Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a mobilidade é muito mais do que o simples ato de se deslocar. Ter um veículo significa facilitar o deslocamento ao trabalho, a escola e serviços essenciais (como saúde e comércio local), além de abrir oportunidades no mercado profissional.
Em muitas cidades, o veículo não representa luxo, mas a única forma de garantir autonomia e atender às necessidades do dia a dia.
Para potencializar e democratizar a mobilidade é necessária uma visão que vá além da compra e venda de automóveis e alcance soluções que ampliem o acesso e facilitem a jornada de quem busca ter um carro próprio.
Mesmo com importantes avanços no transporte público, a infraestrutura ainda enfrenta desafios em grande parte do país, e a disponibilidade dos serviços apresenta limitações, especialmente, no que diz respeito ao acesso de sistemas de mobilidade integrados.
Em 2025, uma pesquisa do programa ONU-Habitat, Colab e Conselho de Arquitetura e Urbanismo apontou que 44% dos brasileiros consideram as condições de deslocamento uma das principais preocupações, especialmente nas regiões metropolitanas.
O aumento da renda média nas últimas décadas ampliou o acesso a bens duráveis, como carros e motos, mas de maneira desigual, reforçando as disparidades.
Nesse contexto, a visão de ciclo de vida do veículo ganha importância.
Um automóvel bem cuidado, com manutenção adequada, tende a ter maior durabilidade, desempenho mais eficiente e menor necessidade de manutenção.
Essas condições, contribuem para que o carro se torne mais eficiente ao longo de todas as fases do seu ciclo de vida e favorece que mais pessoas tenham acesso à mobilidade de forma prática e confiável.
Os benefícios dessa abordagem vão além do aspecto social e também se refletem na sustentabilidade.
Quanto mais tempo um veículo — elétrico ou a combustão — permanece em uso com manutenção adequada, menor é o impacto ambiental de sua fabricação e operação.
Prolongar sua vida útil, garantindo eficiência e segurança ao longo dos anos, é uma das formas mais diretas e eficazes de reduzir emissões e preservar recursos naturais, reforçando a importância de uma boa gestão do ciclo de vida do veículo.
Para que essa visão se torne realidade, é fundamental ampliar o acesso ao veículo por meio de soluções financeiras flexíveis e adaptadas ao contexto brasileiro.
Financiamentos, consórcios e modelos de assinatura têm papel importante na democratização do transporte individual de forma segura e sustentável.
Iniciativas públicas recentes, como investimentos previstos no Novo PAC (que destinam R$ 9,78 bilhões em financiamentos para o setor, incluindo recursos para frotas de ônibus elétricos e veículos Euro 6), reforçam o movimento em direção a soluções de mobilidade mais modernas e responsáveis.
Historicamente, o Brasil utilizou isenções tributárias para estimular a compra de veículos, mas nem sempre essas medidas resultaram em democratização real. Por isso, políticas públicas e iniciativas privadas devem atuar juntas para criar um ecossistema em que o carro seja mais que um produto e torne-se um serviço de mobilidade.
Isso inclui fortalecer a rede de manutenção acessível, estimular mercados de veículos usados mais seguros e transparentes e, conscientizar os consumidores sobre a importância da manutenção preventiva para prolongar a vida útil dos automóveis e torná-los mais sustentáveis.
Potencializar e democratizar a mobilidade não significa aumentar o número de carros as ruas, mas aproveitar ao máximo cada veículo existente para que cumpram sua jornada de forma otimizada.
Essa abordagem amplia o acesso ao transporte confiável, reduz o desperdício de recursos e impulsiona uma economia mais circular.
Ao adotar a perspectiva de ciclo de vida, investimos não apenas em veículos, mas também em comunidades e em um futuro em que a mobilidade efetiva e de qualidade seja acessível a todos os brasileiros.
Luis Fabiano Alves Penteado é diretor de Pessoas, Jurídico e Relações Governamentais da Volkswagen Financial Services Brasil. Ingressou no Grupo Volkswagen em 2003, tendo passado pelas áreas fiscal e tributária da companhia. É membro dos comitês Executivo e de ESG e Sustentabilidade da VWFS. Bacharel em Direito, tem especializações pela FGV e Mackenzie.
