Reta final

Governo fecha detalhes de regime especial para atrair gigantes de data centers

O governo federal está finalizando um marco legal para data centers, mercado com potencial para atrair R$ 2 trilhões em investimentos em dez anos. A proposta prevê a desoneração de investimentos e tem potencial para alavancar consumo de energia limpa.

Secretário do MDIC Uallace Moreira participa de reunião conjunta com Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em 19 de dezembro de 2023 (Foto Gabriel Lemes/MDIC)
Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC, Uallace Moreira (Foto Gabriel Lemes/MDIC)

BRASÍLIA — O governo federal está fechando os detalhes para enviar ao Congresso Nacional uma proposta de criação de um novo marco legal para data centers, visando antecipar investimentos em infraestrutura e reduzir a dependência brasileira por serviços digitais. 

A proposta prevê a desoneração de investimentos sobre aportes de capital (capex) na fase de investimentos. O governo estima que será possível atrair até R$ 2 trilhões em dez anos, além de fomentar a indústria nacional — incluindo o consumo de energia renovável, que atravessa por uma crise por falta de demanda e desequilíbrios no setor.

O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Uallace Moreira, antecipou à agências eixos que a proposta está bem avançada e o presidente Lula (PT) definirá nos próximos dias se o marco legal será enviado ao Congresso por medida provisória ou projeto de lei. 

Essas informações foram antecipadas no eixos pro, serviço exclusivo para empresas da eixos.

Moreira é secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC. O tema é prioridade do governo Lula e está sendo elaborado em conjunto com os ministérios da Fazenda, Minas e Energia (MME) e Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI)

“[Atualmente], 60% da nossa infraestrutura digital roda nos Estados Unidos, gerando um déficit na balança comercial de serviços muito grande. Um dos grandes desafios é atrair investimentos para que boa parte da nossa infraestrutura digital seja rodada internamente”, explica Moreira.

O diagnóstico do governo é que a indústria nacional vai se beneficiar da demanda por insumos, como os robustos sistemas de refrigeração e o alto consumo por energia necessária para rodar os supercomputadores.

Apesar das altas tarifas que chegam para os consumidores residenciais, a energia gerada no Brasil é mais competitiva em contratos no mercado livre para grandes consumidores industriais. 

O New Energy Outlook 2025, publicado pela BloombergNEF na terça (15/4), estima que 4,5% da demanda global de energia projetada para 2035 e 8,7% em 2050 será destinada para aos serviços de inteligência artificial.

Eles demandam grandes cargas de processamento no treinamento de modelos (LLMs, na sigla em inglês) e para rodar os serviços, como o ChatGPT (OpenIA) e Gemini (Google).

Para dar conta desse consumo acelerado de eletricidade em meio à crescente digitalização da economia — e o avanço das aplicações de inteligência artificial — cerca de 362 gigawatts (GW) precisarão ser instalados nos próximos dez anos.

“Nosso déficit na balança [comercial de serviços] gira em torno de 6 a 7 bilhões de dólares. Além disso, imagine se tiver qualquer problema de ordem geopolítica, sendo que apenas 40% da infraestrutura está no Brasil?”, afirma Moreira.

O que esperar da desoneração para data center

O Programa Nacional de Atração de Data Centers inclui a criação de um regime especial, que está sendo chamado de Redata, voltado à desoneração de impostos federais É uma política análoga ao Rehidro, criado em 2024 para produção e consumo de hidrogênio de baixo carbono. 

O incentivo inclui a desoneração do imposto de importação para produtos sem similar nacional, além de PIS/Pasep, Cofins e IPI.

Com isso, serão estabelecidas contrapartidas, como a destinação de parte da capacidade de processamento para atendimento à demanda doméstica. Na mesa, estão critérios de sustentabilidade, que envolvem o uso de energia, mas também de recursos hídricos.

As distribuidoras de gás do Nordeste — Potigás, Bahiagás, Algás, Cegás, Copergás, PBGás e Sergás — enviaram este mês uma carta conjunta ao Ministério de Minas e Energia (MME) solicitando a inclusão do gás natural e do biometano na política, a fim de evitar que os subsídios tenham como pré-requisito a geração exclusivamente a partir de solar e eólica.

Também estão sendo estudadas medidas específicas para instalação em Zonas de Processamento de Exportação (ZPE), o que já desonera as indústrias, mas voltada ao mercado externo. Neste ponto, a proposta é criar uma destinação obrigatória de recursos para o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT).

Inspiração no Mover

Uallace Moreira faz um paralelo com programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), criado para a indústria automotiva para suceder o Rota 2030.

“Esse recurso volta para o próprio setor na forma de investimento em pesquisa e desenvolvimento para o adensamento da cadeia produtiva local. Será uma contribuição pequena”.

O Brasil está entre os dez países com instalações dessa infraestrutura digital com 275 centros de dados. Mas o país está muito distante dos EUA (cerca de 3 mil data centers), líder global. 

A carga tributária do setor é estimada em 60% atualmente — incluindo ICMS, que não entrará no pacote de desoneração por ser um imposto estadual. 

A fase de investimentos (capex) representa até 85% dos gastos necessários para instalação de estrutura de centros de dados no país, estimam os ministérios.

A desoneração será oferecida a empresas de data center ou companhias que operam estruturas próprias. É o caso de plataformas de redes sociais, que vêm debatendo o tema com o governo.

Vocações regionais

A vantagem das ZPEs é natural, mas há vocações em outras partes do país, defende o secretário. “Temos pleitos de instalação de data centers em ZPE, [onde] tem uma particularidade, que a desoneração completa. Ela é da infraestrutura, da energia, de tudo. O programa nacional será para a [desoneração] do capex, do investimento na tecnologia”, explica.

Além disso, o secretário avalia que a pulverização dos polos em diversos estados é necessária para evitar elevação no custo de energia para o consumidor residencial.

“Na Flórida [EUA] houve um aumento de 75% no custo de energia por causa da alta concentração de data centers ali. Não podemos correr o risco de ter uma concentração em uma região apenas sobrecarregando a demanda por energia”, considerou.

O Nordeste sobressai como área de atração devido a presença de geradoras de energia eólica e solar, além da presença das zonas de processamento de exportações, a exemplo do Ceará, em Pecém; e a ZPE do Piauí, estado do presidente do Consórcio do Nordeste, Rafael Fonteles (PT). 

As regiões Sul e Sudeste, por sua vez, concentram cerca de 60% dos data centers existentes no país hoje, devido à presença das indústrias de refrigeradores, equipamentos de telecomunicações e componentes de informática.

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