diálogos da transição

Corrida verde une montadora e indústria de biocombustíveis

Rota Sustentável fará teste comparativo de emissões a partir da substituição de diesel em veículos pesados, enquanto cruza o Brasil rumo à COP30

Mercedes-Benz e Be8 vão cruzar o país com veículos usando novo biocombustível (Foto: Divulgação)
Ônibus da Mercedes-Benz usados no teste de emissões da Rota Sustentável (Foto: Divulgação)

NESTA EDIÇÃO. Mercedes-Benz e Be8 vão cruzar o país com ônibus e caminhão abastecidos com 100% de biocombustível, rumo à COP30.
 
Objetivo é medir a contribuição climática de produto capaz de substituir o diesel de petróleo a custo mais competitivo que seu concorrente drop-in.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Dois caminhões e dois ônibus Mercedes-Benz partiram da usina da Be8 em Passo Fundo (RS) na última segunda (20/10) rumo a Belém (PA) com uma missão: mostrar qual o impacto da substituição total do diesel fóssil por biocombustível nas emissões de gases de efeito estufa.
 
Chamada Rota Sustentável, a iniciativa sinaliza uma mudança de paradigma nas relações entre fabricantes de veículos pesados e produtores de biodiesel.
 
A indústria de caminhões, que num passado não muito distante demonstrou resistência aos aumentos de mistura do combustível renovável no diesel, tem adotado uma postura proativa em busca de soluções para mitigar seu impacto climático.
 
Exemplos disso são as recentes autorizações da ANP para testes com biodiesel em adições muito superiores aos 15% obrigatórios hoje. Uma delas inclusive para a montadora alemã.
 
A companhia, que também tem iniciativas para eletrificação de ônibus no Brasil, enxerga um futuro multissoluções para o setor de transportes nacional, onde os biocombustíveis terão relevância. 
 
“A Mercedes-Benz acredita que o melhor caminho é o das multissoluções”, disse a jornalistas o diretor de relações institucionais e comunicação da Mercedes-Benz, Luiz Carlos Moraes, durante apresentação da iniciativa.
 
“Sabemos que as realidades sobre infraestrutura nos diversos países, legislações regionais e a própria maturidade de cada mercado são aspectos que naturalmente levam ao desenvolvimento de variadas alternativas”, observa. 
 
No Brasil, políticas como o Combustível do Futuro e Mover reforçam a escolha do país por fortalecer a cadeia de biocombustíveis, com mandatos para etanol, biodiesel, diesel verde e biometano.
 
Segundo Moraes, a Mercedes já tem motores compatíveis com o uso de 20% de biodiesel, antecipando os limites previstos no Combustível do Futuro.
 
“Nossa matriz energética nos permite ainda mais flexibilidade com o uso de biocombustíveis”, defende o executivo. 



A Rota Sustentável fará um teste comparativo de emissões. Um caminhão abastecido com diesel B15 (como é vendido nos postos) e um ônibus com o mesmo combustível irão percorrer cerca de 4 mil quilômetros, de norte a sul do país, junto com seus pares abastecidos com 100% de um biocombustível patenteado em 2023 pela Be8 como BeVant.
 
O Instituto Mauá é o responsável pelo balanço de emissões do percurso, comparando os combustíveis com metodologias “do poço à roda” e ”do tanque à roda”. 
 
Seguindo padrões do Protocolo GHG, ISO 14064, RenovaBio e ISCC, o instituto vai calcular o percentual de redução de emissões e toneladas de CO2 equivalente que deixaram de ser emitidas.
 
O primeiro resultado parcial do teste comparativo foi divulgado na quinta (23) na primeira parada simbólica do percurso, na sede da Mercedes em São Bernardo do Campo (SP).
 
Com a substituição total do diesel, as emissões foram 99% menores quando calculadas do tanque à roda (contabiliza apenas a emissão veicular), e 65% na análise do poço à roda (considera também o processo produtivo). 
 
Segundo Erasmo Battistella, presidente da Be8, na contabilidade do poço à roda, os ganhos só não foram maiores porque o diesel já conta com 15% de biodiesel.

