RIO e BRASÍLIA – O secretário nacional de Transição Energética e Planejamento, Thiago Barral, explicou nesta segunda (2/6) que os reforços na rede de transmissão de energia elétrica voltados à conexão de novos data centers no Brasil acabam por otimizar os custos com infraestrutura para os demais consumidores de energia.
“A intervenção na rede para conectar um empreendimento é uma solução que otimiza os custos para todos os usuários”, explicou o secretário, após participar de um painel do Encontro sobre Transição Energética do Fórum Econômico Mundial, no Rio de Janeiro.
Na quinta (29/5), o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou a emissão de pareceres favoráveis do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para a conexão de dois data centers no Ceará, os primeiros projetos do tipo no Nordeste.
Os data centers estão sendo desenvolvidos pela Casa dos Ventos, e envolvem uma negociação com a Bytedance, dona do Tiktok. Justamente em razão de gargalos na rede de transmissão, o ONS vinha se manifestando contrariamente a projetos intensivos na região, afetando inclusive os projetos de produção de hidrogênio verde.
Os pedidos de conexão passam por uma análise do MME, de mínimo custo global, para avaliação se o custo do reforço na rede – pago por todos os usuários – é, de fato, a solução mais adequada para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
“É da mesma forma que uma planta industrial siderúrgica ou de alumínio ou um novo shopping center: todos eles vão, dependendo do seu consumo, arcar com os custos de contrato de uso da rede. Um data center não tem nada diferente”, explicou.
“Exceto para, eventualmente, algum reforço local. Mas isso entra no ciclo usual de reforços em que a rede é otimizada, não para um agente, mas para um conjunto dos agentes que utilizam o setor”.
Política nacional de data centers valoriza geração limpa
Paralelamente, o governo Lula está finalizando a medida provisória da política nacional de data centers, com incentivos fiscais e regulatórios para atrair investimentos, tendo como uma das contrapartidas o consumo de energia limpa, o que beneficia geradores renováveis na região Nordeste.
O setor atravessa uma crise por falta de demanda e capacidade de escoar a energia renovável gerada na região para atender os centros de carga no Sul e Sudeste. O governo decidiu manter o “limpa” para eventual incluir a geração nuclear, solução que desponta em mercados mais desenvolvidos, como os EUA. Por aqui, a renovável – solar e eólica – saem na frente.
“Sabemos que dois fatores cruciais para o sucesso de uma política de atração de data centers são a rede elétrica – transmissão e distribuição –, e a energia renovável”, diz Barral. “O Brasil tem um pipeline quase inesgotável de oferta de geração renovável”.
Os pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês), por sua vez, oferecem uma geração de energia sem emissões de gases do efeito estufa (GEE) e firme, capazes de atender a demanda dos data centers que é praticamente estável e ininterrupta.
Estão no centro de estratégias de companhias de infraestrutura de dados e big techs no exterior, caso dos EUA.
“Obviamente que é uma solução que não tem o mesmo nível de maturidade tecnológica e comercial – e até regulatória – do que as renováveis que hoje já estão prontas para entrar em operação [no Brasil]”, explicou Barral.
“Mas a energia nuclear faz parte da nossa estratégia energética e nós estamos monitorando de perto a evolução da tecnologia. Por que não, futuramente, ter esse tipo de solução? Hoje, o padrão do mercado tem sido procurar os contratos de energia renovável”, diz.
Rio na corrida por data centers
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), anunciou em abril planos ambiciosos para transformar a cidade no maior hub de data centers da América Latina e ficar entre os dez maiores do mundo. O projeto, da Elea Data Centers, foi batizado de Rio AI City.
Os planos incluem a construção de um campus de inteligência artificial de última geração na região do Parque Olímpico, com capacidade inicial de 1,5 gigawatts até 2027 e expansão para 3 GW até 2032.
Segundo a Elea, o complexo será abastecido exclusivamente por fontes renováveis certificadas e operará sem consumo de água para refrigeração. A empresa já possui um data center (RJO1) em funcionamento.
“O caso específico do Rio ainda está sendo estudado, eles ainda vão apresentar o projeto para nós. Mas, enfim, assim como em São Paulo, Rio Grande do Sul, no Ceará, a gente tem dado bastante atenção”, afirmou Barral, no evento.
“Considerando a escala do projeto que está sendo desenhado aqui, certamente também vai passar pelo Ministério de Minas e Energia. E, onde tiver espaço, vamos acomodar. Onde precisar de reforço, vamos oferecer as alternativas”, conclui.
Escritório ‘tech’ na região portuária
Eduardo Paes fechou nesta segunda (2/6) um acordo para a abertura de um escritório do Fórum Econômico Mundial na cidade para debates sobre a 4ª Revolução Industrial, incluindo transição energética, inteligência artificial e data centers.
O documento que oficializa a parceria foi assinado com a diretora para América Latina do Fórum Econômico Mundial, Marisol Argueta de Barillas, durante o evento na capital fluminense.
“A cidade reúne todos os fatores que tornarão esse projeto um sucesso. Estamos muito confiantes de que o Centro da Quarta Revolução, aqui, trará benefícios à economia, às pessoas e ao planeta”, afirmou Barillas.
O escritório ficará no Porto Maravalley, hub de inovação na região portuária do Rio. Ao todo, a prefeitura vai investir R$ 3 milhões ao longo de três anos no projeto.