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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 10/11/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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As Nações Unidas divulgaram nesta quarta (10) o esboço do documento final (.pdf) da COP26, que traz como uma das principais novidades a menção à extinção do uso de carvão e fim dos subsídios a combustíveis fósseis, tópicos que ficaram de fora do primeiro rascunho do acordo.
“Chamamos as partes a acelerar o fim do uso de carvão e subsídios para combustíveis fósseis”, diz o novo texto, que ainda deverá sofrer diversos ajustes até o final da Conferência sobre as Mudanças Climáticas.
Mesmo sem trazer metas específicas, o parágrafo relativo a combustíveis fósseis deverá sofrer forte rejeição de países dependentes da produção de óleo e gás, como Arábia Saudita, acreditam especialistas.
As discussões de hoje em Glasgow também foram dedicadas ao tema transporte — cuja estratégia de descarbonização passa pela eletrificação e desenvolvimento de novos combustíveis, no caso da aviação e navegação.
Estratégia que vai exigir uma diversidade de soluções de baixo carbono, além de massivos investimentos em infraestrutura.
“Uma mudança radical na infraestrutura de carregamento será necessária para garantir que a ‘ansiedade de alcance’ não afete a demanda crescente por veículos elétricos”, avalia a S&P Global Platts Analytics.
Nesta quarta, governos e fabricantes de veículos assinaram uma declaração para acelerar a transição para carros e vans com 100% de emissão zero.
Os signatários da declaração concordam em pressionar para que todas as vendas de carros e vans novos sejam zero emissões até 2035 para os mercados líderes e 2040 para o resto do mundo.
Quatro das cinco maiores montadoras do mundo — Volkswagen, Toyota, a aliança Renault-Nissan e Hyundai-Kia — ainda não assinaram o documento.
O Brasil também não, embora tenha ido à COP26 com a bandeira dos biocombustíveis.
- O papel dos biocombustíveis na descarbonização brasileira foi tema inclusive de live da Estratégia ESG, com Pietro Mendes, diretor do Ministério de Minas e Energia (MME). Vale assistir
Por aqui, apenas a cidade de São Paulo se comprometeu com o documento. A cidade lançou em junho um Plano de Ação Climática com 43 ações prioritárias para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Análise de instituições ligadas ao clima aponta que um em cada três carros vendidos no mundo serão de emissão zero, a partir desse acordo, impactando até mesmo os países que ainda não assinaram o compromisso.
Segundo o ClimaInfo, isso teria um impacto de mais de 60% nas exportações de carros dos EUA, cujo destino passará agora a ser países e cidades que assumiram o compromisso.
“Os países e empresas que não conseguirem eletrificar rapidamente a fabricação de seus automóveis nesta década perderão sua atual participação no mercado para os concorrentes – um tiro nos pés de seus próprios trabalhadores”, analisa.
Vale destacar: o documento fala em carros com emissão zero, mas não faz menção a rotas tecnológicas como eletrificação ou uso de combustíveis renováveis. Veja aqui quem assina a declaração
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Eletrificação. “Os consumidores estão adotando os veículos elétricos, mas ainda têm reservas em relação à falta de infraestrutura de carregamento”, comenta Anne Robba, gerente de Future Energy Signposts da Platts.
A consultoria projeta que os Estados Unidos, por exemplo, terão 21 milhões de veículos elétricos nas estradas até 2030, o que exigirá entre 1,4 e 2,1 milhões de pontos de recarga nos próximos oito anos.
Hoje, existem apenas 120 mil pontos disponíveis no país.
“Isso descreve a escala de investimento em infraestrutura necessária tanto nos EUA quanto na Europa Ocidental. Em comparação, a China tem 1,04 milhão de pontos de carregamento, que representam a grande maioria dos 1,5 a 2 milhões de pontos públicos disponíveis atualmente em todo o mundo”, completa.
Os 5 principais países com pontos de carregamento em 2021, segundo a Platts, são China (1,04 milhão de pontos), EUA (120 mil), Holanda (66 mil), França (45 mil) e Alemanha (44 mil).
Aviação. Lançada hoje, a International Aviation Climate Ambition Coalition reúne um grupo de países em torno de uma declaração sobre as emissões da aviação.
O objetivo é a maior colaboração entre os governos para definir uma meta ambiciosa de longo prazo para as emissões da aviação internacional na próxima Assembleia da Organização da Aviação Civil Internacional em setembro de 2022.
Também se comprometem a apoiar medidas específicas para reduzir as emissões da aviação, incluindo combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), o esquema de compensação global (Corsia) e novas tecnologias de aeronaves. Veja a declaração na íntegra
Visto como um potencial grande fornecedor de SAF, o Brasil também não assinou a declaração.
Transporte marítimo. Na Declaração de Clydebank, os Estados signatários — mais uma vez o Brasil está fora — declararam sua ambição de apoiar corredores de transporte verdes, isto é, rotas de transporte com emissão zero entre dois portos.
O nome da Declaração de Clydebank presta homenagem ao patrimônio da cidade de Glasgow e do rio Clyde, onde a Declaração foi assinada.
A declaração foi projetada para complementar o trabalho da Organização Marítima Internacional no corte de emissões.
A chave para descarbonizar as frotas marítimas mundiais é encontrar um combustível alternativo razoável que atenda às necessidades dos grandes navios de alto mar.
Metanol, hidrogênio e amônia verdes são as alternativas no horizonte.
De acordo com a S&P Global Platts Analytics, o metanol parece ser um favorito, já que os custos para modificar os motores existentes para metanol são significativamente mais baixos em comparação com a instalação ou modificação dos motores para outros combustíveis alternativos.
A amônia verde também deve desempenhar um papel fundamental, diz Anne Robba, ao viabilizar o comércio global de hidrogênio verde.
“Pode ser usado diretamente, por exemplo, como combustível de navio, ou convertido novamente em hidrogênio e consumido na infraestrutura de gás natural”, explica a gerente da Platts.
Prorrogação de compromissos
O esboço divulgado nesta quarta também inclui novos prazos para que países retornem com novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) na sigla em inglês), mais ambiciosas, até 2022 e 2023, de forma que estejam alinhadas com a manutenção da meta de 1,5 °C.
Sem meta para tirar financiamento climático do papel, o texto acolhe a meta de US$ 100 bilhões para países em desenvolvimento, mas não traz nenhuma pressão para acelerar a entrega. Veja em Esboço da COP26 prorroga entrega de compromissos para atingir meta do Acordo de Paris
Duas notas sobre o Brasil. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou durante a COP26 uma chamada pública para financiamento a projetos de reflorestamento. O anúncio foi feito pelo presidente do banco, Gustavo Montezano.
O objetivo é chegar a R$ 500 milhões investidos no reflorestamento de até 33 mil hectares em diversos biomas. O banco de fomento seria responsável pela metade dos recursos, cobrindo o equivalente de investimentos por empresas.
E a ABNT e a Carbon Trust desenvolveram um sistema de Medição e Certificação da Pegada de Carbono de Produtos, projeto patrocinado pela Embaixada Britânica no Brasil e desenvolvido em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Contempla sete setores: aço, alimentos, alumínio, cimento, tecidos, químicos e vidros.
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