Expansão fóssil

Estudo aponta que Petrobras é responsável por 29% do crescimento do upstream na América Latina

Relatório internacional lista grandes bancos estrangeiros como financiadores de combustível fóssil na América Latina e Caribe

Fachada da sede da Petrobras (Edise), no centro do Rio de Janeiro (Foto André Motta de Souza/Agência Petrobras)
Fachada da sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro (Foto André Motta de Souza/Agência Petrobras)

BRASÍLIA — A Petrobras foi apontada, em relatório sobre o “caminho do dinheiro” em empreendimentos de energia fóssil, como responsável por 29% da expansão do upstream na América Latina e Caribe entre 2022 e 2024.

A brasileira tem 7,4 bilhões de barris de óleo equivalente em desenvolvimento, um volume 3,7 vezes maior que o da segunda colocada, a norte-americana ExxonMobil.

Intitulado “o rastro do dinheiro por trás da expansão dos combustíveis fósseis na América Latina e Caribe”, o estudo aponta o Brasil como principal motor dessa expansão, sobretudo pela possibilidade do início da exploração na Margem Equatorial, dado o avanço no processo de licenciamento do poço FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas.

De acordo com o relatório, empresas nacionais e internacionais estão se preparando para colocar em produção 25 bilhões de barris de petróleo equivalente na região.

A estimativa é que a queima desses recursos liberaria 10 bilhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, o que representa 7,7% do orçamento de carbono restante para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

O estudo aponta contradição entre a retórica climática do governo federal e as ações da petroleira, da qual a União é acionista majoritária.

“As pessoas no Brasil querem energia limpa e um meio ambiente saudável, mas nossa empresa estatal de petróleo continua presa no mundo da energia suja de ontem”, critica Sara Ribeiro, da Arayara, uma das organizações co-autoras do relatório.

Para a ambientalista, a transição da Petrobras está restrita a campanhas publicitárias.

Novas fronteiras

A rota para a expansão da produção escolhida pela Petrobras está na produção em águas ultraprofundas, classificada pelos autores do estudo como “arriscada tecnicamente”.

“Impressionantes 93% da expansão planejada pela empresa está vinculada à perfuração em profundidades superiores a 1.500 metros”, diz o relatório.

O texto pontua que a licença ambiental para a perfuração de poço na Foz do Amazonas tem mais de dez anos e atribui o recente avanço à pressão política, incluindo críticas do presidente Lula (PT) à atuação do Ibama.

Segundo dados levantados pelo ClimaInfo, o Fundo Clima, financiado pela exploração de óleo e gás, destinou menos de 0,1% de seus recursos para a transição energética entre 2018 e 2025.

O relatório aponta, entretanto, que o PAC destinou 65% dos US$ 128 bilhões para o setor energético voltados para energia de origem fóssil.

O que diz a Petrobras

Em resposta, a companhia reiterou à eixos que “tem investido fortemente em tecnologias inovadoras de baixo carbono, mitigando suas emissões e focando em ganhos de eficiência”.

Segundo a petroleira, hoje o petróleo produzido no pré-sal brasileiro tem 40% menos emissões do que a média mundial.

Como resultado dos processos de descarbonização, a empresa cita a redução de 40% em suas emissões absolutas entre 2015 e 2024, o que representa três vezes o setor de aviação brasileiro.

O destaque está nos 70% de emissões de metano, que contribuíram para o resultado acumulado.

As medidas de mitigação integram o Programa Carbono Neutro, visando net zero até 2050, a partir da interação de ações de descarbonização das operações de upstream e downstream.

“O programa foi criado com o objetivo de fortalecer a atuação da empresa em baixo carbono, acelerar e reduzir custos das soluções para descarbonização”, diz em nota.

Entre os exemplos de oportunidades de abatimento e remoção de CO2, a petroleira cita a Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS) e as Soluções Baseadas na Natureza (SBN).

E lista ações como o Restaura Amazônia, Floresta Viva, ProFLoresta+ e o Fundo Petrobras de Bioeconomia, todas iniciativas socioambientais. Também elencou a descarbonização por meio dos combustíveis, com o diesel coprocessado (R5), biobunker (VLS B24).

“Para o Plano de Negócios 25-29, a Petrobras prevê US$ 4,3 bilhões de investimentos para bioprodutos, com destaque para etanol, biorrefino, biodiesel e biometano. Em relação aos investimentos em renováveis, cabe destacar que foram alocados US$ 5,7 bilhões no PN 25-29 para energias de baixo carbono”, continua a nota.

Financiamento estrangeiro

O banco espanhol Santander é o maior financiador de combustíveis fósseis na América Latina. Segundo o estudo, destinou US$ 9,9 bilhões entre 2022 e 2024, seguido por gigantes como JPMorgan Chase (US$ 8,1 bilhões) e Citigroup (US$ 7,9 bilhões).

O Santander também foi um dos cinco bancos a conceder empréstimo para o gasoduto Vaca Muerta Oil Sur, na Argentina que, segundo a coalizão de organizações ambientalistas, ameaça o Golfo San Matías, um santuário de baleias.

O relatório aponta que 290 bancos financiaram projetos voltados a combustíveis fósseis na região. Bancos latinoamericanos foram responsáveis por apenas 8%.

A expansão é bancada majoritariamente por bancos estrangeiros, que forneceram cerca de 92% do financiamento para o setor. Os Estados Unidos lideram, com 25% do total, seguidos por Canadá (14%) e Espanha (11%).

Situação nos outros países

No México, a Pemex é apontada como destino de bilhões de dólares em socorro estatal enquanto o país sofre com apagões.

Na Argentina, o estudo cita o desmantelamento da legislação ambiental para destravar projetos de Vaca Muerta, uma das maiores reservas mundiais de gás de xisto, cuja exploração consumiria 11,4% do orçamento de carbono para cumprir com as metas do Acordo de Paris.

Para os autores do estudo, a ExxonMobil tem um contrato “unilateral” com o governo da Guiana, deixando o país com apenas 12,5% dos lucros.

No Equador, são elencados retrocessos, como o descumprimento do resultado do referendo que determinou o fim da exploração do Parque Nacional Yasuní. O documento acusa o governo de Daniel Naboa de trair o resultado da vontade popular ao apresentar um plano de US$ 47 bilhões para o setor.

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