina, no Brasil, precisará cair pela metade praticamente — uma realidade que parece, hoje, distante.
Já o litro do diesel é negociado, no mercado doméstico, a US$ 1,451, valor 6,7% maior que a média dos demais países. Nesse caso, o Brasil tem o 91º diesel mais barato do mundo, situado praticamente no meio da tabela.
Os dados mais recentes da Global Petrol Prices são de 8 de agosto e ainda não refletem, na íntegra, os efeitos das recentes baixas da Petrobras no diesel.
Os números, vale lembrar, não incluem a paridade de poder de compra, ou seja, não refletem os diferentes custos de vida nos países.
Ao anunciar a nova redução de preços, nas refinarias, a Petrobras informou que, a partir de terça-feira (16/8), o preço médio de venda de gasolina vendida pela empresa às distribuidoras passará de R$ 3,71 para R$ 3,53 por litro.
Segundo a estatal, considerada a mistura obrigatória de 73% de gasolina e 27% de etanol anidro na composição do produto comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,70, em média, para R$ 2,57 a cada litro vendido na bomba.
A redução, cita a empresa, “acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado global”.
A Abicom, representante dos importadores privados, estima que a Petrobras havia fechado o dia, na sexta, praticando preços entre 6 a 39 centavos acima da paridade de importação — a depender do ponto de suprimento. No caso do diesel, essa diferença é de 22 a 35 centavos, dependendo da região.