Energia

Política para elétricos é necessária para acelerar indústria nacional, avalia CEO da Toyota no Brasil

Rafael Chang espera regras claras do governo para consolidar eletrificação

Na imagem, Rafael Chang, CEO da Toyota no Brasil (Foto: Genilson Frazão/Unica)
Rafael Chang, CEO da Toyota no Brasil (Foto: Genilson Frazão/Unica)

SOROCABA — Com um veículo híbrido líder no mercado brasileiro de elétricos, o CEO da Toyota no Brasil, Rafael Chang, afirma que um planejamento claro de transição é necessário para a indústria acelerar investimentos na cadeia local de produção.

“Tanto o setor público, como o setor privado tem que colocar isso na mesa. São tecnologias que precisam de um investimento pesado em infraestrutura (…) Estamos procurando abrir a conversa [com o governo] de como facilitar os investimentos para essas tecnologias”, afirma Chang, em entrevista à agência epbr.

Na próxima semana, o executivo se reúne com representantes do governo federal para discutir políticas públicas que possam nortear esse processo de eletrificação da frota, em substituição aos motores a combustão.

Dos modelos na rota de descarbonização da Toyota, por enquanto, apenas o híbrido flex, que combina um motor elétrico a outro, a combustão interna, está disponível no mercado nacional.

Em 2021, a montadora vendeu 56,6% dos veículos eletrificados no país.

Mas a empresa aguarda políticas públicas que possam viabilizar o lançamento de veículos 100% elétricos e a célula a hidrogênio, que já rodam em outros países.

“Esse processo tem que ser planejado, para ter uma transição ordenada”, afirma.

Uma preocupação do executivo, portanto, é que esse processo ocorra sem o tempo adequado, a exemplo de uma regulação que exija a redução da frota doméstica a combustão.

“Se tivermos uma regulação em que, de hoje para amanhã, teremos que fazer a transformação da indústria, isso criaria um problema”, diz.

“Não teremos investimento para mudar nossa fábrica, a cadeia de fornecedores não vai ter o tempo de se ajustar e não teremos tempo de requalificar a mão-de-obra”.

Aposta em diferentes rotas para descarbonização

Atualmente, o Brasil está distante dessa rota. Com a oferta interna de etanol e de outros biocombustíveis — como o biometano –, a campeã nacional é a bioenergia, por mais que propostas para restringir a fabricação e comercialização de veículos a combustão, volta e meia, apareçam no meio político e até mesmo no mercado.

Na terça (31/5), a Toyota apresentou quatro modelos de veículos para redução das emissões de carbono: híbrido flex, híbrido plug-in, 100% elétrico, e a célula de hidrogênio. Para Rafael Chang, não haverá uma alternativa única para o futuro da descarbonização.

“O propósito não é a tecnologia, mas como tecnologia vai contribuir com esse propósito de descarbonização. Não é fácil dizer qual vai ser a tecnologia. Vai depender muito da natureza do país, da região, matriz energética, infraestrutura, e o próprio consumidor que possivelmente vai escolher uma tecnologia ou outra dependendo do seu uso”, explica o executivo.

“Dentro da Toyota, acreditamos que as soluções que podemos trazer, que podem ser duas ou três ao mesmo tempo, sejam práticas e sustentáveis para os consumidores”, completa.

Sobre qual das tecnologias será a predominante no Brasil, Chang reforça o potencial do etanol.

“No curto prazo não acredito no fim dos motores a combustão.  Eu acho que pelo menos no Brasil, por exemplo,  pelas características do país e pelos consumidores, ainda vamos precisar de motores a combustão interna, ou já combinados com o sistema híbrido”.

Harmonização dos regulamentos

Entre as políticas defendidas pela companhia no Brasil, está a harmonização entre diferentes mecanismos regulatórios que visam a redução das emissões no setor automotivo e de combustíveis.

Atualmente, programas como o Renovabio, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) e o Rota 2030 estipulam diferentes metodologias e aplicações para mensurar a pegada de carbono e outros gases poluentes.

“Esperamos a harmonização desses regulamentos em relação aos combustíveis de baixo carbono (…) É necessário que todos os regulamentos falem a mesma língua”, defendeu Roberto Braun, Diretor de Assuntos Governamentais e Regulamentação da Toyota do Brasil.

Um grupo de trabalho do governo, coordenado pelos Ministérios da Economia (ME) e de Minas e Energia (MME), discute propostas e alternativas para criar uma metodologia para Eficiência Energética Ambiental dentro do programa Combustível do Futuro.

É o que vem sendo chamado de avaliação do poço à roda, isto é, considerar entre as várias rotas tecnológicas a eficiência climática dos veículos, considerando toda a cadeia produtiva da energia, seja elétrica ou combustíveis para motores a combustão, como etanol e híbridos no caso dos veículos leves.

O objetivo é chegar a uma metodologia para calcular duas métricas para medição da eficiência energética e a ambiental, medida carbono por km rodado (gCO₂/km).

“O Proconve hoje em dia está focado nas emissões e não na redução de carbono. Não consideram todo o ciclo, só do escapamento para fora”, pontua Braun.

Segundo ele, enquanto não houver clareza nos regulamentos, os investimentos para descarbonização da frota no Brasil não serão destravados.

“As empresas precisam de segurança jurídica para fazer seus investimentos (…) Precisamos de regras claras para consolidar esse mercado no futuro”, conclui.

Mobilidade elétrica como serviço

Além das tecnologias, a Toyota também acredita em novas maneiras de locomoção e consumo no setor automotivo.

Em 2020, a companhia criou a Kinto, uma empresa de serviços de mobilidade que permite o aluguel de carros por curto tempo ou a gestão de frotas para empresas, por meio de um programa de assinatura.

“Em vez de ter um milhão de pessoas, cada uma delas com um carro, será que o sistema de transporte público junto com um sistema mais eficiente de transporte privado pode ser mais eficiente, é um pouco a transformação que estamos fazendo”, explicou Chang.

No Japão, a empresa começou a construir uma cidade inteligente, perto do Monte Fuji, onde serão testadas tecnologias como direção automatizada, robótica e IA (inteligência artificial).

A Woven City terá três tipos de rua, uma para pedestres, outra para mobilidade individual e outra para automóveis autônomos. Edifícios, pessoas e veículos estarão conectados por sensores e uma base de dados.

* O jornalista viajou a convite da Toyota do Brasil e da White Martins