RIO — A Edge defende que a conexão do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP) à malha de gasodutos de transporte seja priorizada no planejamento do setor e pediu à Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para que o projeto seja incluído no Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano (PNIIGB).
Durante a consulta pública do planejamento da EPE, a Edge questionou a necessidade e a urgência do projeto Corredor Pré-Sal Sul, da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) — e que, na visão da comercializadora, concorre com o TRSP enquanto solução de infraestrutura para compensar o declínio do gás boliviano a longo prazo.
A empresa do grupo Cosan tenta destravar a conexão do TRSP para 2026, a tempo de assumir compromissos de fornecimento de gás para termelétricas existentes no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP).
A obra permitirá injetar até 7,5 milhões de m³/dia de gás importado no sistema da NTS.
Edge defende TRSP como alternativa
O Plano Nacional Integrado reúne 13 projetos prioritários para ampliar a oferta de gás e biometano, além de mitigar gargalos e expandir a malha integrada de gasodutos. (entenda o que é o PNIIGB).
- Dentre os projetos está o Corredor Pré-Sal Sul, composto pela duplicação de dois gasodutos (Gasjap e Gascar), duplicação de três estações de compressão e uma nova Ecomp em Piracaia (SP). Um investimento estimado em R$ 7,7 bilhões.
- A Ecomp Japeri (RJ), o primeiro passo para tirar os gargalos da conexão Rio-São Paulo e cuja obra é alvo de um impasse entre NTS e Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é considerada pela EPE um projeto a parte.
A Edge entende que o Plano Integrado carece de análises comparativas e de cenários alternativos ao Corredor Pré-Sal na eliminação do gargalo existente de movimentação entre Rio e São Paulo.
“Desconsiderar o TRSP como uma alternativa de suprimento competitivo no maior mercado de gás brasileiro, além de não apresentar respaldo técnico, traz fragilidade ao PNIIGB proposto”, cita.
A companhia alega que o projeto de conexão do terminal, de 55 metros de extensão, reduz o gargalo existente entre o fluxo do Rio a São Paulo, com baixos custos e rápida implementação, sem necessidade de novos grandes investimentos.
Além disso, sustenta que o projeto está aderente à proposta da ANP de tornar obrigatória a conexão entre plantas de regaseificação e a malha de transporte.
A Edge aponta ainda o risco de o Corredor Pré-Sal se tornar ocioso a partir da primeira metade da próxima década, em razão da queda de produção de gás no Rio de Janeiro.
E cita que a Argentina é uma “alternativa real e iminente” que poderá reduzir significativamente a necessidade de transferência de gás entre as malhas da NTS e Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG)
O projeto de conexão é estimado em R$ 73 milhões, sendo 53 milhões a serem arcados pela NTS e R$ 20 milhões pelo TRSP. Consiste na ramificação da estação de transferência de custódia (ETC) do TRSP até o gasoduto Gasan I.
ANP abre debate sobre conexão
A ANP abriu, até 26/12, um período para envio de comentários e sugestões sobre o sumário do projeto.
As conversas sobre a interconexão correm desde meados do ano passado. A minuta do contrato de conexão, já elaborado pelas partes, está em análise pela ANP, segundo a Edge.
A interconexão permitirá à comercializadora ampliar suas opções de monetização do GNL importado para além do mercado paulista – onde o TRSP se conecta ao gasoduto Subida da Serra, da Comgás.
As tratativas, aliás, seguem em paralelo às rodadas de negociações travadas no Núcleo de Solução Consensual de Conflitos no Supremo Tribunal Federal (STF), onde União, o Estado de São Paulo e a Comgás tentam chegar a um acordo sobre as condicionantes para que o Subida da Serra opere como gasoduto de distribuição.
NTS sugere ajustes nas premissas
Ao defender o Corredor Pré-Sal, a transportadora sugeriu ajustes nas premissas adotadas pela EPE. A companhia considera que o cenário de oferta de gás é mais pessimista que o da estatal na análise sobre a necessidade do Corredor Pré-Sal Sul.
A NTS reforçou, na consulta pública, que a partir de 2030 não é esperada mais a injeção de gás boliviano no Gasbol; e que a previsão de entrada de gás argentino será de 3,1 milhões de m³/dia no horizonte 2026-2035 – insuficiente, portanto, para compensar a interrupção do fluxo da Bolívia.
A NTS também considera a injeção constante de 3,8 milhões de m³/dia da UPGN Caraguatatuba (SP).
Para efeitos de comparação, o PNIIGB parte de uma premissa de importação de 5 milhões de m³/dia da Bolívia em 2035; e a injeção de 10 milhões de m³/dia via Caraguatatuba.
TBG sugere mais uma alternativa
A transportadora cita que não só o Corredor Pré-Sal cumpre com o objetivo de contornar os gargalos atuais entre Rio-São Paulo.
Defende também a eliminação da restrição do escoamento de gás do Terminal Gás Sul (TGS), em Garuva (SC) no sentido até São Paulo.
O TGS tem capacidade de injeção de 15 milhões de m³/dia no Trecho Sul do Gasbol, mas devido ao gargalo existente no trecho até Araucária (PR), o gás fica disponível apenas para atender à demanda nos estados da região Sul.
“Um projeto que considere que possibilite o escoamento do gás do TGS sentido São Paulo, utilizando, como possibilidade o remanejamento de estações do Trecho Norte do Gasbol poderá acrescentar um volume adicional ao sistema de transporte de gás”.
Corredor em etapas
A Petrobras cobra desde meados do ano uma definição sobre o projeto de construção da Ecomp Japeri – o primeiro passo para desengargalar o fluxo entre as malhas da NTS e TBG. A estatal, porém, assume uma postura mais cautelosa em relação à continuidade do Corredor Pré-Sal.
Petrobras e Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) defenderam que o projeto da NTS seja executado gradualmente, em duas fases:
- a primeira para atendimento à demanda firme;
- e uma segunda fase para atendimento à demanda térmica, cuja economicidade deverá ser avaliada tendo em vista a baixa disposição do setor elétrico a remunerar a contratação de transporte em base firme.
A proposta da NTS, aliás, já contempla o faseamento das obras para mitigar o impacto tarifário.
Já a Abrace (grandes consumidores de energia) defende que a EPE adote um cenário mais conservador em suas simulações do comportamento atual da rede.
E que a entrada em operação da Ecomp Japeri – que antecede o Corredor Pré-Sal Sul – seja usada para validar a necessidade da continuidade do investimento.
A entidade destaca que o despacho máximo termoelétrico e de oferta máxima dos terminais de GNL é pouco provável.
- Mercado de gás
- Política energética
- Abrace
- Cosan
- Edge
- Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
- gás natural liquefeito (GNL)
- Gasodutos
- Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP)
- Nova Transportadora do Sudeste (NTS)
- Petrobras
- Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano
- Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP)
