Integração regional

Rio Grande do Sul é a 'principal porta de entrada' do gás natural da Argentina, defende ministro

Alexandre Silveira, do MME, faz aceno político ao governador gaúcho, Eduardo Leite, que se filiou ao PSD

Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, se reúne com Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul (Foto Ricardo Botelho/MME)
Ministro do MME, Alexandre Silveira (PSD), se reúne com Eduardo Leite, governador gaúcho (Foto Ricardo Botelho/MME)

BRASÍLIA e RIO – O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), afirmou nesta quinta-feira (22/5) que o Rio Grande do Sul é a “principal porta de entrada” do gás natural importado da Argentina.

Em seu discurso, durante o seminário de integração gasífera regional, realizado pelo MME com autoridades e executivos sul-americanos do setor, Silveira acenou ao governador gaúcho, Eduardo Leite, que se desfiliou do PSDB após 24 anos de partido e agora é correligionário de Silveira no PSD, de Gilberto Kassab.

“O potencial de fornecimento de Vaca Muerta é infinito, e temos uma indústria pujante do lado brasileiro, sedenta por gás natural a preço competitivo”. 

“E o estado do Rio Grande do Sul  desempenha papel fundamental nesse processo. É a principal porta de entrada e corredor logístico para o fluxo do gás argentino. O projeto de conclusão do gasoduto Uruguaiana/Porto Alegre reflete o potencial de demanda de investimento existente”, pontuou.

O uso da infraestrutura existente e ociosa na Bolívia faz do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) a única solução logística viável para a chegada das primeiras importações de gás argentino aos principais centros de consumo do mercado brasileiro.

Mas, à medida que a integração gasífera entre Brasil e Argentina se consolide, será preciso investir em infraestrutura – nos dois países – para aumentar a capacidade de envio da produção de Vaca Muerta, na Patagônia, ao mercado brasileiro.

E aí ressurge a oportunidade para conclusão da integração via Uruguaiana – um projeto iniciado há mais de duas décadas, sem ter sido, de fato, concluído.

Rio Grande do Sul compete com outras rotas

Em 2024, os governos do Brasil e Argentina anunciaram a criação de um grupo de trabalho para estudos conjuntos das alternativas de infraestruturas necessárias para interconectar os gasodutos existentes de cada país. 

As rotas a serem avaliadas incluem:

  • o uso da infraestrutura existente do Gasbol
  • interligação via Uruguaiana
  • a rota pelo Chaco Paraguaio
  • uma nova rota pelo Uruguai até o Rio Grande do Sul
  • e a importação por navios de gás natural liquefeito (GNL)

Hoje, a malha da Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB), em Uruguaiana (RS) é a única conexão direta brasileira à Argentina, mas o gasoduto, inacabado, distribui gás apenas na fronteira, para a UTE Uruguaiana, da Âmbar Energia. 

O gasoduto Uruguaiana–Triunfo, o trecho pendente de conclusão do projeto da TSB, tem cerca de 600 km de extensão e demandará investimentos bilionários. Para sair do papel, demanda hoje a assinatura de contratos de longo prazo de importação que justifiquem a sua conclusão.

O Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG), publicada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em fevereiro, estimou em R$ 6,8 bilhões o projeto – sem considerar investimentos adicionais na duplicação do Gasbol, para superar gargalos na região Sul. 

A EPE estima que um projeto adicional do tipo, como a rota Siderópolis–Porto Alegre, proposta pela estatal, poderia acrescentar mais R$ 2,2 bilhões em investimentos.

Paraguai quer atrair rota para o Chaco

O mesmo estudo da estatal do planejamento energético concluiu que a construção de uma rota de importação de gás natural argentino via Paraguai pode se tornar uma opção mais barata para o Brasil.

A estatal do planejamento energético estima que o gasoduto pelo Chaco Paraguaio demandaria, em território brasileiro, a instalação de um trecho de quase 400 km para ligar o gasoduto paraguaio ao Gasbol, no Mato Grosso do Sul, ao custo de R$ 6,12 bilhões – sem contar, portanto, o investimento em território dos demais países.

  • o gasoduto Porto Murtinho–Campo Grande, trecho brasileiro do gasoduto de interligação entre Argentina e Brasil via Paraguai, teria 392 km de extensão e atravessaria 11 municípios no Mato Grosso do Sul, segundo a EPE.

E estatal reconhece, contudo, que o custo direto na implementação dos projetos não será o único fator a pesar no planejamento da infraestrutura para trazer, a longo prazo, o gás de Vaca Muerta até o Brasil. 

A EPE ressalva que questões como prazos de execução; relações diplomáticas e atração de investimentos entre os países envolvidos; garantia de suprimento; necessidade de melhorias em infraestruturas adjacentes também pesarão na decisão sobre a melhor rota de integração com a Argentina.

“O alinhamento desses diversos fatores, juntamente com o custo, são fundamentais para tomada de decisão final de investimento para a integração gasífera regional”, cita o plano indicativo da EPE.

O Paraguai tenta se posicionar como uma rota alternativa à Bolívia e vem buscando uma aproximação com argentinos e brasileiros para se firmar como uma opção concreta.

Batizado em bandas paraguaias de Gasoducto Bioceánico, o projeto é ambicioso: envolve a construção de mil quilômetros de duto em três países diferentes (Argentina-Paraguai-Brasil).

É, dentre as alternativas para integrar Vaca Muerta ao mercado consumidor brasileiro, a rota de maior quilometragem de infraestrutura nova – e, por isso, tem sido  visto com certo ceticismo por agentes do mercado brasileiro. 

O Paraguai busca atrair investidores para viabilizar essa alternativa, estratégica também para sua própria matriz energética . O país até hoje não possui acesso ao gás e vê, no projeto, um caminho de se integrar ao mercado sul-americano.

Presente no seminário do MME, nesta quinta (22/5), o vice-ministro de Minas e Energia do Paraguai, Mauricio Bejarano, defendeu o projeto como uma solução de “integração energética integral” e destacou que o país está pronto para avançar com o projeto.

“É praticamente nula a dificuldade [de instalação do gasoduto do Chaco]”, disse Bejarano, que citou a intenção do Paraguai de atrair investimentos na produção de fertilizantes nitrogenados e geração de energia competitiva para data centers“, disse.

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