Liquid Gas Week

Fim da exclusividade no enchimento de botijões tira incentivo para requalificação de embalagens, diz FGV

Proposta está na reforma regulatória do GLP da ANP; professor acredita que mudança pode trazer riscos ao consumidor

O fim da exclusividade das distribuidoras de gás liquefeito de petróleo (GLP) no enchimento de botijões reduz o incentivo das empresas para requalificar a embalagem, disse o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Ragazzo, em entrevista ao estúdio eixos, durante a Liquid Gas Week 2025, no Rio de Janeiro.

A mudança foi proposta pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na reforma regulatória do segmento.

“Quando você retira essa estrutura de incentivo, fica difícil para a empresa se apropriar do investimento que fez. Isso leva a um cenário de deterioração dos botijões. Só que isso acontece no longo prazo”, disse Ragazzo.

Segundo o professor, com isso, a segurança do consumidor é colocada em risco. Ele citou o exemplo do Paraguai, onde os botijões são muito precários.

A proposta da ANP inclui, ainda, a recarga fracionada dos botijões de uso doméstico. Um dos principais questionamentos às mudanças é o risco à segurança dos botijões — tema no qual o Brasil é referência internacional.

A ANP argumenta que a reforma auxilia a entrada de novos agentes no mercado ao romper com a exigência de quantidade mínima de vasilhames de marca própria, mas Ragazzo considera que a proposta pode levar à sonegação fiscal, à entrada do crime organizado nesse mercado e à adulteração do produto.

“Quando não tem garantias de apropriação dos investimentos, os players entram e tentam criar cenários de oportunismo”, disse.

“Qual o incentivo que ele tem para reportar os dados que a ANP gostaria para demonstrar que, de fato, ele deveria ou não deveria ser requalificado? Muito baixo, muito difícil de fiscalizar, muito complexo. Você pode conseguir passar a ter o acesso ao GLP, dado que você não tem essa limitação na ponta, via roubo de caminhão”, completou.

Confira outros temas da entrevista

  • Programa Gás do Povo e pobreza energética;
  • Desafios logísticos e necessidade de importação;
  • Pobreza energética como desafio global;
  • Estratégias de convencimento sobre o uso do GLP e mudança de comportamento da população com relação ao uso da lenha;
  • Logística e infraestrutura para atender a demanda.


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