NESTA EDIÇÃO. Demanda projetada para etanol em setores pesados como aviação e transporte marítimo pressiona país a dobrar a produtividade para garantir oferta até 2040.
Ao mesmo tempo, avanço da eletrificação sobre a frota terrestre exigirá 807 mil novas estações de recarga.
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O consumo de etanol no Brasil pode mais do que dobrar até 2040, em meio a uma demanda aquecida em setores que vão além dos veículos leves, projeta um estudo publicado nesta terça (4/11).
Elaborado pela LCA Consultores por encomenda do Instituto MBCBrasil, o relatório (.pdf) aponta que o etanol servirá como insumo para combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), além de abastecer navios, caminhões off-road e máquinas agrícolas.
O que fará a demanda atual, calculada em 33,6 bilhões de litros, saltar para 72,5 bilhões de litros em 2040, em um cenário base de substituição de combustíveis fósseis, podendo alcançar 81,3 bilhões de litros no mesmo período, no cenário alternativo.
Neste último, o estudo considera maior participação do biocombustível na navegação, no lugar do metanol.
A transição dos transportes aéreo e marítimo, onde a eletrificação ainda é inviável, é nova fronteira de biocombustíveis brasileiros, como etanol e biodiesel, para ampliar sua demanda, hoje atrelada ao modal rodoviário.
Uma agenda abraçada pelo governo Lula (PT), que levará à COP30, em Belém (PA), a proposta de um compromisso para quadruplicar produção e consumo de combustíveis sustentáveis até 2035 — incluindo também os derivados de hidrogênio.
Mas suprir esta demanda será desafiador. De acordo com o relatório do MBCBrasil, no caso do etanol, será necessário investir em inovações para dobrar a produtividade da cana de açúcar no período. E sem desmatar.
Mesmo com um crescimento exponencial na produção a partir do milho, a estimativa, para o cenário base, é que a oferta total do biocombustível (cana + milho) alcançará 58,3 bilhões de litros em 2040.
Já no cenário alternativo, considerando o dobro de etanol de primeira geração de cana, e o de milho alcançando 25 bilhões de litros, a oferta pode chegar a 79,6 bilhões de litros no período.
Frota flex e elétrica
Ainda de acordo com o mapeamento, a tecnologia flex segue predominante na frota de veículos leves, mas a eletrificação — a todo vapor em grandes mercados como Europa e China — também é projetada para ganhar as estradas, com um salto na demanda por eletricidade.
Dos 1,135 GWh estimados para 2025, para 44,978 GWh em 2040, considerando ônibus, caminhões e carros. Os veículos leves respondem pela maior parte desse consumo, com 28,767 GWh.
“Espera-se um aumento da participação de híbridos e elétricos no total de veículos leves. Em pesados (ônibus e caminhões), o share de motores de baixo carbono crescerá mais rápido na frota de ônibus”, diz o estudo.
Haja eletroposto. Para abastecer essa nova frota, entre 2025 e 2040, serão necessárias cerca de 807 mil novas estações de recarga.
Um investimento que pode chegar a R$ 24,9 bilhões no período.
Cobrimos por aqui
Curtas
Bio vs. refino. A Petrobras anunciou nesta terça (4/11) que irá fornecer diesel de petróleo coprocessado com óleo vegetal para abastecimento de ônibus e geradores durante a COP30. Acordo firmado com a Organização de Estados Ibero-Americanos prevê o uso de diesel S10 com 10% de conteúdo renovável na frota de ônibus dedicada e nos geradores do evento — vencendo uma disputa com o setor de biodiesel.
Transição na navegação. Para o Porto do Açu, no Norte do estado do Rio, o futuro da descarbonização do transporte marítimo será liderado pelos combustíveis sintéticos produzidos a partir de hidrogênio verde. Neste cenário, biocombustíveis de primeira geração, como etanol e biodiesel, devem desempenhar papel secundário na transição do setor.
- Açu e Porto de Antuérpia-Bruges assinaram uma carta de intenções na segunda (3) para a criação de um corredor marítimo verde entre Brasil e Europa.
Acima de 2ºC. Novo relatório do Pnuma sobre a lacuna de emissões alerta que a nova rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) leva as projeções de aquecimento global para este século entre 2,3 e 2,5 °C, em comparação com os 2,6 a 2,8 °C previstos na edição do ano passado.
Gás do Povo. A comissão mista da MP 1313/2025 confirmou os nomes do senador Nelsinho Trad (PSD/MS) como presidente e do deputado Hugo Leal (PSD/RJ) como relator. O programa substituto do Auxílio Gás vai ampliar o número de famílias beneficiadas de 5,6 milhões para mais de 15 milhões.
GNL no interior do Ceará. A GNLink, distribuidora de gás natural liquefeito em pequena escala, venceu chamada pública da Cegás para fornecimento a cidades do interior do Ceará conectadas à rede de gasodutos da concessionária estadual. Acordo prevê de 79,3 milhões de m³ de gás natural para o polo Crajubar.
M&As aquecidos. O mercado de energia foi o quinto que mais realizou fusões e aquisições nos nove primeiros meses deste ano, segundo a KPMG. Ao todo, foram 34 operações, sendo sete de fundos de investimento.
Renovação da Light. A Aneel deu aval para a renovação do contrato, por 30 anos, na concessão da Light Rio de Janeiro, acompanhando a área técnica. A recomendação de renovação foi unânime, embora o diretor Fernando Mosna tenha votado com base em parâmetros diferentes. A decisão agora cabe ao MME.
Já a Enel São Paulo apontou, nesta terça-feira (4/11), em reunião pública na Aneel, que houve redução de 90% nas interrupções no fornecimento de energia maiores que 24 horas, considerando o intervalo de novembro de 2023 até outubro de 2025. A empresa também diz que adotou ações “concretas e mensuráveis”.
Transição na indústria. A Vallourec South America assinou contrato de autoprodução com Casa dos Ventos, que prevê capacidade de 27 MW médios, por 10 anos, a partir do Complexo Eólico Serra do Tigre, entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. Além de reduzir custos, a empresa de tubulações espera descarbonizar seu consumo elétrico no Brasil. O compromisso do Grupo é reduzir a emissão de CO2 em 30% até 2030.

