diálogos da transição

O que esperar dos mercados de energia pós-2024?

Eletrificação da economia está transformando o mercado, na medida em que aumenta também a participação renovável na matriz global

Usina solar, com placas enfileiradas em primeiro plano, associada a eólica (turbinas ao fundo) da Shell Energy (Foto: Divulgação)
Geração híbrida solar e eólica | Foto Divulgação Shell Energy

Encerramos mais um ano com esta edição da diálogos da transição. Voltamos no dia 6 de janeiro, para continuar explorando juntas e juntos os caminhos da transição energética e as soluções para um futuro mais sustentável.

Desejo a você boas festas, um ano novo repleto de energia renovada e a inspiração para fazer a diferença em 2024. Até breve!


NESTA EDIÇÃO. Eletrificação da economia está transformando o mercado, na medida em que aumenta também a participação renovável na matriz global.
 
Cenários da S&P Global indicam que emissões devem cair mais rápido na OCDE e China, mas net zero até 2050 vai ficando cada vez mais desafiador.


EDIÇÃO APRESENTADA POR


O ano mais quente já registrado foi marcado por secas severas, incêndios catastróficos e tempestades que deixaram milhares de mortos e desabrigados, a custos de bilhões de dólares no mundo todo – cerca de US$ 6,4 bilhões só no Brasil, segundo o Global Catastrophe Recap Report.
 
Foi também o ano da eleição de Donald Trump para a presidência do segundo maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) com a promessa de abandonar políticas e acordos climáticos e extrair o máximo de petróleo e gás que puder.
 
No Brasil, tivemos um segundo semestre alvissareiro para uma série de novas tecnologias, com a aprovação de marcos legais para hidrogênio, combustíveis sustentáveis e mercado de carbono. Até a eólica offshore foi enviada para sanção nesta quinta (12/12), apesar de carregar junto o peso da obrigação de contratação de térmicas fósseis.
 
E é nesse clima, cada dia mais quente, que nos encaminhamos para 2025, 2035, 2050 com expectativas de mudanças significativas nos mercados de energia.
 
“Apesar da falta de clareza de curto prazo, os cenários de 2024 indicam que a demanda global de energia, a oferta e as tendências comerciais terão sido significativamente e permanentemente remodeladas até 2035”, aponta a S&P Global em seu relatório de cenários para a indústria.
 
Essas transformações serão impulsionadas pelo crescimento da demanda. Do setor de transporte à indústria e edifícios, a eletrificação está acelerando, aponta um relatório (.pdf) de setembro.



Entre 2023 e 2035, as projeções indicam um avanço da demanda global de energia entre 40% e 50% nos cenários conservadores e otimistas, e quase 25% no mais pessimista.
 
“À medida que a eletrificação acelera, também aumentará a penetração de energia renovável em economias desenvolvidas e emergentes. Isso remodelará a demanda por outros combustíveis geradores de eletricidade, principalmente o carvão térmico, que entrará em declínio acentuado em nível global”, observa.
 
A aposta dos analistas da S&P é que nem mesmo o aumento do consumo na Índia (e outros mercados) conseguirá compensar a redução no maior mercado do mundo: a China
 
Em compensação, a demanda por gás para geração de energia permanece resiliente.
 
“Apesar da fraqueza de curto prazo no crescimento da demanda, novos suprimentos de GNL chegando online até meados desta década devem moderar os preços o suficiente para impulsionar o consumo no setor de energia, especialmente em economias emergentes de rápido crescimento”. 

Os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a China tendem a liderar a queda nas emissões globais até 2050.
 
A China, aliás, é um caso à parte. Apesar de ser uma economia dependente de carvão e suas emissões continuarem aumentando, isso está ocorrendo de forma mais lenta, levando os analistas a apostarem em um pico de emissões ainda nesta década.
 
Os Cenários de Energia e Clima do S&P Global Commodity Insights indicam, por outro lado, que os não membros da OCDE devem seguir emitindo mais, enquanto suas atividades econômicas se intensificam e suas populações consomem mais.
 
Além disso, a previsão é que as metas nacionais de zero líquido permaneçam fora de alcance, tanto as definidas para 2050, 2060 (China e Arábia Saudita) ou 2070 (Índia).
 
“A cada ano que passa, o desafio de atingir as metas de zero líquido se torna cada vez mais agudo”, diz o relatório. 
 
Em 2023, reduzir as emissões globais de GEE para aproximadamente 14,6 bilhões de toneladas de CO2e até 2050, significaria uma redução média anual de 4,6% ao ano. Subiu para 4,8% ao ano em 2024 e a projeção é ir para 5% em 2025.

Em 2025, o Brasil vai presidir a cúpula climática da ONU, a COP30, quando se completa uma década desde a assinatura do Acordo de Paris, quando 192 países depositaram suas ambições climáticas para frear o aquecimento do planeta.
 
O objetivo final deve ser limitar que as temperaturas médias ultrapassem 1,5°C até 2100, em comparação com a era pré-combustíveis fósseis. Já ultrapassamos, porém.
 
Não significa que tudo está perdido, mas adiciona dificuldades. A última COP, em Baku, falhou em conseguir um orçamento que faça jus à urgência de investimentos em descarbonização.
 
Sobrou ao Brasil conseguir sensibilizar esse conjunto diverso de economias para apresentarem metas e planos de ação até 2035 que levarão suas economias para o net zero. O governo Lula usou o G20 e pretende usar o Brics para construir uma ponte até as negociações marcadas para novembro em Belém, no Pará.


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