NESTA EDIÇÃO. WEG anuncia R$ 1,8 bilhão para produzir baterias para veículos elétricos em larga escala no Brasil, e cobra garantia de demanda.
Mercadante diz que país deve se preparar para captar investimentos em data centers.
E estudo calcula potencial de incremento do PIB com cadeia de valor do hidrogênio verde.
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O novo ciclo de industrialização do Brasil deve passar por tecnologias de eletrificação e armazenamento de energia em baterias, defendeu nesta quarta (30/10) o diretor de sustentabilidade e relações institucionais da WEG, Daniel Godinho.
O executivo participou do evento de anúncio de investimentos públicos e privados na Missão 3 da Nova Indústria Brasil (NIB). Do total de R$ 1,6 trilhão divulgados hoje, 75% serão da iniciativa privada, em áreas como mobilidade sustentável, moradia, infraestrutura e saneamento básico
“Dois vetores que nós julgamos fundamentais para o sucesso desta missão do NIB são a mobilidade elétrica e os sistemas de armazenamento de energia, o BESS. Com essas duas frentes garantiremos as condições para o desenvolvimento de uma cadeia de baterias no Brasil, o que vai significar segurança energética, independência e também uma grande oportunidade do ponto de vista de política industrial verde”, disse Godinho.
Durante a cerimônia em Brasília, a WEG oficializou um ciclo de investimentos de R$ 1,8 bilhão para produzir baterias para veículos elétricos em larga escala no país.
Originária de Santa Catarina, e com atuação em mais de 130 países, a companhia enxerga no Brasil uma oportunidade para aproveitar as reservas de lítio e alavancar uma cadeia de valor nacional – em linha com os planos do atual governo para a neoindustrialização.
Mas é preciso garantir demanda, pontuou Godinho. No caso da eletrificação da frota, há uma expectativa em torno da aquisição dos 2.400 ônibus elétricos anunciados previstos no novo PAC. Outra, é a ampliação das redes de recarga no Brasil, inclusive com o estabelecimento de corredores sustentáveis, propôs o diretor.
“Na mobilidade elétrica, sempre com o disclaimer necessário de que ela deve andar de mãos dadas com os biocombustíveis, nós já demos um grande passo com o Mover e temos uma oportunidade imensa no curtíssimo prazo, que é de viabilizar uma grande frota de ônibus e caminhões elétricos urbanos”.
O mercado de baterias também está de olho no setor elétrico. Os sistemas de armazenamento têm ganhado cada vez mais espaço como soluções para a intermitência das fontes solar e eólica – que dependem de condições climáticas para gerar eletricidade.
“Os sistemas de armazenamento de energia BESS também contam com fabricação nacional e nós temos a necessidade de viabilizar essa tecnologia, porque ela garante a estabilidade da rede com a maior penetração de eólica e solar. Mais BESS significa mais eólica e mais solar no Brasil”, explicou Godinho.
“O que nós precisamos é antecipar a demanda, antecipar a entrada do BESS nos leilões”, completou.
De olho nos data centers
O país também enxerga em sua matriz elétrica predominantemente renovável um atrativo para a instalação de centros de dados.
“O Brasil vai ter um papel decisivo em data center. As demandas que estão chegando são gigantescas, é muita energia, nós precisamos preparar mão de obra qualificada”, discursou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Dentre o volume de investimentos anunciados no NIB, R$ 100,7 bilhões são relacionados a tecnologias da informação e comunicação (TICs).
“Nós vamos liderar esse processo data center porque nós temos fibra óptica para todos os continentes e temos um papel decisivo nesse serviço da inteligência artificial. A demanda mundial são 300 bilhões de dólares, então, é uma outra frente de expansão relevante [para o Brasil] nas novas tecnologias”, completou Mercadante.
Hidrogênio para incrementar o PIB
Insumo para descarbonizar uma série de indústrias, o hidrogênio verde – obtido a partir da eletrólise com energias renováveis – tem potencial de adicionar R$ 61,5 bilhões ao PIB brasileiro até 2050.
Estudo ainda não publicado pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), enxerga alto potencial nas indústrias de combustível sustentável de aviação (SAF) e siderurgia, que responderiam por 80% do uso do energético em meados do século.
Como a exportação direta do hidrogênio verde é cercada de desafios, as recomendações são para que o Brasil utilize o energético para produzir aço e fertilizantes verdes, por exemplo, e comercializar commodities de maior valor agregado no mercado internacional.
“Não é só um setor novo, porque quando falamos de hidrogênio verde, falamos de muitos produtos, metanol verde, fertilizante verde, e muitos outros. É uma possibilidade para a neoindustrialização do Brasil”, afirmou à agência eixos o diretor do Programa H2Brasil da GIZ, Markus Franke. Leia na matéria de Gabriel Chiappini
Cobrimos por aqui
- Brasil prepara inserção de baterias no sistema a partir de 2029
- EPE vê armazenamento de energia em baterias viável apenas para nichos
- São Paulo planeja expansão de capacidade solar e de biomassa para atender data centers
- Hidrogênio, amônia e data centers vão ampliar consumo de energia elétrica em 37,4 GW até 2037 no Brasil
Curtas
Foz do Amazonas. A diretoria de Licenciamento Ambiental do Ibama emitiu um parecer técnico no qual rejeita a revisão do Plano de Proteção à Fauna (PPAF), apresentado pela Petrobras, e recomenda o indeferimento da licença e o arquivamento do processo de perfuração de poço exploratório na Foz do Amazonas.
Antes da publicação do parecer, a Petrobras mobilizava fornecedores para se preparar para o envio de uma nova sonda para o bloco FZA-M-59. A companhia conta que, dessa vez, conseguirá que o Ibama defina as condicionantes que precisam ser atendidas para viabilizar a emissão da licença, segundo fontes ouvidas pela eixos.
Indígenas contra fósseis. Reconhecidos como populações importantes para o cumprimento da meta de preservar 30% das terras e oceanos do mundo até 2030, os povos indígenas pedem o fim dos combustíveis fósseis. O G9, coalizão de organizações indígenas dos nove países amazônicos, trouxe esta como uma pauta central no momento de seu lançamento na COP16 da Biodiversidade, na Colômbia.
“Enquanto os governos continuam querendo mediar metas insuficientes e financiamentos vazios, queremos anunciar que, a partir de agora, só haverá paz com a Natureza se declararmos abertamente a guerra contra os combustíveis fósseis e qualquer outro projeto predatório que ameaça a vida no planeta”, diz manifesto da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.
Imposto Seletivo. O grupo de trabalho da Comissão de Assuntos Econômicos (GT/CAE) do Senado sobre a regulamentação da reforma tributária compilou sugestões de alteração do projeto de lei complementar 68 (PLP 68), dentre as quais a inclusão dos plásticos de uso único no imposto seletivo (IS) e retirada do petróleo e gás natural do IS. Apenas o carvão mineral usado em térmicas foi mantido.