Opinião

Acordo global para a eliminação da poluição por plásticos: um desafio necessário

Tratado da ONU tende a criar diretrizes e estímulos para inovação, inclusão social e novos modelos de negócio na cadeia dos plásticos, escreve Jorge Soto

Jorge Soto é diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem (Foto Divulgação)
Jorge Soto é diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem (Foto Divulgação)

Novos caminhos em direção a um desenvolvimento mais sustentável para a indústria, e o planeta, estão em vias de serem traçados diante da proximidade da conclusão do Acordo Global para a Eliminação da Poluição por Plásticos, conduzido pelo Comitê Intergovernamental de Negociação das Nações Unidas (INC/ONU). 

E isso significa haver forte possibilidade de uma verdadeira redefinição na economia circular dos plásticos, com estímulo para toda a cadeia produtiva de materiais reciclados, para o design de produtos plásticos e a promoção da efetiva transição justa dos trabalhadores informais do segmento.  

Como petroquímica global que desenvolve soluções sustentáveis da química e do plástico, a Braskem acredita que o acordo será uma oportunidade histórica para acelerar principalmente a transição rumo à economia circular, de modo a endereçar a problemática dos resíduos plásticos no mundo. 

Ao estabelecer diretrizes internacionais para o uso e descarte de plásticos, o tratado tende a proporcionar um ambiente regulatório estável para a produção de políticas públicas coordenadas, capazes de incentivar companhias de toda a cadeia a investirem em tecnologias limpas, materiais com conteúdo reciclado e no desenvolvimento de produtos de consumo que facilitem a circularidade desde o projeto. 

Mas o desafio vai além. A potencial última rodada de negociação do acordo, que ocorre neste momento, em Genebra, contará ainda com a necessidade de produzir um documento ancorado em evidências científicas, sem abordagens meramente ideológicas. 

A ciência estimula a inovação e o avanço tecnológico, de modo a incentivar o desenvolvimento de critérios de design, os processos de reciclagem mais eficientes e os modelos de negócio mais sustentáveis, incluindo a respectiva viabilidade econômica.

São tais fatores que fortalecerão a legitimidade e a eficácia das ações propostas, o que promoverá soluções duradouras e amplamente aceitas pela comunidade internacional.

Outro aspecto inegociável do acordo será o respeito às diferentes circunstâncias dos países. Um caminho eficaz para isso será a construção de um tratado que estabeleça metas comuns, mas permita haver flexibilidade na velocidade e no caminho a ser adotado por cada nação, tendo sempre em mente a importância da cooperação internacional.

Uma estratégia bem definida fortalecerá a infraestrutura de coleta e a reciclagem, além de incentivar a demanda por produtos mais circulares e, dessa forma, impulsionar novos modelos de negócios mais circulares.

A direção tomada pode se transformar também em um verdadeiro vetor de desenvolvimento sustentável pelo lado social, caso haja a integração adequada de trabalhadores informais, como os catadores, às cadeias de valor.

Entendemos que, longe de frear o setor produtivo, o acordo pode funcionar como um catalisador para a inovação, de modo a viabilizar investimentos em novos materiais, tecnologias limpas e produtos com design mais inteligente.

A Braskem, por exemplo, já atua com soluções biobased, a partir da cana de açúcar, além de possuir um portfólio completo com mais de 55 grades de resinas e produtos químicos com conteúdo reciclado, o que evidencia que há, sim, espaço para o protagonismo brasileiro nesta agenda.

Inclusive, o Brasil tem tido um papel inspirador, como é de praxe da diplomacia brasileira, e fundamental para o consenso dos países rumo a conclusão das negociações.

O caminho rumo a uma economia circular de verdade exige corresponsabilidade, diálogo e visão de longo prazo.

O Acordo Global para a Eliminação da Poluição por Plásticos pode ser o ponto de virada e funcionar como um catalisador de transformações no consumo e na cadeia produtiva, desde que seja implementado com flexibilidade, apoio técnico e financiamento adequado. Ou seja, com pés na realidade e olhos no futuro.


Jorge Soto é diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem e integra a companhia há mais de 30 anos. É formado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com mestrado em Engenharia Química e doutorado em Planejamento Ambiental, ambos pela Coppe — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Inscreva-se em nossas newsletters

Fique bem-informado sobre energia todos os dias