O filósofo Sócrates ainda é uma das cabeças responsáveis por sustentar as ideias e pensamentos do mundo ocidental. Ele nos ensinou que “as opiniões não são verdades, pois não resistem ao diálogo crítico”. E ao se debruçar sobre o conceito de verdade, trouxe lições sobre o que chamamos hoje de “ecos de crença”.
A bem da verdade, esse termo foi cravado por um estudo do Boston College. Segundo a tese, esses ecos ocorrem quando alguém sabe que uma notícia é falsa, mas forma sua opinião de acordo com a informação falsa mesmo assim.
É o que estamos vendo no debate sobre a derrubada dos vetos da lei das eólicas offshore. Um grupo de associações, entidades, federações, entre outros, pediu a principal consultoria do setor elétrico um estudo sobre os impactos da medida para os consumidores de energia.
O resultado corroborou o estudo prévio feito pelos técnicos de todos os grupos que tinham avaliado a medida: caso os jabutis fossem derrubados pelo Congresso, os consumidores brasileiros teriam um aumento de 9% na conta de energia, um acréscimo de R$ 545 bilhões, pagos pela indústria, pelos consumidores residências e todo mundo que consome energia.
O Congresso decidiu derrubar parte dos vetos, assumindo o risco de trazer um custo extra de R$ 197 bilhões para a sociedade brasileira.
Decidiu obrigar o consumidor brasileiro a comprar energia de pequenas centrais hidrelétricas, as PCHs, de uma usina a hidrogênio, além de prorrogar por mais 20 anos contratos de fontes renováveis. Essa é uma decisão legítima. O Congresso tem essa prerrogativa.
O problema é quando um agente não assume sua decisão e desqualifica as opiniões técnicas.
No caso da derrubada dos vetos, a articulação foi além. Os beneficiados correram para conseguir um estudo que corroborasse as opiniões dos políticos e garantisse que seus privilégios fossem atendidos com a narrativa das opiniões, não dos dados técnicos reais.
E esse debate veio carregado de autoridade moral, com palavras ao vento e imposição de ideias.
O discurso aceitaria a tese que os jabutis são necessários para a segurança no sistema. E que o custo extra para os consumidores também seria necessário, por conta da necessidade de um sistema mais seguro.
Ao inverter a informação básica dos estudos técnicos e alardear que a decisão não aumentará os custos, esses atores deram um tiro no pé, já que de tão absurdas, grande parte da mídia e das entidades organizadas do setor se levantaram contra as falácias. Conheça a verdade e elas vos libertará.
Se os jabutis não trarão mais custo, se fosse uma energia competitiva, por que a contratação obrigatória? Se é tão bom e barato, por que precisa de incentivo? Por que insistimos em cavar um buraco que está nos deixando cada vez menos competitivos e deixando a nossa sociedade cada vez mais desigual?
As estratégias e lobbies republicanos são legítimos e podem ser confrontados dentro de um limite entre razoabilidade e tecnicidade.
Não podemos mais travar essas batalhas, seja no Congresso, na imprensa ou em qualquer debate público, com inverdades técnicas e discurso apelativo, apenas para beneficiar quem se acha ungido e que merece ser privilegiado acima do bem comum.
Ganharia o Brasil e o setor elétrico se o debate fosse, ao menos, honesto e baseado em informações técnicas.