A ideia da Emenda à Constituição anunciada por Jair Bolsonaro para reduzir os impostos federais e suavizar as oscilações de preço dos combustíveis já foi proposta anteriormente por Henrique Meirelles e também por seu sucessor no Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, que ocupou o cargo no fim de 2018.
O plano, ao menos no papel, é dar as condições para o governo alterar a tributação dos combustíveis em reação aos preços dos mesmos e, assim, compensar o consumidor em momentos de altas com redução da arrecadação.
E, nas baixas, retomar a carga tributária, para capitalizar esse mecanismo de controle de volatilidades.
De olho no ano eleitoral, Bolsonaro já anunciou que o governo pretende zerar os tributos federais sobre os combustíveis.
Para conseguir isso sem a necessidade de compensação, exigida hoje pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o é preciso mudar a Constituição Federal, para tirar os impostos do enquadramento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A estratégia pode incluir também o ICMS, tributo estadual com peso significativo na composição de preço dos combustíveis — e acabar enterrando de vez o projeto de lei complementar do próprio governo que pretendia unificar as alíquotas do ICMS, mas estacionou no Senado.
No governo Temer, chegaram a ser feitas consultas aos estados, que não avançaram.
O uso dos impostos para segurar o preço dos combustíveis na bomba com a criação de um fundo estabilizador foi defendido na campanha de Henrique Meirelles à Presidência em 2018 — atualmente, é secretário de Fazenda de São Paulo e pode contribuir com o plano econômico de João Doria, desafeto político de Bolsonaro.
A política pública partiu de estudos feito pelo Ministério da Fazenda pelo próprio Meirelles durante a greve dos caminhoneiros de 2018, e constou em um documento elaborado por Eduardo Guardia na transição entre os governos de Michel Temer e Bolsonaro.
Foi chamado de Mecanismo Automático de Amortecimento de Preços (MAAP). Previa a criação de uma nova Cide, que substituiria a Cide atual e o PIS/Cofins, com o objetivo de flexibilizar a alíquota com as oscilações do mercado.
Na prática, a proposta estudada por Meirelles no governo Temer deu lugar à criação de um subsídio para o diesel, direto na bomba, para arrefecer a greve dos caminhoneiros que questionavam o repasse diário de flutuações no preço do petróleo para os postos de combustíveis.
Foi feito por meio de uma medida provisória que destinou R$ 9 bilhões para subsidiar o óleo diesel; mais de R$ 6 bilhões foram gastos no fim do programa.
Pode ser o mesmo caminho seguido pela proposta de Jair Bolsonaro, se ela for usada apenas para zerar os impostos e causar perda de arrecadação fiscal para o Executivo.
Dessa vez, via alteração da LRF, já que o governo está impedido de criar uma bolsa combustíveis, em um programa de subvenção, durante o ano eleitoral.
Com o subsídio de Temer, em dezembro de 2018, o diesel teve uma redução de R$0,46 no preço do litro.
O governo também promoveu a redução de R$ 0,16 por litro na alíquota do PIS/Cofins sobre os combustíveis, totalizando um custo estimado de R$ 14,7 bilhões pelo Instituto Fiscal Independente do Senado à época.
Meirelles: problema é câmbio e margem da Petrobras
Já candidato à presidência em 2018, Meirelles propôs a criação de um fundo, também um mecanismo para arrecadar quando o preço do combustível cai e usar os recursos para subsidiar o consumidor, nos ciclos de alta.
Pelas redes sociais, Meirelles defendeu nesta sexta (21) que o problema do aumento do custo dos combustíveis está também no política de preços da Petrobras, alta do dólar e na margem de lucro da petroleira.
O ex-ministro, agora secretário de Dória, tem criticado o cabo de guerra feito por Bolsonaro com os governadores ao tentar colar nos estados a responsabilidade pelo encarecimento dos combustíveis.
Ele entende que o projeto de lei que já tramita no Senado, de autoria do senador Rogério Carvalho (PT/SE), pode ser um bom mecanismo para ajudar a frear os aumentos. Uma das fontes do fundo, nesse projeto, é a taxação de exportações de óleo.
“É um projeto de lei importante, e fui eu que lancei a ideia, em 2018, quando era ministro da Fazenda. Esperamos que ele seja aprovado e entre em vigor, para aliviar a pressão sobre os consumidores brasileiros, já tão massacrados pela inflação”, disse.
Governo vem estudando solução para preços dos combustíveis há dois anos
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse em janeiro de 2020 que o governo pretendia definir a criação de uma ‘reserva’ para amortecer impacto da variação dos combustíveis.
Paulo Guedes, da Economia, já chegou a citar que a antecipação de receitas da PPSA, que comercializa o óleo da União na partilha, poderia ser uma fonte de recurso. O ministro já manifestou diversas vezes o desejo de “privatizar” o óleo da PPSA.
O planejamento inicial de colocar em prática o fundo no primeiro semestre do ano se arrastou até o início do ano eleitoral.
Na época, Albuquerque negou que a proposta pretendia interferir na cobrança de tributos. Foi quando o governo — e especialmente Jair Bolsonaro — começou a sugerir que o principal foco da mudança deveria ser nos estados, com alterações na cobrança do ICMS.
A demora se deu principalmente pela resistência da equipe econômica do governo na criação do fundo.
O político epbr, serviço de notícias exclusivas da epbr para empresas, mostrou durante o último ano que havia dúvida dentro da Economia sobre o custo da operação para o governo e um impacto considerado pequeno no preço final dos combustíveis.
Outra iniciativa estudada pelo Executivo que não avançou foi alterar o período de apuração para composição do Preço médio ponderado ao consumidor final (PMPF).
Atualmente, ele é calculado através de levantamento de preços feito nos postos a cada 15 dias.