Os veículos passarão por nove estados (RS, SC, PR, SP, MG, GO, DF, TO, MA e PA) com destino à capital paraense, onde ocorre, em novembro, a 30ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP30).
 
A próxima parada será Brasília (DF), no dia 30 de outubro, para apresentação ao presidente Lula (PT). A chegada à sede da COP30 está programada para 5 de novembro, véspera da Cúpula de Líderes.
 
A estratégia busca mostrar os benefícios ambientais do novo biocombustível, mas também financeiros. 
 
Exclusivo da companhia, o Be8 BeVant utiliza biodiesel como matéria-prima, mas tem a característica drop-in do diesel verde (HVO), o que permite sua comercialização imediata a preços mais competitivos que o HVO.
 
“As duas características principais do BeVant são, primeiro, substituir 100% do diesel em qualquer motor diesel. Segundo, está disponível para ser utilizado agora e com um custo condizente a transição energética para países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil e de todos os países da América Latina”, defende Battistella.
 
*A jornalista viajou a São Bernardo do Campo (SP) a convite e com despesas pagas pela Mercedes-Benz


Petrobras avança sobre Foz do Amazonas. A petroleira pediu ao Ibama para perfurar outros três poços no bloco FZA-M-49. Além do poço Morpho, pede a perfuração dos poços Manga, Maracujá e Marolo, com profundidades entre 2.760 e 3.007 metros, e distância da costa variando entre 169 km e 179 km.
 
Dependência fóssil. O presidente Lula (PT) afirmou, nesta sexta-feira (24/10), que considera muito fácil pregar o fim dos combustíveis fósseis, mas que atualmente nenhum país tem condições de se “libertar” deles. A declaração vai na contramão de um dos objetivos climáticos globais, às vésperas da COP30.
 
Petroleira condenada por greenwashing. Um tribunal civil francês ordenou que a TotalEnergies remova de seu site todas as declarações sobre neutralidade de carbono e transição energética consideradas enganosas. (Reuters)

  • A corte entendeu que a petroleira enganou consumidores em uma campanha publicitária de 2021, alegando que poderia se tornar neutra em carbono até 2050. É a primeira aplicação da lei francesa de greenwashing a uma empresa de energia.

Biodiesel no leilão das térmicas. O MME publicou nesta sexta (24/10) as diretrizes do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP), marcado para março de 2026, com dois certames. O primeiro é voltado à ampliação de hidrelétricas e termelétricas existentes a gás natural e carvão, além de usinas novas a gás. O segundo vai contratar térmicas existentes a óleo combustível, óleo diesel e biodiesel.
 
Clima extremo. A diretora da Aneel Agnes da Costa afirmou, nesta sexta-feira (24/10), que a nova regulação de resiliência das redes a eventos climáticos aprovada esta semana cria incentivos econômicos para que as distribuidoras invistam em prevenção e adaptação. Ela participou do segundo dia dos diálogos da transição, na sede da Firjan no Rio, produzidos pelo estúdio eixos.
 
Captura de carbono em risco. A Amazônia deixará de capturar 2,94 bilhões de toneladas de carbono até 2030, se os governos de países amazônicos aplicarem pouco ou nenhum controle sobre o desmatamento no bioma, aponta levantamento da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG). A análise considera Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. (Agência Brasil)

O Brasil está pronto para liderar a indústria do hidrogênio verde? O que está em jogo não é apenas um novo setor econômico, mas a oportunidade de construir um futuro mais sustentável e justo para todos, escreve Fernanda Delgado
 
Renováveis em transição É imprescindível acelerar expansão da transmissão e aprimorar mecanismos de gestão da demanda, escreve Sasha Sampaio
 
Programa Nacional de Energia Geotérmica: oportunidade de geração de energia limpa e perene Progeo pode alçar o Brasil a patamares disruptivos em energias renováveis, escrevem Paulo Henrique Gulelmo Souza, Suzana Borschiver e Alexandre Szklo
 
Construindo solidez financeira no mercado livre de energia Investimentos em marca e desenvolvimento de novos produtos são essenciais com a abertura do mercado, escreve Yasmine Ghazi

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