Equinor vai destinar metade dos novos investimentos para renováveis

Plano foca em alta rentabilidade do óleo no offshore para pagar pela transição

Anders Opedal, CEO da Equinor: empresa vai destinar metade dos novos investimentos para renováveis

Em atualização do seu plano de transição, a Equinor anunciou que vai destinar 50% ou mais de sua alocação bruta de capital para a geração de energia de fontes renováveis ou soluções de baixo carbono.

Hoje, o segmento ocupa 4% do portfólio de investimento da companhia e o objetivo é atingir 50% em 2030.

A atualização do plano para atingir a neutralidade de carbono em 2050, com oferta de energia limpa e abatimento de emissões, foi anunciada nesta terça (15).

Com foco na viabilidade financeira do plano, o anúncio prevê a manutenção de investimentos em óleo e gás, em ativos de alta rentabilidade.

Nesta década, os novos projetos atingem o ponto de equilíbrio (break even), em média, com barril a US$ 35 ou menos, diz a empresa. Veja os detalhes (em inglês).

Isso deve gerar um fluxo de caixa livre da ordem de US$ 45 bilhões até 2026, necessários para sustentar investimentos em renováveis de US$ 23 bilhões neste primeiro ciclo de investimento, que visa a atingir entre 12 GW e 16 GW de capacidade de geração até 2030 (líquida para a Equinor).

“Esta é uma estratégia para criar valor como líder na transição de energia”, afirma Anders Opedal, presidente e CEO da Equinor, em nota.

O retorno médio sobre o capital empregado é estimado em cerca de 12% entre 2021 e 2030, informou a companhia.

“Estamos otimizando nosso portfólio de petróleo e gás para proporcionar um fluxo de caixa e retornos ainda mais fortes com emissões reduzidas da produção, e esperamos um crescimento lucrativo significativo dentro das energias renováveis e soluções de baixo carbono”, afirma Opedal.

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Transição global lenta, com desafios para sustentabilidade

A décima edição do Energy Perspectives da Equinor apontou que a transição energética caminha a passos lentos para cumprir Acordo de Paris.

Em entrevista à epbr, em março, Eirik Wærness, economista-chefe da Equinor, afirmou que financiar a transição é um dos principais desafios para superar gargalos na transição energética das companhias de óleo e gás.

“[Precisamos] tornar sérios os mecanismos financeiros que nos permitem garantir que as economias emergentes possam continuar a crescer e cumprir suas aspirações de desenvolvimento sustentável, enquanto se movem na direção certa em termos de emissões relacionadas à energia”, diz.

“Isso tem a ver com os mecanismos de financiamento do Acordo de Paris e tem a ver com o mundo industrializado pagando o verdadeiro custo do nosso consumo”, afirma.

O economista destaca que as soluções precisam começar a surgir imediatamente.

“Temos que começar a nos mover na direção certa agora, mesmo que talvez a gente não chegue lá, mas nós temos que fazer o melhor o mais rápido possível”, afirma Wærness.

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Roteiro para a neutralidade

A Equinor estabeleceu metas intermediárias para atingir a neutralidade de carbono nos escopos 1 e 2 (emissões diretas e indiretas de suas operações) e escopo 3 (relativa a sua participação dos produtos vendidos) até 2050.

2025-2026

  • Atingir 30% da alocação bruta de capital em renováveis e baixo carbono em 2025, com 4 GW a 6 GW de capacidade renovável em 2026, incluindo a participação líquida da companhia nos projetos e a sociedade com a Scatec (energia solar).
  • Intensidade de carbono de 8 kg de CO2 por barril de óleo e gás equivalente (kg CO2/boe) produzido.

2030

  • Elevar a alocação de capital para 50% e a capacidade de geração para 12-16 GW.
  • Atingir 5-10 milhões de toneladas de carbono (CO2) capturadas por ano, por meio da injeção de emissões em reservatórios geológicos.
  • Reduzir a intensidade de emissões da produção de petróleo e gás para 6 kg CO2/boe e eliminar a queima em flare.
  • Neutralizar as emissões do escopo 1 e 2 (CO2 e CH4) com redução de intensidade e compensações, a exemplo do mercado europeu de carbono (EU ETS).
  • Compromissos adicionais de corte de emissões na Noruega.

2035

  • Elevar a captura geológica de carbono para 15-30 milhões de toneladas de CO2;
  • Estabelecer polos industriais de hidrogênio verde.
  • Reduzir a intensidade de carbono dos escopos 1, 2 e 3 em 40% em relação a 2019;

2040-2050

  • Reduzir as emissões absolutas na Noruega em 70%, em relação a 2005, em 2040. Se aproximar de emissões absolutas zero no país em 2050.
  • Neutralizar as emissões e atingir 100% de redução da intensidade de carbono em relação a 2019.
  • Reduzir as emissões marítimas 50% globalmente em relação a 2008 – escopo 1 e 2 para operações offshore de perfuração e manutenção (floteis) e escopo 3 de todas as embarcações contratadas.

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Foco da Equinor é no offshore

A empresa vai focar no offshore, com uma presença importante no Mar do Norte da Noruega, sede da companhia. Por lá, desenvolve projetos de óleo e gás, voltados ao suprimento de energia para Europa e expande a sua capacidade de geração a partir de eólicas offshore.

Também estão no Mar do Norte os primeiros projetos de captura de carbono, baseado na reinjeção de CO2 na plataforma continental norueguesa (NCS).

O Brasil ainda não aparece com destaque nos planos da companhia como um futuro mercado para eólicas offshore.

O crescimento da capacidade instalada por aqui é baseado em projetos em terra. A companhia tem uma sociedade com a Scatec para desenvolvimento de usinas solares e já iniciou a produção de um parque no Brasil, de 700 MW de capacidade total.

A Equinor iniciou o licenciamento no Ibama dos parques eólicos offshore Aracatu I e Aracatu II, com 4 GW, sendo 2 GW em cada um e possibilidade de ampliação para 2,33 GW. O plano é instalar o primeiro parque eólico no litoral do Rio de Janeiro e o segundo, entre os estados do Rio e do Espírito Santo.

Há discussões, contudo, sobre qual será o marco regulatório ou legal, se for decidido no Congresso Nacional.

Por enquanto a expansão das eólicas offshore no plano da Equinor miram os EUA e a Europa.

Junto com o anúncio do aumento da geração de energia renovável, a companhia decidiu elevar em 20% o pagamento de dividendos por ação no segundo trimestre de 2021.

Além de um programa anual de recompra de ações de US$ 1,2 bilhão a partir de 2022, em substituição ao anterior, de US$ 5 bilhões no total anunciado em 2019 e cancelado em março de 2020, em decorrência da pandemia de covid-19.

“O objetivo do programa de recompra de ações é reduzir o capital acionário emitido da companhia”, diz.

O governo da Noruega participa da recompra de ações.

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